Selecionador de Moçambique: "Sempre sonhei com esse momento"
11 de setembro de 2023O atual selecionador nacional, Francisco Queriol Conde Júnior, mais conhecido por "Chiquinho Conde", conseguiu quebrar o jejum de 13 anos sem Moçambique marcar presença na mais importante prova futebolística continental.
Esta será a quinta presença de Moçambique no Campeonato Africano de Futebol (CAN), depois de 1986, 1996, 1998 e 2010.
Chiquinho Conde foi o único o único jogador na história de Moçambique a participar em três CANs - 1986, 1996 e 1998. Agora regressará como selecionador.
DW África: Como é que se sente neste momento, depois de conseguir a qualificação de Moçambique para o CAN2024?
Chiquinho Conde (CC): É uma sensação impressionante. Eu sempre sonhei com esse momento, e sou um homem de muita sorte. A sorte é o cruzamento da oportunidade com estarmos bem preparados, e eu preparei-me ao longo destes anos. Fiz estágio com o professor Carlos Queiroz, no Real Madrid; depois, no Manchester United, sempre na perspetiva de fazer bem e melhor.
Quis o destino que eu fosse o primeiro jogador moçambicano a ir para o futebol português, depois da independência, com a autorização do Governo. Fui o primeiro moçambicano a estar numa seleção de África, fui o primeiro jogador a estar presente em três CANs e agora sou o primeiro treinador, depois de ser jogador, a qualificar Moçambique para duas grandes provas: o CHAN e agora o CAN.
DW África: Além disso, foi o primeiro treinador moçambicano a qualificar a União Desportiva do Songo para os oitavos de final da Taça Nelson Mandela, em 2018…
CC: É verdade. O nosso trajeto, na União Desportiva do Songo, foi marcante. E também no CHAN, em que Moçambique conseguiu chegar aos quartos de final. Vale o que vale, mas é uma indicação muito boa.
Surgiu-me este convite da Federação e da Secretaria de Estado para [treinar] esta seleção "espinhosa". Digo "espinhosa" porque há nove anos que Moçambique não ia ao CHAN e não se qualificava para o CAN há treze anos.
Não havia credibilidade, não havia confiança. A marca dos "Mambas" virou "meme" para muita gente. Chamavam-lhes "paracetamóis". Eu confesso que esse foi um dos meus grandes desafios. Mas estava na hora de resgatar a identidade da seleção nacional.
DW África: Como é que reagiu ao convite de ser selecionador nacional, numa altura em que havia tanta descrença na seleção?
CC: É um motivo de orgulho. Para mim, o chamamento para selecionador nacional é uma missão. Foi um trabalho árduo e, em dois anos, conseguimos fazer coisas fantásticas.
DW África: No sábado, quando Moçambique marcou o terceiro golo, colocou-se de joelhos. Pode-nos contar o que passou pela sua cabeça naquela hora?
CC: Na véspera do jogo fez sete meses que a minha esposa faleceu. A força que eu tenho, e sempre tive, também era dela. Partilhávamos tudo. E a minha família é importante. Os meus filhos estão em Portugal e na Suécia, e muitos não sabem, mas a minha esposa pediu, antes de falecer, que eu não regressasse a Moçambique para poder ficar com eles, porque eles precisavam do meu apoio. Foi o meu filho que fez força para eu regressar e continuar com o meu projeto. E isso… foi uma conjuntura de coisas… Foi também um agradecimento ao público e aos jogadores, que me deram essa oportunidade... Foi uma descarga emocional, precisamente naquele momento de descontos, onde muitos treinadores perdiam os jogos…
DW África: O tal famoso período de compensação 90+2?
CC: O 90+2, em que o adversário marca e nós perdemos. E nós marcámos nos descontos, mas para garantir a qualificação. Foi o inverso.