Sociedade moçambicana teme fraude eleitoral em Nampula
29 de novembro de 2013
José Luzia Gonçalves, padre católico de origem portuguesa com mais de 40 anos de trabalho em Moçambique, pede para que os próprios eleitores sejam vigilantes, sobretudo no final do processo, durante a contagem dos votos.
"Estou realmente com receio, neste momento, de que na repetição do ato eleitoral em Nampula as coisas possam não ser tão ordeiras, tão tranquilas e tão calmas. Torço verdadeiramente para sejam assim [ordeiras]. Será que a FRELIMO, o MDM, o PAHUMO e a ASSEMONA vão conseguir convencer todos os seus seguidores para que sejam verdadeiros cidadãos tranquilos, corretos votantes? Não sei se vão conseguir", duvida o páraco.
O receio de que o processo eleitoral de domingo (01.12) possa vir a ser manchado por fraude não é apenas do padre José Luzia Gonçalves. O jornal “Nova Era”, editado em Nampula, escreveu uma longa matéria sobre o assunto. No texto, é referido que o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) também receia fraude eleitoral.
José Henriques Lopes, que foi membro da primeira Comissão Nacional de Eleições (CNE) nos anos 1994-1995, afirmou à DW África que o escrutínio de 20 de novembro, que viria a ser anulado, decorreu de forma fraudulenta na cidade de Nampula.
Pelo que, o ex-membro da CNE prevê que se registem vários ilícitos eleitorais a favor do partido no poder, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), como enchimento de urnas e dupla votação.
"Olho a fraude com naturalidade porque eu conheço o Governo que está em Moçambique desde 1975. É um Governo arrogante, de belicistas. É um Governo que gasta o erário público não em infraestruturas sociais, públicas, humanas, mas um Governo que gasta o erário público na compra de artefactos para dizimar a vida humana. Portanto, eu conheço, encaro com naturalidade porque sei que, de facto, o cenário da Beira, de Quelimane e de Gurué, vai acontecer no próximo pleito eleitoral em Nampula", comenta José Henriques Lopes.
ASSEMONA garante ter provas de fraudes
De lembrar que Moçambique realizou eleições autárquicas, nos 53 municípios do país, no passado dia 20 de novembro. Contudo, devido a irregularidades no município norte de Nampula, nomeadamente a exclusão dos boletins de voto de Filomena Mutoropa, candidata do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), conduziram à anulação do pleito. E foi convocada a nova eleição para dia 1 de dezembro.
No município de Angoche, em Nampula, onde Américo Adamugy, da FRELIMO, surgiu como o candidato mais votado, a ASSEMONA, uma associação que igualmente tomou parte do processo eleitoral, denucia fraude eleitoral.
A ASSEMONA, que foi a segunda força mais votada naquele município, apresentou queixa ao Secretariado Técnico da Administração Eleitoral e alega possuir diverso material, como boletins de voto pré-aprovados a favor do candidato da FRELIMO.
Entretanto, a Polícia da República de Moçambique garante que tudo está afinado para garantir a ordem e tranquilidade públicas no processo de votação: "acionámos os mecanismos de segurança, de modo a que todo aquele na qualidade de eleitor se possa dirigir às mesas de votação para exercer o seu direito. Reafirmamos que as medidas de segurança estão garantidas", assegura a polícia.
De referir que temendo fraudes, na província central da Zambézia, particularmente em Quelimane, o eleitorado permaneceu vigilante durante o dia de votação (20.11). Os eleitores revezaram-se junto às assembleias de voto, no entanto a vigilância resultou em violência com as forças policiais.
A cidade de Quelimane é gerida pelo MDM e apesar de ainda não serem conhecidos os resultados oficiais estima-se que Manuel de Araújo seja reeleito para a liderança do município.