Reviravolta na paisagem partidária de Moçambique
29 de dezembro de 2011O enfraquecimento da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) começou com a cisão do partido, que deu origem ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM). De seguida, esta formação conquistou politicamente a cidade da Beira, na província central de Sofala, bastião da Renamo. O maior partido da oposição moçambicana foi obrigado a encontrar outro quartel general, a cidade de Nampula, na província nortenha de Nampula.
Os constantes discursos belicistas de Afonso Dhlakama não atraem simpatias. Afinal, o medo de um retorno da guerra atormenta a população. Numa manifestação de descontentamento contra o governo, a Renamo boicotou as eleições municipais deste ano, dando pontos de bandeja ao MDM. O cientista político Jaime Macuane considera que as mudanças recentes dentro da Renamo se devem ao gorar de expectativas, que visavam o poder, ou, pelo menos, uma posição que “desse algum benefício à máquina partidária pela participação no jogo político como partido da oposição”.
Renamo afirma-se empenhada na democratização
A Renamo nega que as mudanças que atravessa sejam um sinal de enfraquecimento. Pelo contrário, defende que elas são sinónimo de crescimento. A Renamo nega ainda a existência de uma vontade de retorno à guerra e desmente que tenha sido derrotada na Beira. Segundo o porta-voz Fernando Mazanga, o objetivo da Renamo é acabar com as irregularidades perpetradas pelo partido no poder: “O que nós queremos, de facto, é pôr a independência nas mãos dos moçambicanos, porque a independência parece que ficou com as pessoas do partido Frelimo, e não com o povo moçambicano”.
Mazanga diz que as instituições do país têm que obedecer à estrutura multipartidária: “Não aquilo que acontece hoje, com os tribunais obrigados a favorecer o poder, as empresas públicas todas sob controlo do partido no poder e o aparelho do Estado completamente partidarizado”. Para o porta-voz não há dúvida: trata-se de uma série de situações que “minam os princípios basilares da democracia mutipartidária”.
A juventude com o MDM
O partido no poder, por seu lado, tem pela frente uma fase de desafios; para além de querer fazer com que o líder da Renamo abandone os permanentes discursos belicistas e de convocação a manifestações, que o governo quer evitar a todo o custo, tem de fazer frente ao MDM, que o derrotou nas eleições municipais em Quelimane, província central da Zambézia. Além de que o MDM conquista o apoio da juventude consciencializada do país. Pode-se então falar de uma viragem de 180% no xadrez político moçambicano?
O analista Macuane não diria tanto, mas admite que começam a surgir elementos para uma “mudança consistente mas gradual, naquilo que foi até agora a forma de fazer política e também naquilo que vinha sendo a base de apoio da Frelimo”. Para Macuane, a Frelimo tem que despertar para as expectativas originadas pelo discurso do MDM, senão quiser que este partido venha a ser visto como a nova esperança.
As expectativas dos eleitores
Aos poucos, o MDM foi construindo bases sólidas entre o eleitorado, através da sua atuação no parlamento e não só. Derrubar o que resta da Renamo, que hoje é um partido fragilizado e dominado pelo seu presidente, é algo que não aparenta ser difícil. Quanto à Frelimo, o MDM está a roubar-lhe a hegemonia graças ao apoio de gente consciente e formada, cujo número aumenta diariamente, adivinhando-se portanto um processo que poderá ser irreversível. Mas apenas se o partido considerado a "esperança" não se deixar minar por cisões e conflitos internos, à semelhança do que aconteceu com quase todos os outros partidos do país.
Autora: Nádia Issufo
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha