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Segunda volta entre Fonseca e Sousa à vista em Cabo Verde

8 de agosto de 2011

Em Cabo Verde, as eleições presidenciais de 7/8 ditaram uma segunda volta que deverá ser disputada entre Jorge Carlos Fonseca e Manuel Inocêncio Sousa, candidatos apoiados pelos dois maiores partidos políticos do país.

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305 mil eleitores foram convocados às presidenciais que escolhem o quarto dirigente da história de Cabo Verde; na imagem, população na capital, Cidade da Praia
305 mil eleitores foram convocados às presidenciais que escolhem o quarto dirigente da história de Cabo Verde; na imagem, população na capital, Cidade da PraiaFoto: picture-alliance / dpa

Os resultados parciais da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) cabo-verdiana apontavam nesta segunda-feira (8/8) para um segundo turno da eleição presidencial a ser disputado por Jorge Carlos Fonseca, do principal partido da oposição, o liberal MpD, e por Manuel Inocêncio Sousa, do partido socialista PAICV (no poder).

Com 87,9% das assembleias apuradas em Cabo Verde, Fonseca obteve 37% dos votos, contra 33,3% de Sousa. Os dois deverão disputar a segunda volta das eleições no dia 21/8. Nesta data, os eleitores de Cabo Verde escolherão o quarto presidente do país em 36 anos de independência: o sucessor do atual presidente, Pedro Pires (PAICV), que cede a cadeira após dois mandatos.

Em terceiro lugar, ficou Aristides Lima, apoiado por partidos menores (UCID e PTS). Durante a campanha eleitoral, ele também contou com amparo de membros do PAICV – contra a orientação da cúpula do partido. Lima ficou com 26% dos votos. O independente Joaquim Jaime Monteiro obteve cerca de 3 mil votos, totalizando 2%.

Quando faltavam apurar 134 das 1.140 mesas, a taxa de abstenção situava-se em 47%. Diferentes testemunhos confirmados pelo Primeiro ministro José Maria Neves relataram pouca afluência em relação a escrutínios precedentes. Depois de votar, Neves lamentou “que não haja eleitores suficientes”. Também Manuel Inocêncio Sousa sublinhou a fraca afluência às urnas – 305 mil eleitores, tanto em Cabo Verde quanto na diáspora, foram convocados para a eleição que escolhe o novo dirigente do arquipélago considerado modelo de democracia no continente africano.

Jorge Carlos Fonseca, do partido Movimento para a Democracia (MpD, oposição), obteve 37% dos votos
Jorge Carlos Fonseca, do partido Movimento para a Democracia (MpD, oposição), obteve 37% dos votosFoto: Daniel Almeida

Os resultados definitivos deverão ser anunciados até quarta-feira, 10/8. Durante esta segunda-feira (8/8), devido a atrasos no envio dos dados para a base central, os resultados ficaram congelados desde a 00h25 (horário local).

Aristides Lima admite derrota

“Fui o candidato mais votado da primeira volta das eleições presidenciais, e fui pois um vencedor claro”, disse Jorge Carlos Fonseca, após anúncio dos resultados parciais.

“Os resultados eleitorais desta primeira volta das eleições presidenciais mostram claramente que valeu a pena fazer uma campanha para a positiva, com informação, em favor do esclarecimento eleitoral, orientada para a discussão e a resolução dos problemas e desafios que o país enfrenta”, acrescentou Fonseca.

Manuel Inocêncio Sousa, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder), obteve 33% e também irá à segunda volta
Manuel Inocêncio Sousa, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder), obteve 33% e também irá à segunda voltaFoto: Daniel Almeida

Manuel Inocêncio Sousa, o segundo mais votado, felicitou Fonseca por ter passado à segunda volta, e Lima e Monteiro pela “contribuição nas eleições”.

Mesmo sendo o segundo colocado, Manuel Inocêncio Sousa disse considerar-se o vencedor destas eleições. “Fiz o percurso que esperava fazer. Conseguir o crescimento que consegui nas últimas semanas, a partir do [meu] ponto de partida, é para mim um excelente resultado, e é um prenúncio de vitória nestas eleições. Estou na segunda volta”, sorriu.

Aristides Lima, ex-presidente da Assembleia Nacional, alegou inicialmente que havia discrepâncias entre os dados da sua candidatura e os oficiais. Porém, nesta segunda-feira (8/8), admitiu a derrota e deu por concluído o caminho que lhe deu 26% dos votos no escrutínio.

“A minha candidatura a estas eleições chegou ao fim. As batalhas a favor do nosso país e do nosso povo não”, declarou Lima, na sede da candidatura. “Quero apelar a todos os apoiantes e amigos que querem fortalecer o papel dos cidadãos e das organizações da sociedade civil para que continuem sempre, e em todas as circunstâncias, a exercer plenamente a soberania do seu pensamento e a liberdade da escolha em relação ao futuro do nosso país”, afirmou.

O fato de a sua candidatura, “que não contou com o apoio oficial dos principais partidos”, ter alcançado os resultados que conseguiu, “contra ventos e mares de intolerância, desinformação e estigmatização, indica que está a acontecer uma mudança tranquila na sociedade cabo-verdiana em prol da afirmação da cidadania”, acrescentou.

Aristides Lima, independente, admitiu derrota. Ele recebeu 26% dos votos
Aristides Lima, independente, admitiu derrota. Ele recebeu 26% dos votosFoto: Daniel Almeida

Sem perguntas, Aristides Lima não explicou se vai apoiar Manuel Inocêncio na segunda volta, candidato da mesma área política (PAICV).

Já o independente Joaquim Jaime Monteiro disse que os resultados das presidenciais de domingo revelam que “o coitado do povo cabo-verdiano precisa crescer muito para atingir os limiares da democracia”.

Primeiro ministro José Maria Neves pede união do PAICV

Numa conferência de imprensa, um dia depois das presidenciais, o Primeiro ministro cabo-verdiano José Maria Neves considerou ser "fundamental" para o PAICV que "dirigentes, apoiantes e simpatizantes" se unam em torno do candidato Manuel Inocêncio Sousa na segunda volta. Neves, líder do PAICV, apoiou Sousa, o candidato oficial do partido.

José Maria Neves também negou que, face aos resultados de domingo, se tenha "livrado" da "ala conservadora" do PAICV, tacitamente ligada ao presidente cessante, Pedro Pires. Este teria apoiado o terceiro colocado, Aristides Lima, que concorreu como independente.

Segundo a agência Lusa, em causa estão não só Aristides Lima, mas muitos outros dirigentes do PAICV que o apoiaram.

Joaquim Jaime Monteiro, independente, recebeu 2%
Joaquim Jaime Monteiro, independente, recebeu 2%Foto: Daniel Almeida

Diáspora decisiva nas eleições

Segundo analistas citados pela Afp, um dos principais focos do escrutínio é o voto dos eleitores da diáspora cabo-verdiana, o equivalente a cerca de 700 mil pessoas. São mais eleitores que os cerca de 510 mil residentes do arquipélago ocidental africano, a 600 km do Senegal.

Outro fator determinante deverá ser a atitude do eleitorado da formação governista PAICV, dividida, na campanha, pela candidatura de Inocêncio Sousa e de Aristides Lima.

O presidente cessante Pedro Pires disse que não iria se manifestar a favor de uma candidatura: “Não tenho preferências, sou como um juiz”, afirmou Pires, que deixará ao sucessor as rédeas de um país elogiado internacionalmente pelo “fair play”, ou “justiça”, da classe política,. O balanço também será positivo para quem assumir: a economia do país estaria em “plena expansão” e o nível de pobreza em baixa, de acordo com a União Europeia.

Autor: Nélio dos Santos (Cidade da Praia) / Renate Krieger (com agências Afp/Lusa)

Edição: António Rocha

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