Seca é o desastre natural mais mortífero
Esta segunda feira, 17 de junho, celebra-se o Dia Mundial de Combate à Desertifição e à Seca, criado pela ONU em 1994. Sob o lema "Don't let our future dry up"- em português, "Não deixe o nosso futuro secar" - o organismo internacional apela para o uso sustentável da água e a conservação da terra.
Atualmente, mil milhões de pessoas sofrem com escassez de água e mais de 40% da superficie terrestre no mundo é de desertos e áreas com baixos índices pluviométricos. Yukie Hori, uma das coordenadoras da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), afirma que "as secas são desastres naturais, mas, ao contrário de outros desastres, elas se instalam lentamente. Portanto, elas são previsíveis e podem ser mitigadas".
"No entanto", continua a especialista, "elas afetam mais vidas que qualquer outro desastre - mais que terremotos e furacões juntos. Com as mudanças climáticas, as secas devem aumentar em intensidade, frequência e extensão. Somente um país no mundo tem uma ampla política nacional para a seca".
Angola: seca afeta 2 milhões
Em Angola, uma seca persistente tem assolado há dois anos 10 das 18 províncias do país. A estiagem prolongada atinge principalmente Benguela, Cunene, Huíla e Namibe, no sul de Angola. Na região, muitas famílias vivem da agricultura e pecuária. Falta água e comida para as pessoas e pastagem para os rebanhos. No início do ano, a Cruz Vermelha Internacional alertou que quase dois milhões de angolanos estavam sofrendo com a escassez de alimentos devido à alternância de secas e inundações.
O representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em Angola, Mamoudou Diallo, frisa que esta é "uma zona muito frágil ecologicamente, os ecossistemas são muito frágeis". Por outro lado, afirma, "esta é uma zona com um défice pluviométrico recorrente e os câmbios climáticos no mundo inteiro também têm repercussão no sul de Angola". O representante da FAO ressalta também a importância de se criar um sistema nacional de alerta e resposta rápida, que permita antever as secas.
Migração e abandono escolar são consequências
Em Gambos, município na província de Huíla, o padre Pio Wakussanga tem acompanhado de perto o impacto da estiagem na população local.
De acordo com Wakussanga, a seca tem promovido a migração de jovens para as cidades. "Muitos estão a sair das suas zonas, sobretudo rapazes. Infelizmente, as mulheres que têm filhos têm de ficar lá", conta. "Mas os rapazes", afirma, "estão a procurar nas vilas e cidades algum tipo de trabalho pontual, precário".
Pio Wakussanga afirma ainda que a seca diminuiu a frequência dos alunos nas escolas, além de causar um aumento dos casos de cólera, devido à falta de água potável. Segundo várias fontes, cerca de 900 mil pessoas precisam urgentemente de ajuda alimentar na província de Huíla.