RENAMO desconfia das promessas do Governo de Moçambique
17 de julho de 2014Para o maior partido da oposição, a detenção mal justificada de António Muchanga, membro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Conselho de Estado, é um indício preocupante.
Há algum tempo que o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) tem vindo a convidar o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, a abadonar o seu refúgio na Serra da Gorongosa. Ainda esta semana, o apelo foi repetido à imprensa pelo porta-voz do Presidente Armando Guebuza, Edson Macuácua. Segundo as suas declarações, o Estado iria sempre assumir as suas responsabilidades quanto à segurança do líder da RENAMO.
Por seu lado, Afonso Dhlakama tem manifestado interesse em sair da Serra da Gorongosa. Mas o certo é que, até hoje, o candidato à Presidência continua escondido em parte incerta.
Oferta de segurança do Governo é um paradoxo
Para Ivone Soares, membro da RENAMO e relatora da Comissão de Ética Parlamentar, o convite do Governo é paradoxal. Isto porque as Forças Armadas e de Defesa de Moçambique mantêm o cerco a Dhlakama. E a recente retirada da imunidade, e posterior detenção sem justificação clara, de António Muchanga, porta-voz de Dhlakama e conselheiro de Estado do lado da RENAMO, só veio afastar ainda mais as partes do objetivo comum que é trazer Dhlakama a Maputo, afirma: “Neste momento, o porta-voz do Presidente da República faz estas declarações, dizendo que há cobertura para o presidente Dhlakama poder andar livremente pelo país.
Mas se a FRELIMO consegue prender um conselheiro de Estado nas condições em que prendeu o senhor conselheiro António Muchanga, que garantias é que a RENAMO e o nosso presidente, Afonso Dhlakama, têm, que o encontro com o Presidente da República, Armado Guebuza, não seria mais uma armadilha para assassinarem o presidente Dhlakama? Os níveis de desconfiança, infelizmente, estão muito altos.
Receios de que Dhlakama possa ser preso
Em termos hierárquicos e lógicos, diz Soares, António Muchanga obedece às ordens de Afonso Dhlakama, pelo que se depreende que o líder da RENAMO poderia ser igualmente preso pelos seus discursos incendiários. É esta a acusação levantada pelo Governo contra Muchanga.
O maior partido da oposição acusa também, repetidamente, o Governo, de querer matar Afonso Dhlakama. Para a RENAMO, comportamentos como o cerco ao seu líder e ataques levados a cabo na região onde ele supostamente se encontra, justificam estas suspeitas.
Já no que toca o impasse e a demora no desfecho das negociações para o fim da crise político-militar, Ivone Soares aguarda um resultado satisfatório e acredita igualmente que o impasse nas negociações sobre a composição das Forças Armadas, nas quais a RENAMO pretende 50% dos efectivos, será ultrapassado: “Eu estou otimista. Acredito que nós moçambicanos teremos capacidade de resolver, mais uma vez, este impasse, à semelhança da serenidade que se encontrou para resolver o impasse concernente ao pacote legislativo eleitoral”.
Bom senso precisa-se
Ivone Soares mantém que, no final, o bom senso vai imperar, e que, “vamos ter todas as condições criadas, tanto de segurança para os candidatos, principalmente para o candidato que neste momento é o líder do maior partido da oposição, e que está cercado pelo exército moçambicano. Acreditamos que este cerco vai cessar. E que ele vai poder fazer a sua campanha com liberdade, assim como a estão a fazer com liberdade os outros candidatos. E que não haverá obstrução à atividade política.
Resta saber de que forma será possível desbloquear as negociações e garantir a livre circulação de Afonso Dhlakama, já que nem as partes em conflito, nem os facilitadores nacionais que medeiam na questão até agora obtiveram resultados. O analista político Silvério Ronguane diz que a solução passa por dois pontos: “Primeiro deve haver um cessar fogo geral. O que garante já, de imediato, a segurança de ambos. É evidente que havendo esse cessar-fogo, haveria automaticamente a presença dos observadores internacionais. Seria mais uma garantia de segurança”. O segundo ponto, na opinião de Ronguane, é que, a exemplo do que aconteceu antes das eleições de 1994,”o cessar fogo seja seguido por uma amnistia geral”.