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PolíticaRuanda

"Ruanda não está a negociar seres humanos"

Lusa
22 de abril de 2022

Presidente ruandês, Paul Kagame, nega que seu país esteja "a negociar seres humanos", nas suas primeiras declarações sobre um plano do Reino Unido para enviar requerentes de asilo para o Ruanda.

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Ruanda vor den Wahlen 2017
O Presidente do Ruanda, Paul Kagame. Foto: picture-alliance/dpa/G. Ehrenzeller

"Não estamos a negociar seres humanos, por favor. Na realidade estamos a ajudar", disse o chefe de Estado do Ruanda, Paul Kagame, num seminário virtual com a Universidade Brown, nos Estados Unidos.

O controverso plano, anunciado na semana passada pelo chefe do executivo britânico, Boris Johnson (Partido Conservador), prevê que Reino Unido transfira para o Ruanda os requerentes de asilo que atravessam o Canal da Mancha, como parte de uma nova estratégia de combate à imigração ilegal e aos grupos criminosos que a apoiam. 

Paul Kagame, que estava numa visita à República do Congo, Jamaica e Barbados quando o acordo foi assinado, disse hoje (22.04) que seria errado pensar que o Ruanda está a receber dinheiro pelos migrantes.

UK Dungeness Migranten erreichen Kanalküste
Uma mulher imigrante e suas criançar chegam à costa do Canal da Mancha (foto de arquivo).Foto: BEN STANSALL/AFP/Getty Images

"Como lidou com a crise da Líbia"

O Presidente ruandês explicou que o Reino Unido abordou o seu país por causa da forma como Kigali lidou com a crise dos migrantes na Líbia.

Disse que, em 2018, quando liderava a União Africana, decidiu oferecer abrigo aos migrantes bloqueados na Líbia quando tentavam chegar à Europa.

Quase mil migrantes foram acolhidos pelo Ruanda desde então, tendo dois terços deles sido realocados em países europeus e no Canadá.

Kagame considerou ter-se tratado de um processo bem-sucedido para o Reino Unido e outros países europeus, que "têm problemas com as migrações".

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Muitos imigrantes tentam atravessar o Canal da Mancha, alguns em barcos infláveis, arriscando suas vidas.Foto: Dan Kitwood/Getty Images

"Ruanda está a ajudar"

O chefe de Estado acrescentou que o Ruanda está a ajudar a lidar com o tráfico de migrantes, sublinhando que Londres quer "uma forma ordeira de identificar as pessoas que aceita e as que rejeita".

Dois partidos da oposição no Ruanda consideraram o acordo "irrealista" e apelaram ao Governo para se focar nos problemas locais em vez de tentar resolver "os fardos dos países ricos".

O plano do Governo britânico passa por reenviar homens solteiros que chegam ao Reino Unido provenientes do outro lado do Canal da Mancha em pequenas embarcações, fazendo-os voar 6.400 quilómetros até ao Ruanda, enquanto os seus pedidos de asilo são processados.

No âmbito do acordo, inspirado nos que se aplicam na Austrália e em Israel, Londres financiará inicialmente o dispositivo no valor de 120 milhões de libras (144 milhões de euros).

O Governo ruandês esclareceu que ofereceria a possibilidade aos migrantes "de se estabelecerem permanentemente no país, se assim o desejarem".

Großbritannien  Dover ANkunft Migranten Küstenwache
Imigrantes chegam ao Reino Unido (foto de arquivo).Foto: Edward Crawford/Zuma/imago images

Críticas

A iniciativa foi criticada pela Igreja anglicana, políticos e pela ONU, através do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que expressou, no dia do anúncio, a sua "forte oposição" ao plano britânico.

Mais de 160 organizações não-governamentais classificaram a medida como "cruel e mesquinha", tendo sido também criticada por alguns deputados conservadores, enquanto o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, a apelidou de "impraticável" e com custos "exorbitantes".

Os migrantes há muito que chegam ao Reino Unido através do norte de França, seja escondidos em camiões ou em ferries, ou - cada vez mais desde que a pandemia de covid-19 fechou outras rotas em 2020 - em jangadas e pequenas embarcações, em travessias organizados por traficantes.

Mais de 28 mil pessoas entraram no Reino Unido em pequenas embarcações no ano passado, contra 8.500 em 2020 e apenas 300 em 2018. O registo de mortes não tem parado de aumentar. 

Os governos britânico e francês trabalharam durante anos para impedir as travessias do canal, sem grande sucesso, trocando frequentemente acusações sobre quem é o culpado do fracasso.

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