Afastamento de Venâncio Mondlane tem "motivações políticas"?
21 de agosto de 2018A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) apelou esta terça-feira (21.08) à Comissão Nacional de Eleições (CNE) para não contrariar os feitos alcançados na busca da paz. E também pede que os órgãos eleitorais não continuem a ser fonte de conflitos em períodos eleitorais.
O posicionamento do principal partido da oposição moçambicana surge depois do afastamento, na noite de segunda-feira (20.08), do cabeça de lista da RENAMO pela cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, às eleições autárquicas de 10 de outubro. A Comissão Nacional de Eleições (CNE) alegou irregularidades na candidatura, na sequência da impugnação solicitada pelo seu antigo partido. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) considera a candidatura ilegal, porque Mondlane renunciou ao mandato na Assembleia Municipal de Maputo em 2015.
Para o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, o chumbo de Venâncio Mondlane "tem motivações políticas", porque "a RENAMO é muito forte na cidade de Maputo". "Isto mete medo ao nosso opositor mais direto. E a única via que tem para parar esta caminhada para a vitória é criar este ambiente de perturbação aos nossos concorrentes", diz José Manteigas.
A RENAMO considera que não faz sentido a rejeição da candidatura de Mondlane, pois o partido seguiu à risca todos os passos exigidos por lei. "Espanta aos moçambicanos a rejeição da candidatura do cidadão Venâncio Mondlane. Este ato da Comissão Nacional de Eleições fere o direito fundamental do referido cidadão de eleger e ser eleito", sublinha o porta-voz.
A RENAMO aguarda agora a notificação da CNE para interpor recurso junto do Conselho Constitucional, "onde serão esgrimidos os competentes argumentos jurídicos e constitucionais".
Apoiantes de Samora Machel Júnior perseguidos
Em Maputo surgem também queixas da AJUDEM, movimento da sociedade civil que concorre às autárquicas. A organização que congrega cidadãos dissidentes da FRELIMO é liderada por Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente de Moçambique independente, que virou costas à FRELIMO para se juntar à AJUDEM.
O movimento denuncia ameaças aos seus membros pelo partido no poder. Segundo o mandatário Zefanias Langa, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) tem estado a coagir alguns membros da AJUDEM a abandonar a corrida eleitoral, sob ameaça de perda de empregos na função pública.
O responsável cita quatro associados a quem terão pedido para renunciar à candidatura à Assembleia Municipal. "Um dos integrantes, de nome Gaspar Marques, funcionário do MITADER [Ministério da Terra e Desenvolvimento Rural], teve de escolher entre perder o seu cargo e manter-se nesta lista", diz Zefanias Langa.
A candidatura de Samora Machel Júnior, que foi afastado internamente pela FRELIMO, foi questionada após quatro integrantes da lista da AJUDEM terem pedido à CNE para retirar os seus nomes da lista, alegando que foram adicionados contra a sua vontade.
A organização garante que todos os seus candidatos à Assembleia Municipal inscreveram-se de livre e espontânea vontade. "Tivemos o cuidado de fazer as cópias de todos os processos dos candidatos ao Conselho Municipal. É estranho quando aparecem com declarações para denegrir a imagem da nossa organização", critica o mandatário.