Aviões franceses sobrevoam RCA à medida que aumentam tensões
9 de janeiro de 2021Aviões de guerra franceses sobrevoaram a República Centro-Africana neste sábado (9.1) pela primeira vez desde uma eleição disputada no mês passado, avançou o porta-voz do Presidente francês, Emmanuel Macron. Segundo a mesma fonte, o voo terá ocorrido a pedido do Presidente Faustin-Archange Touadéra, e com a consentimento da missão de manutenção da paz da ONU no país.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também condenou os recentes atos de violência no país africano durante um telefonema com Touadéra, disse seu gabinete, numa aparente referência a um avanço rebelde que Touadéra e as Nações Unidas dizem ter sido arquitetado pelo ex-presidente François Bozize para impedir a eleição.
França, repetidas intervenções
A França tem um histórico de repetidas intervenções militares na República Centro-Africana, mais recentemente de 2013 a 2016. Os aviões de guerra franceses também haviam sobrevoado a República Centro-Africana quatro dias antes da realização das eleições.
Touadéra foi declarado vencedor da eleição de 27 de dezembro com mais de 50% dos votos expressos em um único turno, e evitou um segundo turno contra qualquer um dos 16 desafiantes. Muitos dos candidatos da oposição exigiram a anulação da eleição e que a votação fosse repetida, citando irregularidades e baixa participação após confrontos violentos.
A comissão eleitoral declarou Touadéra o vencedor. Entretanto, apenas metade dos 1,8 milhões de eleitores elegíveis do país puderam se registar para votar devido à ofensiva rebelde no país africano.
Na última terça-feira (5.1), figuras da oposição no país pediram a anulação das eleições devido a "numerosas irregularidades".
Os rebeldes, que as Nações Unidas e Touadéra dizem ser liderados pelo ex-presidente Bozize, tomaram a quarta maior cidade do país brevemente antes da votação. O líder francês, Emmanuel Macron, por sua vez, reiterou condenação ao ex-presidente Bozize neste sábado (9.1).
Mais de 30 mil forçados a fugir
As tensões na RCA forçaram a fuga de mais de 30 mil pessoas, que deixaram o país devido à violência em torno de suas eleições, disse a ONU na sexta-feira (8.1), e outras dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas internamente.
O ACNUR, a Agência das Nações Unidas para Refugiados, disse que aqueles que deixaram a RCA para os países vizinhos precisam de assistência urgente com água, abrigo, assistência médica e saneamento.
Mais de 24 mil atravessaram a fronteira em direção à República Democrática do Congo (RDC), enquanto quase 4.500 chegaram aos Camarões, outros 2.200 ao Chade e cerca de 70 à República do Congo.
"Desde 15 de dezemebro, dentro da RCA, 185 mil pessoas de pelo menos 25 localidades fugiram, a maioria como medida preventiva, para o mato e para as florestas desde 15 de dezembro", disse o porta-voz da ACNUR, Boris Cheshirkov, aos repórteres em Genebra.
Embora milhares tenham voltado para casa desde então, cerca de 62 mil pessoas continuam deslocadas internamente, acrescentou.
A RCA é uma das nações mais pobres do mundo e tem visto uma série de golpes e guerras desde que conquistou a independência da França em 1960.