Revista de imprensa: Dois presidentes na RDC, liberdade para líder das FDLR, adeus Cesária!
23 de dezembro de 2011
Depois da sua vitória nas eleições presidenciais de finais de novembro, o presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, foi empossado esta terça feira para um segundo mandato de cinco anos – "as circunstâncias eram duvidosas", diz o Neue Zürcher Zeitung: "neste momento", assim se lê num artigo do dia 21 de dezembro, "ninguém tem a coragem de negar a validade da eleição escandalosa de Kabila".
Os resultados oficiais deram 48,95% dos votos a Joseph Kabila e 32,33% ao seu mais forte opositor, Etienne Tshisekedi. Na semana passada, o Tageszeitung de Berlim lembrava que os resultados alternativos conferiram a vitória a Tshisekedi, com 53%, e a derrota a Kabila, com 26% dos votos. Desde o anúncio dos resultados, Tshisekedi contesta os números e auto-proclamou-se também Presidente da República Democrática do Congo.
No dia da tomada de posse de Joseph Kabila, esta terça-feira, o Frankfurter Allgemeine Zeitung citava o "prémio pela captura de Kabila" que Tshisekedi oferecera antes. A tensão dominou, portanto, as ruas da capital Kinshasa, de acordo com o diário de Frankfurt: desde segunda-feira "circulavam blindados pelas ruas da cidade, as forças de segurança estavam em alerta".
Vários chefes de estado africanos tinham anunciado a sua presença na cerimónia, mas afinal, o presidente zimbabueano, Robert Mugabe, foi o único a comparecer.
Entretanto, a oposição, escreve o Neue Zürcher Zeitung, da Suíça, tem comparado "o escândalo eleitoral na República Democrática do Congo" com o que aconteceu na Costa do Marfim há um ano, "pedindo às Nações Unidas e ao ocidente que recorram a sanções". Mas, assim continua o jornal suíço, a comparação não é viável. Isto, porque "na Costa do Marfim, a ONU teve observadores às eleições e reconheceu os resultados do escrutínio": a derrota de Gbagbo era vista como certa. No Congo, pelo contrário, "não existem provas concretas quanto à derrota de Kabila".
Tribunal Penal Internacional ordena libertação de Mbarushimana
O Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, na Holanda, concluiu que as provas apresentadas pela acusação de Callixte Mbarushimana são insuficientes. De acordo com o Tageszeitung, "uma decisão controversa": o ruandês de 48 anos, um alto funcionário da milícia hutu Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, FDLR, é acusado de crimes contra a humanidade. Segundo a revista Focus, Mbarushimana é acusado de ter sido a "cara pública" das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda. As FDLR agrupam o que resta do exército hutu do Ruanda e de diversas milícias e são consideradas responsáveis pelo genocídio no Ruanda em 1994.
Longe da decisão de Haia, no leste da República Democrática do Congo, representantes das vítimas das FDLR apelaram, domingo, ao TPI para que não libertasse o líder das milícias. Mas a câmara preliminar do tribunal rejeitou o pedido da acusação: como escreve o Tageszeitung, "a câmara não duvida da veracidade dos testemunhos nem de que os acontecimentos, de que Callixte Mbarushimana é acusado, se trate de crimes de guerra". "O que a câmara põe em causa", assim o jornal, "é a ligação de Mbarushimana aos atos". Além disso, para a instância, esses mesmos atos "não constituíram crimes contra a humanidade", diz o Tageszeitung.
Sodade de Cesária
A 27 de agosto deste ano, festejava o seu septuagésimo aniversário; um mês depois punha fim à sua carreira musical a conselho médico. Cesária Évora, a "voz de Cabo Verde" faleceu no passado dia 17 de dezembro, na sua cidade-natal, Mindelo, devido a uma insuficiência cardio-respiratória e tensão cardíaca alta.
Cesária Évora elevara-se há muito ao nível da sul-africana Miriam Makeba e da argentina Mercedes Sosa, lembra o Neue Zürcher Zeitung: por um lado, escreve o jornal de Zurique, "devido à sua característica voz, com a qual cantava músicas que combinavam ritmos da África Ocidental e do Brasil com o fado português", por outro, porque a diva dos pés descalços se apresentava como "lutadora por um mundo melhor". Aliás, já o refere a alcunha, Cesária subia sempre ao palco descalça "em homenagem aos mais pobres na sua terra africana", escreve o Neue Zürcher Zeitung.
O diário Die Welt chama-a de "super estrela da música do mundo"; na sua terra, contudo, assim diz o jornal de Hamburgo, a cantora era muito mais que isso: era "orgulho, modelo, ajuda e esperança". O ministro da cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, citado pelo Die Welt, diz que, para os cabo-verdianos, ela era um "anjo da guarda".
Cesária Évora, a diva, o anjo, a estrela, vai deixar, sem dúvida, sodade.
Autora: Marta Barroso
Edição: Johannes Beck