RENAMO queixa-se de "desorganização" nas províncias
31 de janeiro de 2020Para o secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), André Madjibire, reina a desordem nas províncias com duas figuras no poder: os Secretários de Estado e os Governadores provinciais.
"Há um despacho que diz que o palácio e a escolta é para o Secretário de Estado… Duas semanas depois já não, o palácio e a escolta é para o Governador. Estão a ver isso? É uma desorganização", comentou Madjibire esta sexta-feira (31.01), de visita à província da Zambézia.
"Conflito de competências"
Na sequência do processo de descentralização, os governadores provinciais passaram a ser eleitos e foi criada a figura do Secretário de Estado da província, nomeado pelo Presidente moçambicano. Muitos viram a mudança como uma forma de Maputo continuar a controlar as províncias, caso a oposição vencesse em algumas delas. Mas a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) venceu em todas as províncias nas eleições de 15 de outubro. E agora, de acordo com o secretário-geral da RENAMO, é difícil distinguir as competências de cada um dos cargos.
Madjibire afirma que a FRELIMO deu um tiro no próprio pé: "Eles criaram a figura do Secretário de Estado, porque sabiam que nós íamos ganhar. Era para fazer sombra ao nosso Governador. Agora há uma grande clivagem, um conflito de competências".
Esta semana, a plataforma de observação eleitoral Sala da Paz chamou a atenção para um outro caso de "confusão" entre o Secretário de Estado e o Governador Provincial em Nampula: duas cerimónias oficiais de abertura do ano letivo em dois distritos diferentes, uma dirigida pelo Secretário de Estado e outra pelo Governador. O mesmo aconteceu na província da Zambézia. Só uma sugestão: ao invés de Nampula não podemos citar apenas Zambézia?? Hoje aconteceu o mesmo. O Governador Pio Matos esteve em Nicoadala e a Secretária de Estado Judite Faria esteve na cidade de Mocuba.
Entre "plano" e "dilema"
O secretário-geral da RENAMO está desde quinta-feira (30.01) na província, onde o partido continua a reivindicar vitória nas eleições de outubro.
Madjibire diz que a RENAMO tem de elaborar um plano para resgatar todas as províncias em que teria vencido.
"O verdadeiro vencedor das eleições na província é o [Manuel de] Araújo e o partido RENAMO", sublinha. "Nós temos que desenhar uma estratégia aqui para ganharmos as eleições nas circunstâncias em que o país está… Eles [FRELIMO] usam a polícia… Temos que sentar e [ver] como fazer face a isso."
Questionado pela DW sobre o plano que a RENAMO iria delinear, tendo em conta que os Governadores provinciais da FRELIMO já tomaram posse há duas semanas, Madjibire não deu detalhes.
"Para que uma estratégia tenha sucesso, é necessário que a mesma não seja divulgada", disse apenas.
Segundo o analista político Ricardo Raboco, a RENAMO está "num dilema".
"Os eleitores da RENAMO estão quase cansados de ouvir a mesma música… 'Nós vamos delinear estratégias'… E estas estratégias' nunca são delineadas. Qualquer estratégia vai ser uma estratégia falhada, ou ela será obrigada a violar o Acordo de Paz, e aí o Estado vai agir, porque não haverá uma espécie de amnistia", conclui Raboco.