Rússia prossegue operação de charme em África
9 de fevereiro de 2023Especialmente na África Ocidental, o sentimento pró-Rússia ganha espaço. Países afetados pela insurgência jihadista veem Moscovo como alternativa perante o afastamento de França.
É o caso do Mali. Esta semana na visita ao país - a segunda a África desde o início do ano -, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, prometeu mais apoio militar.
"No ano passado e no início deste ano, a cooperação nos campos militar e técnico foi mais desenvolvida. Foi enviado um grande lote de equipamento aeronáutico russo, o que permitiu ao Exército Nacional do Mali levar a cabo com sucesso operações contra terroristas", disse o chefe de diplomacia russa.
Ministro continua périplo
Depois de passar também pela Mauritânia, o ministro visita esta quinta-feira (08.02) o Sudão.
Também no Burkina Faso, o crescente apoio a Moscovo é notório após a rutura das relações com França, um parceiro militar de longa data. Os locais culpam os militares franceses pela deterioração da situação de segurança. Os rebeldes controlam agora quase 50% do Burkina Faso.
Oumar Gansonré é comerciante e vende camisolas com estampas do presidente russo, Vladimir Putin. Está entre os que acreditam que a Rússia chegou para "salvar os africanos" e expulsar os extremistas islâmicos.
"A minha mensagem a Putin: quero pedir-lhe que continue a ajudar os africanos, o povo africano em geral. Ele fornece-nos armas contra os terroristas para nos tirar do buraco", comentou.
Operações do grupo Wagner
Relatórios recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) acusam o grupo paramilitar russo Wagner de tortura, execuções sumárias e violência sexual. Alegadamente este privado da segurança terá levado a cabo ataques sangrentos em minas artesanais na fronteira entre o Sudão e a República Centro-Africana.
Mas para muitas pessoas, como em Timbuktu, no Mali, os relatos de violações dos direitos humanos não são tão preocupantes - desde que os terroristas sejam forçados a recuar, tal como defende o ativista Ibrahim Adiawiakoye, que luta pela reconstrução da cidade.
"Os ataques diminuíram significativamente. O país fortaleceu-se militarmente. Fizemos aquisições [de território] e essas aquisições estão a mudar o curso da guerra", disse à DW.
Já no Togo, Kletus Situ, um politólogo que usa o seu blogue para expressar as suas opiniões, é muito mais crítico em relação à influência da Rússia no continente.
"Não encontraremos uma solução se procurarmos substituir um protetor por outro. Para mim, África não precisa de tutela. O que temos de procurar são parceiros, mas parceiros que nos respeitem", defendeu.
Rússia, França, ou os EUA? Para muitos africanos, falar num parceiro certo é mais uma questão de cálculo de custo-benefício. Mas no Burkina Faso, a estratégia está clara: o país precisa de armas para derrotar os insurgentes e por isso, volta-se para a Rússia.