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"Somos marginalizados", diz veterano da libertação de Angola

15 de janeiro de 2021

Assinala-se esta sexta feira (15.01) o Dia do Antigo Combatente e Veterano da Pátria em Angola. A DW África ouviu ex-militares que se mostram descontentes com a forma que têm sido tratados pelo Estado angolano.

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Angola Unita FNLA MPLA Befreiungsbewegung Guerilleros
Foto: picture-alliance/dpa

O veterano Francisco Mabiala não tem muito a comemorar num dia que pode ser considerado de glória. O ex-combatente diz que lutou para ver uma Angola melhor para os seus filhos e hoje, após tantos anos, diz que esperava mais reconhecimento.

"Somos marginalizados, mesmo a sua excelência o Presidente da República conhece o nosso trabalho, mas nunca nos considerou”, lamenta.

Além da frustração pessoal por notar desconsiderado o fato de pôr em risco a própria vida pelo país, há também o aspecto económico que descontenta os heróis da pátria. Há muito que os antigos combatentes reivindicam a revisão dos seus subsídios. Francisco Augusto, de 70 anos, diz que recebe uma pensão mensal de cerca de 20 mil kwanzas (o equivalente a 25 euros) e considera o valor irrisório.

"Somos marginalizados", diz veterano da libertação de Angola

"Vinte é o quê? É um saco de açúcar ou um saco de arroz que está a custar 20 mil kwanzas. Arroz não se pode comer sem óleo, sem cebola. O governo tem que aumentar o subsídio do antigo combatente, é pouco mesmo”, lança o repto.

Sistema de pagamento de pensão

A luta pela libertação de Angola contou com três grupos armados. Muitos dos ex-combatentes do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) - braço armado da UNITA - e das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) aguardam pela sua inserção no sistema de pagamento de pensão.

"Não houve êxito de atendimento, eles 'baralham'... Demora tanto tempo. E ao fim e ao cabo não dá resultado positivo”, diz o antigo guerrilheiro da ELNA, Sebastião da Silva.

O MPLA, por meio do chefe do seu Departamento para Informação e Propaganda, reconhece a necessidade de se dar maior dignidade aos ex-militares. Arlindo Paulo entende que, para a valorização do antigo combatente, é necessário um trabalho conjunto.

Afrika Arlindo Paulo Leiter der Abteilung für Information und Propaganda - MPLA
Arlindo Paulo entende que valorização depende de trabalho conjuntoFoto: Ambrósio António/DW

"É preciso também continuarmos a pensar hoje na forma de melhorarmos a renda mensal que o antigo combatente tem por direito, porque atualmente naquilo que o antigo combatente tem por receber como subsídio não é compatível com o preço da cesta básica nacional, então é preciso depois equacionar esta situação para continuarmos a ver o antigo combatente com uma imagem dignificada”, reforça.

"Virão dias melhores"

Álvaro Ndengue Mbuale, secretário Provincial da UNITA no Bengo, fala em falta de vontade política para se melhorar a vida dos veteranos da guerra da libertação. 

"Se houvesse vontade politica... Não poderíamos levar mais de 40 anos após a independência [para resolver isso]. Até hoje vemos [nesta situação] muitos antigos combatentes, aqueles que deram o melhor de si para termos um país livre. Está a faltar vontade política a quem de direito para resolver isso", opina.

Afrika Joaquim Cangulo Provinzamt für ehemalige Kombattanten und Veteranen des Vaterlandes
Joaquim Cangulo: "2 mil novos processos estão parados"Foto: Ambrósio António/DW

O diretor do Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria reconhece o estado de precariedade no qual vivem alguns antigos combatentes, mas garante que virão dias melhores.

Joaquim Cangulo esclarece que, por força da pandemia e outras situações, mais de 2 mil novos processos de ex-guerrilheiros aguardam por homologação junto ao Ministério de Tutela.

"Esse processo de recadastramento e prova de vida, que teve início em 2019, foi interrompido por força da pandemia da Covid-19. No entanto, houve a obrigatoriedade de cancelá-lo. Tão logo as condições estejam criadas, haverá a retoma deste processo de recadastramento. Quando este terminar, vai se homologar os processos dos nossos pré-candidatos", esclarece Cangulo.

A província do Bengo administra cerca de 10 mil pensões para antigos combatentes, deficientes de guerra, órfãos, viúvas e acompanhantes. Em 2017, ocorreu a última homologação de processos, quando foram incluídos 1040 novos processos de veteranos na seguridade social do Estado.

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