Sobe pressão internacional para mediação em Moçambique
16 de janeiro de 2014Agora foi a vez do antigo chefe de Estado português, Mário Soares, manifestar preocupação com a situação de instabilidade em Moçambique. O atual presidente da Fundação Portugal-África sugeriu aos moçambicanos o recurso à mediação da Comunidade de Santo Egídio para a estabilidade no país. Recorde-se que esta instituição não-governamental italiana ligada à Igreja Católica desempenhou um papel crucial na assinatura, em Roma, do Acordo Geral de Paz de 1992. Soares fez a proposta quando falava na quarta-feira (15/01), num encontro na capital portuguesa, Lisboa, para a apresentação dos resultados do projeto Escola Profissional em Moçambique. Preocupado com a situação político-militar, o ex-chefe de Estado português, Mário Soares, disse à DW África: “Sabe que eu não sou religioso. Mas reconheço que é uma grande comunidade e portanto acho que pode e deve fazer”. Adiantando depender da vontade dos dois lados no conflito, Soares acrescenta esperançoso: “Mas é possível que os principais possam entender-se e depois obrigar os que querem a guerra, porque a guerra é sempre um terrível mal”.
Instabilidade interfere com o ensino
Este encontro contou com a participação da vice-ministra da Educação de Moçambique, Leda Florinda Hugo que assegurou à DW África que, apesar da crise político-militar, as escolas do seu país continuam a funcionar: “Não conheço nenhuma escola que tenha parado de funcionar. E tirando regiões de conflito muito localizadas, a vida em Moçambique continua normalmente”.
Os ouvintes da DW África discordam da descrição feita pela governante, como se pode ler pelas reações na nossa página na rede social facebook.
Leda Hugo reconhece, ainda assim, que devido ao clima de instabilidade e de insegurança, o Governo moçambicano teve de encontrar alternativas em algumas regiões onde as crianças não podem frequentar as aulas: “Algumas crianças podem estar nas escolas vizinhas, principalmente agora na altura das avaliações. Outras crianças têm sempre um processo de recuperação, porque, como disse, não há escola que tenha parado de funcionar. Há sempre dificuldades, porque, por exemplo, o processo de avaliações em Moçambique é um processo nacional”.
Um momento “delicado”
Leda Hugo diz que o momento é delicado, uma vez que as notícias falam de alastramento para o sul do país do conflito armado entre forças da RENAMO e do Governo. A vice-ministra adianta que esta crise corresponde a um processo de democratização em curso, quando as principais forças políticas se preparam para eleições gerais marcadas para outubro deste ano. E desdramatiza a dimensão que se dá ao conflito fora de Moçambique: “Há problemas, mas não está complicado. O país continua o desenvolvimento, continua na via traçada”.
Apoio ao ensino técnico-profissional
Leda Hugo e Mário Soares foram as figuras centrais num encontro realizado esta quarta-feira no Instituto Camões para a apresentação dos resultados do projeto de Apoio ao Ensino Profissional em Moçambique, lançado em 2001 pela Fundação Portugal-África. Um projeto que, segundo a governante, vai ajudar a melhorar e a expandir o ensino técnico-profissional, já integrado no sistema nacional de educação: “É um programa que já tem grande impacto no desenvolvimento de Moçambique. São escolas que se baseiam naquilo que são desafios e necessidades, e que são respostas imediatas ao desenvolvimento local. Sem dúvida que o impacto será maior com a expansão deste tipo de escolas”.
O projeto traduziu-se na implementação de um novo modelo de ensino profissional e na formação de mais de 900 agentes educativos. Leda Hugo garante que a atual situação de conflito conjuntural não impedirá o seu avanço em mais de 80 distritos de Moçambique.