Serviço militar: "O Governo moçambicano está preocupado"
23 de novembro de 2023O Parlamento moçambicano aprovou, esta quinta-feira (23.11), na generalidade, o aumento de dois para cinco anos o tempo mínimo de cumprimento do serviço militar.
Segundo o Governo, esta é uma mudança necessária para a profissionalização e retenção de militares nas Forças Armadas.
No entanto, para Albino Forquilha, especialista em assuntos militares mostra que "o efetivo que tem estado a ingressar nas Forças Armadas não está a ser suficiente para cobrir os grandes problemas" militares do país.
DW África: O Parlamento aprovou hoje, na generalidade, o aumento do serviço militar de dois para cinco anos. Como vê esta medida?
Albino Forquilha (AF): Este aumento indica que o Governo está bastante preocupado. Provavelmente, o efetivo que tem estado a ingressar nas Forças Armadas, nos últimos anos, não está a ser suficiente para cobrir os grandes problemas de cariz militar.
Quase todos os anos há recrutamento de jovens para o serviço militar obrigatório e estes jovens, no fim de dois anos e meio, saem das Forças Armadas - só um número reduzido se mantém na carreira. Em condições normais não seria assim, e não haveria razão para aumentar esse período, pois teríamos jovens a querer ingressar nas Forças Armadas, por exemplo, por causa da falta de emprego. No entanto, provavelmente a guerra e as condições a que esses jovens militares são expostos podem criar algum ceticismo, impedindo os jovens de se manterem nas Forças Armadas.
DW África: Esta é, portanto, uma medida que surge na sequência do conflito em Cabo Delgado…
AF: Sim, tem muito a ver com a situação em Cabo Delgado. Se nós nos considerássemos como um país em paz, sem conflito militar e cumprindo unicamente o dever militar, não haveria necessidade de aumentar o período. E nós nem temos quartéis ou condições logísticas suficientes para albergar todos os jovens que temos no serviço militar obrigatório.
Portanto, acredito que o conflito em Cabo Delgado esteja a apertar muito mais o Governo. Mantendo as pessoas durante cinco anos, poderá gastar-se menos com o recrutamento e treinamento. Pois, até agora, de dois em dois anos há todo um processo de recrutamento.
DW África: Como acha que vai ser encarada esta alteração no seio da sociedade?
AF: A informação sobre as mortes em Cabo Delgado, na frente de combate, não sai muito para fora. Se a nossa sociedade estivesse a par de tudo o que está a acontecer – incluindo em relação às condições em que os seus filhos estão a servir, comparando com os recursos que poderiam ser disponibilizados – penso que ficaria muito mais revoltada e não receberia bem esse aumento do tempo do serviço militar obrigatório.