Ruanda: Kagame reeleito para terceiro mandato de sete anos
5 de agosto de 2017Com mais de 80% dos boletins de votos contados, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, foi reeleito para um terceiro mandato de sete anos, com aproximadamente de 99% dos votos, segundo os resultados parciais divulgados este sábado (05.08) pela comissão eleitoral do país.
"A vitória pertence aos ruandeses que confiaram em mim. Prometo construir as conquistas até agora registadas e transformar o país", afirmou o Presidente reeleito, de 59 anos, sobre a vitória já esperada sobre os rivais pouco conhecidos.
De acordo com os resultados preliminares da votação, os outros dois candidatos presidenciais, o político da oposição Frank Habineza, do Partido Verde Democrático do Ruanda (DGPR), e o independente Phillipe Mpayimana, mal conseguiram juntar um por cento do total de votos.
Eleições
As autoridades eleitorais estimam que pelo menos 97% dos 6,9 milhões de eleitores no país exerceram o seu direito de voto esta sexta-feira (04.08). Isto é mais de um milhão de votantes em relação às eleições de 2010, ano em que Kagame venceu as presidenciais com 93% dos votos.
As eleições desta sexta-feira foram as primeiras em que o opositor Habineza, do DGPR, surgiu como candidato. Antes do pleito, o conselho eleitoral desqualificou umo candidato Diane Rwigara, por supostamente não cumprir os requisitos necessários para concorrer ao cargo de Presidente da República.
Muito antes de os ruandeses participarem das pesquisas de intenção de voto, a vitória de Kagame já era considerada certa. Críticos acusaram o Presidente de minar o processo eleitoral livre.
Os candidatos foram proibidos de colocar cartazes de campanha na maioria dos lugares públicos, e a comissão eleitoral teve que analisar as mensagens dos candidatos, alertando que suas contas nas redes sociais poderiam ser bloqueadas.
Elogios pela governação
Kagame tornou-se o líder do país depois que os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (RPF) interromperam o genocídio de 1994, que estimou que 800 mil tutsis e hutus moderados morreram nas mãos de extremistas hutus. Legisladores nomearam formalmente Kagame como Presidente em 2000. Três anos depois ele seria eleito Presidente pelo voto direto dos cidadãos, numa esmagadora maioria.
Kagame recebeu elogios internacionais por ajudar a reconstruir a economia do país após anos de genocídio. O ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chamou Kagame de "um homem de ação" quando estava no cargo.
"Agradeço o seu compromisso com a educação. E quero agradecer-lhe, Senhor Presidente, pelo seu entendimento de que a melhor forma de desenvolver uma economia é receber a capital privada", afirmou Bush.
Kagame é "um líder visionário", de acordo com uma declaração do ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair.
Além dos elogios dos líderes internacionais, os números parecem estar a favor de Kagame: desde a virada do milênio, a economia do país cresceu cerca de oito por cento ao ano. E, de acordo com um estudo do Banco Mundial, o Ruanda é o segundo lugar mais fácil de fazer negócios em África.
A pobreza está em declínio, 90% da população tem seguro de saúde e as taxas de mortalidade infantil caíram em dois terços desde 1998. Além disso, a corrupção percebida é a mais baixa em comparação com quase todos os outros países africanos. As mulheres compõem metade dos membros do parlamento.
Num discurso televisionado, ele prometeu continuar o crescimento económico do Ruanda depois que os resultados iniciais foram divulgados esta sexta-feira.
"São mais sete anos para cuidar de questões que afetam os ruandeses e garantir que nos tornemos cidadãos que verdadeiramente estão [economicamente] em desenvolvimento", disse Kagame.
Sistema de opressão
No entanto, críticos e grupos de direitos humanos acusam Kagame de reprimir a oposição política do país, além de sufocar a liberdade de expressão. Ele foi acusado de encarcerar, exilar e até assassinar seus críticos.
O ex-chefe de inteligência de Ruanda, Patrick Karegeya, que havia procurado refúgio na África do Sul, foi encontrado estrangulado em um hotel em 2014.
Nunca foi provado que o Governo estivesse envolvido em seu assassinato, mas poucos dias depois que as notícias de sua morte se quebraram, o presidente Kagame disse: "A traição traz conseqüências".
Duas décadas de ataques muitas vezes mortais contra opositores políticos, jornalistas e ativistas dos direitos sob a liderança de Kagame criaram um "clima de medo" na nação africana, informou a Amnistia Internacional num relatório publicado no mês passado.
Do exílio à presidência
Kagame passou seus anos de formação fora do Ruanda. Pouco antes de o país se tornar independente em 1962, ele fugiu para o vizinho Uganda com sua mãe quando era criança. Sua família pertencia ao grupo étnico tutsi dominante, que tinha sido favorecido pelo poder colonial belga. Temeram a vingança da maioria hutu. No início da década de 1960, os tutsis foram realmente perseguidos e mortos.
Kagame foi criado num campo de refugiados onde desenvolveu um forte senso de justiça e ambição. Seu objetivo era acabar com a liderança hutu no Ruanda, aplicando táticas de guerrilha. Anos mais tarde, o jovem Paul Kagame se juntou à revolução de Yoweri Museveni no Uganda e ajudou a derrubar o ditador ugandense Milton Obote. Museveni tornou-se Presidente – e Kagame tornou-se o chefe do serviço de inteligência.
Havia um grande número de refugiados ruandeses no Uganda. Alguns receberam posições de liderança no Governo de Museveni. Eles fundaram a Frente Patriota de Ruanda (RPF) que tentou enfraquecer o Ruanda com ataques de guerrilha.
Em 1994, a elite hutu provocou o ódio contra a minoria tutsi, foi quando ocorreu o genocídio. Durante três meses, na primavera de 1994, soldados e milícias mataram, saquearam e violaram mulheres e meninas, antes que o RPF assumisse o Ruanda para pôr fim às atrocidades. Em julho daquele ano, Kagame tornou-se pela primeira vez líder do país.
Em 2015, 98% dos ruandeses aprovaram uma reforma constitucional que permitiu que Kagame competisse por um terceiro mandato. A vitória nas urnas este sábado amplia seu tempo no cargo para 17 anos.