Ruanda: Líder da oposição funda novo partido
12 de novembro de 2019Victoire Ingabire, uma das principais figuras da oposição ruandesa, abandonou a presidência da FDU – Forças Democráticas Unificadas, partido que fundou, para criar uma nova formação política: Dalfa Umurunzi - o Grupo de Desenvolvimento e Liberdade para todos. O novo partido ainda não foi legalizado, mas, em entrevista exclusiva à DW, na capital do país, Kigali, Victoire Ingabire afirma que que está "a lutar pela abertura do espaço político ruandês".
A economista e dirigente política passou oito anos na prisão, acusada de minimizar o genocídio que matou 800 mil pessoas no Ruanda em 1994 e de conspirar contra o Estado. Foi detida em 2010, pouco tempo depois de regressar do exílio na Holanda, quando se preparava para apresentar a sua candidatura às eleições presidenciais contra o Presidente Paul Kagame, que governa o país com mão-de-ferro há mais de 25 anos. Em setembro de 2018, foi posta em liberdade sob uma amnistia concedida pelo chefe de Estado ruandês a mais de 2 mil detidos.
Desde então, diz Victoire Ingabire, tem sofrido repetidas intimidações e deixou de ter condições para sustentar a FDU, devido à perseguição política que levou os dirigentes do partido a abandonar o país. "Sim, deixei a FDU, um partido que fundámos em 2006 e que foi legalizado em 2010 para participar nas eleições presidenciais. O processo eleitoral não correu bem e fui detida durante oito anos. Em 2017, os membros do órgão do partido que viviam no Ruanda também foram presos. O que significa que só os dirigentes que estavam fora do país é que podiam manter o partido em ativo. Depois da minha libertação, ainda não tenho autorização para viajar para fora do país", explica.
Ameaças e intimidações continuam
Na impossibilidade de fazer funcionar a direção do partido dentro do país, decidiu-se, de forma unânime, avançar com um novo projeto político: "Concordámos que não poderíamos levar avante a FDU sem condições para fazer reuniões no Ruanda. Decidimos separar-nos e eu criei o meu próprio partido no país, com as pessoas que sofrem intimidação como eu. O que não significa que a perseguição e a intimidação vão parar", ressalva.
O antigo partido da líder da oposição, a FDU, faz parte da plataforma de organizações políticas P5, que o Governo ruandês classifica como terroristas. Há uma investigação policial em curso que levou Ingabire a ser interrogada há duas semanas, sobre um ataque que matou 14 pessoas no início de outubro, junto à fronteira com a República Democrática do Congo. No início deste ano, um relatório da ONU considerou que o P5 tinha um grupo rebelde a operar na RDC.
No entanto, segundo Victoire Ingabire, "a criação do novo partido não tem nada a ver com os interrogatórios" a que foi sujeita. "Estamos a lutar pela abertura do espaço político ruandês. Em troca, recebemos ameaças e intimidações. Sou sempre suspeita quando há um ataque em qualquer sítio, mesmo sabendo que não tenho nada a ver com isso. A luta continua, apesar de saber que não é fácil".
Nesta entrevista à DW, Victoire Ingabire, que foi proibida de concorrer às presidenciais, deixou tudo em aberto quando ao futuro político do novo partido em termos de eventuais coligações partidárias, não excluindo a possibilidade de se aliar ao partido no poder, o FPR.