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Sissoco na Rússia: Helicópteros em vez de mensagem de paz?

26 de outubro de 2022

O Presidente guineense mostrou interesse em adquirir fragatas e helicópteros russos. Analista diz que discurso está em linha com a conceção que Sissoco Embaló tem do poder e da necessidade de dar sinais de força.

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Russland | Umaro Sissoco Embaló und Wladimir Putin
Foto: Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin/REUTERS

O Presidente da Guiné-Bissau, na qualidade de presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), prometeu levar "uma mensagem de paz" à Rússia. Mas Umaro Sissoco Embaló aproveitou também o encontro com o homólogo Vladimir Putin para demonstrar interesse em adquirir fragatas e helicópteros russos.

Já o Presidente russo apelou à cooperação entre a Rússia e a Guiné-Bissau no combate à pirataria e na exploração dos recursos de pesca. 

Para o analista Fodé Mané, o discurso de Embaló é coerente no quadro da conceção que o Presidente guineense tem do poder e da necessidade de dar sinais de poder militar.

DW África: Como encara a demonstração de interesse de Sissoco Embaló em adquirir fragatas e helicópteros à Rússia?

Fodé Mané (FM): Temos o problema da eficácia desse tipo de diplomacia. Não sei se África tem algum poder de fazer pressão. Outra questão é que a compra de armamento foi sempre a estratégia desse regime. Talvez esta declaração de Sissoco Embaló sobre a compra de armamento e helicópteros tenha mais coerência no quadro daquilo que é a sua conceção de poder, porque sabe que tem contestações de várias naturezas. Já foi ameaçado com os acontecimentos de 1 de fevereiro, então era preciso dar sempre sinais de força, de poderio militar, se não, o poder continua a ser sustentado a partir de fora, com armamentos, com soldados.

Pode-se dizer que, afinal, não está a transmitir a mensagem de paz, mas de interesses militares. Não se pode esperar que será uma visita que vai trazer alguma coisa para a Guiné-Bissau.

Guinea-Bissau - Fodé Mané Antropologist
Fodé Mané: "Afinal, [Sissoco Embaló] não está a transmitir uma mensagem de paz, mas de interesses militares"Foto: Fodé Mané

DW África: Nas suas declarações, Embaló acabou por admitir, indiretamente, que não sabia como a Guiné-Bissau iria pagar por essas aquisições. Essas compras são prioritárias num momento em que o país passa por uma crise tão acentuada?

FM: Primeiro, não há condições para pagar, a não ser que as aquisições fossem avalizadas através dos recursos naturais. Por exemplo, com recursos naturais que interessem à Rússia, como os minérios - bauxite e fosfato - e recursos haliêuticos. Mas vendo as necessidades do país, a Guiné-Bissau não é capaz de pagar a cerca de 3.000 professores, não tem hospitais, não é capaz de produzir desde o arroz, que é o principal produto de alimentação, até aos medicamentos mais simples. Como é que se vai priorizar a questão do armamento e aumentar este tipo de dívida, sem garantias? Vendo esta situação, é possível perceber qual é a lógica de governação, a lógica de Estado que nós temos.

DW África: Sissoco Embaló deixou claro que está a fazer estas viagens a Moscovo e a Kiev não como chefe de Estado da Guiné-Bissau, mas sim como presidente em exercício da CEDEAO. Considera que os interesses da comunidade ficaram "esquecidos" no encontro com Putin?

FM: Sabemos que esta nossa organização deixou de ter credibilidade. Quando a CEDEAO não está em condições e está sujeita a críticas internas, tinha de dizer alguma coisa. É algo que não reflete o interesse do povo e da comunidade. Neste momento, a própria CEDEAO não está em condições de defender coletivamente os seus interesses. Não se pode acreditar na existência de um interesse comum, principalmente nas relações internacionais. E se tem prisioneiros políticos no seu país, todos os dias as pessoas são interrogadas e detidas por ameaça de criarem instabilidade de natureza militar, como é possível ir resolver os problemas de outros países?

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