1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Sociedade civil moçambicana quer paralisação do ProSavana

Ernesto Saúl (Maputo)25 de julho de 2014

Em Moçambique, prevalecem os receios em relação ao ProSavana, alegadamente por escassez de informação. A sociedade civil defende a paralisação da iniciativa, até que sejam clarificados os modelos de implementação.

https://p.dw.com/p/1Cis3
Terras usadas pelo ProSavana na província do Niassa, MoçambiqueFoto: DW/E.Saul

Falta de informação e ceticismo são as notas dominantes dos debates à volta do Programa agrário ProSavana em Moçambique, desenvolvido numa parceria entre os Governos moçambicano, brasileiro e japonês.

Baseados no PRODECER, Programa Brasileiro de Desenvolvimento dos Cerrados, que inspirou o ProSavana, os cidadãos receiam que a iniciativa produza efeitos socio-económicos negativos.

Bastante polémico por alegadamente ter promovido a usurpação massiva
de terras dos camponeses por multinacionais, o PRODECER foi inicialmente
apresentado como o formato de desenvolvimento do ProSavana, programa tripartido que envolve os governos moçambicano, japonês e brasileiro e que foi desenhado para as províncias de Nampula, Niassa e Zambézia, numa extensão de cerca de 14 milhões de hectares de terra.

Nalguns distritos do corredor do Norte pequenos camponeses estão a ser pressionados a ceder seus campos de cultivo para acomodar o ProSavana, segundo Vicente Adriano, da União Nacional dos Camponeses:

E a situação leva Adriano a questionar: "Estamos a dizer que nos próximos 5 anos se for concretizar o programa haverá a usurpação de aproximadamente 50 mil hectares, e se associarmos as 11 empresas internacionais, estamos a falar de perto de 500 mil hectares. Esse desenvolvimento é para os camponeses?"

Karte Mosambik ProSavana Projekt Portugiesisch
Mapa das áreas usadas pelo ProSavana

Receio de maus exemplos

Outros fatores que alimentam o ceticismo dos camponeses resultam das possibilidades de aplicação do modelo baseado em grandes propriedades monocultoras, provocando impactos ambientais desastrosos, à semelhança do que aconteceu em algumas regiões do Brasil.

O destino da produção do ProSavana continua pouco claro, segundo a Presidente da Liga dos Direitos Humanos. Para Alice Mabota "o ProSavana não é transparente e está a criar condições para a rutura dos sistemas de produção camponesa e o surgimento de famílias sem teto."

Perante os debates inspirados na experiência brasileira, haverá mudança na abordagem deste programa? O economista João Mosca responde: ""Embora os discursos dos três países, Moçambique, Brasil e Japão, se tenham vindo a alterar dizendo que é para o apoio aos pequenos agricultores, produção alimentar, produção do desenvolvimento local, etc., na verdade os primeiros sinais da implementação do ProSavana são contraditórios relativamente ao discurso que existe."

O diretor da Agência Japonesa de Cooperação Internacional, JICA, Katseu Tsudó, reconhece que os três países envolvidos no Programa cometeram erros, que ainda podem ser corrigidos: "A falta de transparência, de informação e de esclarecimento... temos realmente que melhorar nessas coisas. Vamos fazer um esforço para melhorar isso, naturalmente com o Governo moçambicano e também com os nossos colegas brasileiros."

Demonstration gegen Entführungen und Krieg in Maputo
Alice Mabota, defensora dos direitos humanosFoto: DW/Leonel Matias

Para o Governo tudo em ordem

Do lado moçambicano ficam garantias de implementação do ProSavana de forma transparente e inclusiva.

O diretor Nacional dos Serviços Agrários no Ministério de Agricultura, Mahomed Valá, desmistifica o ProSavana e acrescenta que o programa visa apoiar e fortalecer os agricultores de pequena e média porte.

Valá garante que "nenhum produtor vai perder terras, nenhum produtor vai ser usurpado, tanto mais que com o projeto Millennium Challenge Account hoje em alguns corredores em Moçambique existem pequenos produtores a terem o papel do direito e uso de aproveitamento da terra."

O diretor Nacional dos Serviços Agrários explica ainda de que forma é respeitado esse direito: "Sem obscurar o facto do que a doutora Alice Mabota falou, que o cidadão moçambicano tem salvaguardado o direito consuetudinário: Durante 10 anos ele detém a terra."

Segundo Valá a sua instituições tem ainda projetos que poderão aumentar os niveis de produção: "Vai-se modelar o sistema de produção atual do produtor, e vamos dar um salto. Por exemplo, na cultura do milho temos de passar de 1.3, 1.4, 1.6 toneladas por hectar para o dobro."

Perante os debates e polémicas à volta do ProSavana, a acessoria do programa emitiu, esta quinta-feira (24.07), uma nota de imprensa que esclarece parte das dúvidas da sociedade civil.

As dúvidas sobre o ProSavana foram debatidas nesta quinta-feira (24.07) em Maputo durante a II Conferência Triangular dos Povos - Moçambique,
Brasil e Japão, promovida por organizações da sociedade civil dos três países.

As autoridades brasileiras estiveram representadas no encontro, através do secretário da embaixada do Brasil em Moçambique, Matheus Carvalho,
que, durante a sua intervenção, nunca se referiu ao PRODECER.

Sociedade civil moçambicana quer paralisação do ProSavana

Saltar a secção Mais sobre este tema