Refugiados e Ramadão na Sicília
Em Itália, os migrantes recém-chegados estão a cumprir o seu primeiro Ramadão fora de casa. Para muitos, estes é um exercício de aceitação e adaptação aos desafios culturais.
Jejum em terras estrangeiras
Até à data, Itália recebeu 85% da migração informal para a Europa. A maioria dos recém-chegados provém de países islâmicos e, para muitos deles, este é o primeiro Ramadão fora de casa. A cumprir o mês santo no exterior, muitos estão a viver diferenças culturais, ao mesmo tempo que encontram consolo nas instituições muçulmanas existentes como a Mesquita Masjid Ar-Rahmah, na imagem.
Adaptação à Europa
O Ramadão é conhecido pelo jejum nas horas de luz do dia, mas também é um momento para a coesão social nas sociedades muçulmanas. Proveniente da Nigéria, Galdima, de 16 anos, ficou impressionado com os contrastes que encontrou neste novo continente. "O que mais surpreendeu na Europa é que podes ver as mesmas pessoas nas ruas vários meses e não sabes os seus nomes”, afirmou. “É muito estranho”.
Longas horas de jejum
Para muitos muçulmanos novos na Europa, a maior diferença no cumprimento do Ramadão não é tanto cultural, mas geográfica. Uma maior distância ao Equador significa dias maiores no verão, ou seja, um período de jejum mais longo. “Nunca pensei que alguém pudesse fazer jejum das 3 da manhã até às oito horas da noite”, afirma Galadima. “Agora, estou a fazer jejum todo o dia, o que me surpreende”.
Cresce a comunidade do Bangladesh
Os migrantes dos países subsaarianos e da África Oriental chegaram a Itália, tradicionalmente, através de rotas ilegais com partida na Líbia. Em total contraste com as tendências recentes, o número de cidadãos do Bangladesh a recorrer a esta mesma rota tem aumentado, informa o Ministério do Interior italiano.
O Corão em bengali
Em resposta à diversidade de migrantes que têm chegado à Sicília, o imã da Mesquita Masjid Ar-Rahmah tem armazenados nas suas prateleiras várias edições do Corão traduzidas em diversas línguas. “Pessoas de todo o mundo vêm rezar aqui”, afirma Bouchnafa, de descendência marroquina. "Nós conseguimos porque estamos cá todos pela mesma razão”.
Apenas de passagem
"A nossa mesquita está a crescer em número de atendimento, mas a Sicília é um lugar de passagem. Poucos migrantes ficam aqui porque não há trabalho. Eles continuam”, acrescenta Bouchnafa. "Há tantas coisas que queremos fazer para ajudar os migrantes nas suas viagens, mas o tempo é pouco e os meios financeiros também… normalmente, tentamos encontrar um refúgio para os sem-abrigo”.
Choque cultural
“É o Ramadão quando estou na mesquita, mas na rua, é apenas mais um dia”, afirma Khan, um soldador paquistânes com 28 anos de idade que não aparece na fotografia acima. “Esta é uma cultura muito diferente da nossa. A Itália não é um país islâmico. Eu não sou cristão. Mas isso não importa desde que possamos tratar-nos uns aos outros com boas maneiras e respeito”.
Sem tempo de descanso
As lojas tradicionais no sul de Itália fecham para pausa de almoço ou para a chamada “sesta”. No entanto, os proprietários das lojas, provenientes do Bangladesh, têm ganho a vida trabalhando durante todo o dia, mesmo no período do Ramadão. “Ficamos abertos mesmo se estivermos cansados”, afirma Momin Mattubbar, um jovem de 25 anos do Bangladesh chegado há oito meses.
Diferentes gastronomias
Para muitos migrantes, o Ramadão é também sinónimo de determinados pratos tradicionais dos seus países. Cumprir o Ramadão no exterior significa experimentar novas comidas, muitas vezes com resultados mistos. “[Os africanos] utilizam frango e arroz”, explica Ismail Jammeh, mediador cultural. “Eles não sabem o que são almôndegas ou massa. Quando eu cheguei, não gostava de massa”.
Sentimento de solidão
“Nos dias do Ramadão, olhamos para os nossos países e sentimo-nos muito sozinhos”, afirma Mala, uma adolescente chegada recentemente via Líbia. “É o meu primeiro Ramadão sem a minha família. Já estamos stressados por sermos estrangeiros e estarmos num novo país, mas a parte mais difícil é estar sem as nossas famílias”.