Refugiados sudaneses no Chade enfrentam mais dificuldades
10 de julho de 2024São nove da manhã na cidade de Adré, na fronteira do Sudão com o Chade. Montados em cavalos, burros, carroças ou a pé, milhares de sudaneses podem ser vistos a passar por aqui. Fogem da guerra em el-Fasher, a capital do estado de Darfur do Norte, no Sudão, e procuram refúgio no Chade.
Mediha Zenaba Abdoulaye tem cerca de 40 anos. Era mãe de três filhos. Usamos o verbo "era” porque um dos seus filhos morreu no caminho.
"Saí de El-Fasher há uma semana com os meus três filhos. Passámos várias noites sem comer. O meu bebé morreu no caminho. Cheguei com os outros dois que estão doentes. Não temos comida, deixámos tudo para trás. Não sei o que vou fazer aqui, sem dinheiro. Estamos a pedir ajuda", relata.
Após vários dias de caminhada, Medina estava visivelmente cansada. No local, as condições de vida são deploráveis em vários campos. Falta alimentos para os refugiados que chegam e também não há habitação.
As crianças, particularmente, estão vulneráveis a uma série de doenças, como as infeções respiratórias agudas, o sarampo e a sarna - além da desnutrição grave.
Ajuda alimentar urgente
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede mais ajuda alimentar de emergência para as dezenas de milhares de refugiados sudaneses e crianças gravemente subnutridas nesta cidade.
Abdoulaye Doungouss está aqui há seis meses, vindo de el-Geneina, a capital do Darfur Ocidental. E só espera uma coisa: o fim dos combates no Sudão. "Acho que os dois lados em conflito deviam ter pena de nós e acabar com esta guerra", diz.
As organizações humanitárias no Chade anteveem um grande aumento no número de refugiados se a cidade de el-Fasher for tomada pelas forças do general Hemetti.
"A comunidade internacional tem de estar consciente de que, sem apoio financeiro e atenção política, a situação pode deteriorar-se.Todos os dias, apercebemo-nos de que há 10 000 ou mais pessoas em fuga e que precisam de assistência", diz Patrick Youssef, diretor regional de África do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
O Gabinete da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários diz que, apenas nos últimos três meses, cercade 143.000 pessoas foram deslocadas em el-Fasher.
A guerra civil sudanesa eclodiu devido a divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar - agora declarado organização terrorista - nas Forças Armadas. Uma situação que provocou o descarrilamento da transição aberta em 2019, após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir.
A guerra no Sudão já deixou entre 30 mil e 150 mil mortos, segundo diferentes estimativas. Ao todo, provocou o deslocamento interno e externo de mais de 10 milhões de pessoas, tornando este país vítima da pior crise de deslocados de todo o planeta.