Refugiados somalis atentos às eleições nos EUA
3 de novembro de 2020Maka Dalal Kabare, mãe de cinco filhos, está entre os milhares de refugiados somalis que vivem atualmente na capital do Quénia, Nairobi. Devia ter-se mudado para os Estados Unidos, mas esses planos foram por água abaixo, no início de 2017, depois de o Presidente Donald Trump ter assinado um decreto a proibir a entrada nos EUA de refugiados de sete países de maioria muçulmana - incluindo a Somália.
"Cumprimos todas as condições prévias de reinstalação, mas fomos separados pela proibição imposta por Trump", disse Kabare à DW. "Já nada me resta".
Alguns dos seus filhos chegaram aos EUA no início de 2016, antes da proibição ter entrado em vigor. Agora, tudo o que Kabare pode fazer é esperar para voltar a ver a sua família.
"Três dos meus filhos foram transportados de avião para os EUA e foram reinstalados", conta. "Os meus outros dois filhos ficaram retidos em Nairobi durante os últimos quatro anos. Até agora, nada nos foi dito".
Said Abukar e a sua família também já deveriam estar a viver nos Estados Unidos. "Passei no processo. Estava apenas à espera da conclusão do meu caso, mas depois foi anunciada a eleição do Presidente Trump e ele anunciou esta política", relatou à DW.
Paciência das famílias a esgotar-se
Refugiados como Kabare passaram os últimos quatro anos neste limbo por causa da decisão de Trump, que ficou conhecida como a "proibição muçulmana".
Alguns refugiados somalis que esperavam conseguir entrar nos EUA vivem em campos nos países vizinhos há já 30 anos. Enquanto muitos ainda sonham em viver um dia nos EUA, para alguns a paciência está a esgotar-se.
Sahra Ali Mohamed preenchia todas as condições para a reinstalação nos EUA antes da entrada em vigor da proibição. Agora, pede à agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) que a realoje noutro país, juntamente com a sua família. Mas o processo está longe de ser simples.
"Até agora, não tivemos resultados", disse à DW. "Nós somos as pessoas que Trump disse que não podiam entrar nos EUA. Nós não somos quenianos. Somos refugiados da Somália".
A pandemia de Covid-19 só veio aumentar a incerteza para muitos refugiados. "A situação aqui é muito difícil e agora o coronavírus tornou tudo mais complicado", diz Sahra Ali Mohamed. "Estamos desempregados. Somos refugiados sem futuro. Por isso pedimos ao ACNUR que reabra o nosso caso ou que nos transfira para outro país", apela.
Trump e Biden: políticas de refugiados muito diferentes
Durante os seus quatro anos de mandato, Trump mudou drasticamente as leis e as políticas pré-existentes relativas aos refugiados e requerentes de asilo. Antes de 2017, os EUA admitiam anualmente mais refugiados do que todos os outros países juntos. Agora, essa estatística caiu 80%, com o Canadá a substituir os EUA como o principal refúgio para aqueles que fogem de conflitos e perseguições.
Donald Trump baixou repetidamente o limite de admissão de refugiados durante a sua presidência. Para 2021, o limite caiu para um mínimo recorde de 15.000.
Em contraste, o candidato democrata Joe Biden diz que aumentará este limite para 125.000 durante o seu primeiro ano de mandato e procurará anular muitas das políticas de migração e reinstalação de Trump. "Reafirmar o compromisso da América com os requerentes de asilo e refugiados" é uma da suas promessas.
Embora um pequeno número de famílias tenha conseguido ir para os EUA nos últimos meses, graças a pequenas lacunas nas leis atuais, Said Abukar diz não ter esperança de que o seu caso seja reaberto se Trump for reeleito.
"Se Trump ficar, não vamos tentar novamente", diz. "Há outros países que estão dispostos a aceitar alguns refugiados. Também sabemos que o mundo mudou e que o coronavírus contribuiu para isso".