Europa paga refugiados para regressarem a casa
20 de fevereiro de 2017No centro de acolhimento e trânsito da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em Agadez, no Níger, muitos migrantes esperam receber apoio no regresso a casa, depois de terem abandonado a travessia do deserto em busca de uma vida melhor. O Níger é um país de trânsito incontornável para refugiados da África Ocidental a caminho da Líbia, rumo à Europa.
Ousseini Djibo, que dirige este acampamento, explica que muitos chegaram à Líbia, mas voltaram para Agadez. "É muito mau. São detidos em campos de prisioneiros do Estado ou privados. Quando conseguem sair de lá, vêm para aqui. Alguns estão feridos, muitos estão traumatizados”, conta Djibo,
Os migrantes deste acampamento querem voltar para casa. Não podem continuar na rota da migração. Sofreram abusos na Líbia ou perderam o trabalho ilegal que tinham na Argélia. É o caso de Moses Mo, de 39 anos, da Libéria. Não conseguia encontrar trabalho no seu país, juntou dinheiro e partiu rumo à Líbia. Chegou à Argélia, onde inicialmente encontrou emprego. Mas o empregador deixou de pagar aos migrantes.
Moses foi detido pela polícia e levado para a fronteira com o Níger. E a viagem chegou ao fim: "No total, gastei mais de mil dólares. Agora não tenho nada. Tiraram-me tudo, incluindo o telemóvel.”
Moses Mo veio para o Centro da Organização Internacional para as Migrações em Agadez, depois de ouvir que aqui poderia encontrar ajuda para regressar à Libéria. Ele está esperançoso: "Acho que eles vão ajudar-me a recomeçar a minha vida. Ajudar-me a sustentar a família.”
Dinheiro ajuda no regresso voluntário
Giuseppe Loprete, chefe da missão da Organização Internacional das Migrações está em Niamey, na capital do Níger. Afirma que, em 2016, a missão ajudou mais de 5 mil pessoas a regressar a casa de forma voluntária, três vezes mais do que em 2015. Em alguns casos, a organização tentou apoiar financeiramente os migrantes nos seus países de origem.
Até agora, o financiamento chegou apenas para alguns projetos-piloto: "Temos um novo contrato de financiamento da União Europeia e esperamos expandir estes programas a 14 países. Os repatriados já estão a caminho, agora temos de nos preocupar com as suas condições de vida nos países de origem.”
100 milhões de euros deverão ser investidos nestes projetos de apoio aos repatriados, principalmente em países da África Ocidental. A Organização Internacional para as Migrações e organizações parceiras estão a tentar promover a formação profissional, o apoio à criação de pequenas empresas e projetos comunitários.
Tal como em Agadez, no centro de trânsito de Niamey estão muitos migrantes que querem voltar para casa. Mas muitos temem este regresso, caso não consigam apoio financeiro: em muitos casos, gastaram todo o dinheiro da família na tentativa de emigrar.
Recursos limitados para a reintegração
A porta-voz da Organização Internacional para as Migrações em Niamey, Monica Chiria, sabe que as expetativas dos repatriados são altas. Mas reconhece que os recursos são limitados para o apoio à reintegração.
Chiria explica que "normalmente, apoiam-se mulheres, crianças, pessoas mais vulneráveis, que têm dificuldades em cuidar de si próprias", e revela os planos da OIM em Niamey: "Este ano, vamos lançar 20 micro-projetos para a reintegração. Isto permite-nos ajudar um grupo maior de pessoas, por exemplo, na agricultura. Cerca de 50 pessoas podem beneficiar de um projeto. Não investimos numa só pessoa. Esperamos que corra bem.”
Muitos repatriados poderão vir a receber apoio. Mas, só em 2016, segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 420 mil pessoas passaram pelo Níger em direção à Argélia e à Líbia.