OMS está a perder o combate contra o Ébola na RDC?
4 de abril de 2019Só na última semana de março, 72 novos casos da doença foram confirmados. Uma reviravolta, uma vez que, em meados de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia anunciado que o surto estava contido e que devia ser travado até setembro.
Acontece que, só na última semana de março, o número de pessoas infetadas mais que duplicou, quando comparado com a média das semanas anteriores. Atualmente o número de mortes provocadas pelo Ébola já ultrapassa 650 nomeadamente nas províncias congolesas de Kivu Norte e Ituri . As situações mais preocupantes continuam a ser as zonas do Beni e Butembo, onde os conflitos armados dificultam o trabalho das equipas médicas no terreno.
Violência das milícias armadas
Sevim Tuglaci da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), diz que a situação não pode ser comparada à epidemia de 2014 na África Ocidental, por causa da agravante da violência das milícias armadas. À DW, a médica admite ainda que a situação é complicada, mas que não está fora do controlo."A situação foi difícil de controlar desde o início, não diria que está fora de controlo agora, mas precisamos de repensar e mudar a estratégia senão não vai resultar. O Ébola é uma doença assustadora”.
Também Christian Lindmeier, porta-voz da Organização Mundial da Saúde, garante que as autoridades médicas sabem exatamente o que devem fazer para combater esta epidemia que, desde agosto, já matou mais de mil pessoas.
"O combate ao Ébola há um ano atrás no noroeste do Congo é um exemplo de que temos o que necessitamos para travar o surto. Temos medicamentos e a vacina tem uma eficácia de mais de 90%, por isso temos excelentes condições em termos de possibilidades técnicas”.
Conflitos armados no Kivu do Norte
Mas então porque continuam a aumentar o número de casos confirmados? Uma das razões apontadas é a prevalência dos conflitos armados na província do Kivu do Norte. E também os ataques que têm sido levados a cabo contra os centros de tratamento do vírus. Só nos últimos dois meses, cinco centros foram atacados em Katwa e Butembo, o que levou a Médicos sem Fronteiras a suspender a sua atividade durante duas semanas.A falta de informação da população sobre o Ébola continua a ser um obstáculo à qual se junta, claro, a insegurança proveniente dos conflitos armados na região, nota o porta-voz da OMS.
"Devido à situação volátil no Kivu Norte, o acesso nem sempre é garantido. A violência faz também com que as pessoas fujam destas áreas. E claro, a confiança da população é também de grande importância [para o sucesso do nosso trabalho]. A sensibilização da comunidade é muito importante, para garantir que todos saibam como procurar ajuda".
Mais informação sobre o Ébola
É precisamente neste ponto que tem de haver melhorias, considera Sevim Tuglaci da Médicos Sem Fronteiras. Para esta profissional, as autoridades têm de ir às aldeias e falar com os anciãos, explicar à população local o que é o Ébola e como pode ser tratado. Porque, acrescenta esta mesma médica, todo o processo "agressivo” que envolve o tratamento do vírus, como é o caso do "isolamento” ou mesmo o "internamento forçado" leva "à incompreensão e raiva” das populações.O combate ao Ébola e os confrontos na região leste da RDC são precisamente dois dos temas que o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, tem na agenda para a sua visita oficial de três dias aos Estados Unidos, que teve inicio esta quarta-feira (03.04.).
O país nove vezes atingido
A RDCongo foi atingida nove vezes pelo Ébola, depois da primeira aparição do vírus naquele país africano, em 1976. É a primeira vez que uma epidemia de Ébola é declarada numa zona de conflito, onde existe uma centena de grupos armados, o que leva à deslocação contínua de centenas de milhares de pessoas que podem ter estado em contato com o vírus.
A insegurança complica e limita o trabalho dos profissionais de saúde que sofrem ataques ou mesmo sequestros realizados por grupos rebeldes.