Sinais de crise na liderança do Boko Haram
5 de agosto de 2016Abu Musab al-Barnawi, ligado ao Estado Islâmico, foi anunciado recentemente como o novo líder do grupo radical nigeriano. Esta quinta-feira (03.08), o anterior líder de longa data, Abubakar Shekau, quebrou meses de silêncio e difundiu uma mensagem insistindo que continua à frente do grupo nigeriano.
O correspondente da DW na Nigéria, Muhammad Al-Amin, afirma que este anúncio confirma uma crise interna que já dava sinais de existir há algum tempo.
"Já havia rumores de que havia combates entre os militantes do Boko Haram pela liderança do grupo. É um sinal claro de uma crise séria na liderança. E os cidadãos estão contentes com isso," diz Al-Amin.
Abu Musab al-Barnawi, que se apresentou como novo líder do grupo, garantiu que iria acabar com ataques em mesquitas e mercados frequentados por cidadãos muçulmanos, ameaçando matar cristãos e atacar igrejas.
Desde 2009, o grupo era liderado por Abubakar Shekau que, em março de 2015 anunciou uma aliança com o grupo terrorista Estado Islâmico. Shekau disse que o grupo nigeriano passaria a ser designado como Estado Islâmico da Província da África Ocidental.
No entanto, para o analista de segurança sul-africano Ryan Cummings, pode não haver uma verdadeira a cooperação entre os grupos jihadistas.
"Não temos provas que o Estado Islâmico esteja a dar algum tipo de apoio logístico ou operacional ao Boko Haram. Especula-se que alguns combatentes do Boko Haram poderão ter estado na Líbia, a combater em Sirte ao lado do Estado Islâmico," explica.
Desafios e oportunidades
Para o analista de segurança do norte da Nigéria Shehu Umar, a crise interna no grupo extremista Boko Haram pode ser uma oportunidade para o Governo nigeriano.
"Penso que isto é um grande revés para a força e as operações do Boko Haram, que já tinha anunciado aliança com o Estado islâmico. É uma oportunidade de ouro para os serviços secretos da Nigéria tirarem partido desta crise de liderança," considera.
Mas o analista de segurança sul-africano Ryan Cummings lembra que uma mudança de liderança é também motivo de preocupação, porque adiciona o fator de imprevisibilidade. No entanto o especialista não tem dúvidas de que o grupo está mais fraco do que há dois anos.
"Vimos que o grupo perdeu muito terreno, muitos elementos-chave foram detidos e tem enfrentando uma luta mais coordenada contra as suas posições. Mas uma coisa que aprendemos com o Boko Haram é que, mesmo quando parece que o grupo está em declínio, ele apenas evolui em função das circunstâncias, mostrando que continua capaz de representar uma séria ameaça," conclui Cummings.
Nos últimos sete anos de insurgência do Boko Haram, 20 mil pessoas perderam a vida e mais de 2,6 milhões fugiram de casa.