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PolíticaSão Tomé e Príncipe

STP: Queixa-crime contra envolvidos no ataque ao quartel

Lusa
13 de dezembro de 2022

Sete partidos da oposição são-tomense, com e sem assento parlamentar, prometem uma queixa-crime e "manifestações de rua" para exigir o esclarecimento do ataque ao quartel militar e a morte de quatro civis.

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Foto: Ramusel Graca/DW

"Nas próximas horas, uma queixa-crime será movida contra os militares, quer as chefias, quer os subalternos e os civis envolvidos para que a justiça seja feita", lê-se num comunicado subscrito pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD, 18 deputados) e o Movimento Basta (dois eleitos) - ambos com assento parlamentar, e também, sem lugares no parlamento, o Partido de Convergência Democrática (PCD), o Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM), a Frente Democrática Cristã (FDC), os Cidadãos Independentes para o Desenvolvimento de São Tomé e Príncipe (CID-STP) e a União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD). 

A coligação Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista - Partido de Unidade Nacional, conhecido como "movimento de Caué", que conquistou cinco assentos na Assembleia Nacional, não participou nesta posição.

Os representantes destes partidos sublinham que "ninguém pode estar acima da lei", e por isso, pediram audiências com o Presidente da República, Carlos Vila Nova, e com o ministro da Defesa e Administração Interna, Jorge Amado, e aguardam ser recebidos "o mais rapidamente possível" para a análise da situação.

No comunicado lido esta terça-feira (13.12) pelo líder parlamentar do MLSTP/PSD, Danilo Santos, na sede do partido na Assembleia Nacional, as forças políticas subscritoras adiantam que "desencadearão igualmente manifestações de rua, de forma pacífica e no estrito ditame das leis" e apelam "à comunidade internacional a dedicar todo o afinco na investigação e no esclarecimento cabal desta situação, para que no solo pátrio são-tomense nunca mais possa acontecer algo parecido".

Sao Tomé und Principe | Arlecio Costa
Alércio Costa está entre os mortos após o ataque ao quartel em São ToméFoto: Ramusel Graça/DW

Oposição rejeita "tentativa de golpe”

Os partidos da oposição rejeitam a tese de que o assalto ao quartel-general das Forças Armadas, ocorrido em 25 de setembro, tenha sido uma 'tentativa de golpe de Estado', como disseram as autoridades.

"Os acontecimentos de 25 de novembro, caracterizados pelo primeiro-ministro, em primeira mão, como 'tentativa de golpe de Estado', não passa de uma montagem meticulosamente preparada com vista a ceifar a vida das pessoas incómodas pelos que querem, a qualquer preço, instalar o poder autocrático, totalitário e ditatorial em São Tomé e Príncipe", lê-se no comunicado.

Para estas forças políticas, "a minuciosa caracterização" dos acontecimentos feita pelo primeiro-ministro, Patrice Trovoada (Ação Democrática Independente), nas primeiras horas do dia do ataque ao quartel, "evidenciam" que o mesmo estava "no comando das operações".

"Curiosamente, é o primeiro-ministro quem, de fato de treino e de forma ofegante, dá conhecimento da situação ao país, usurpando o poder constitucionalmente consagrado ao Presidente da República. A minuciosa caracterização feita por ele da apelidada "tentativa de golpe de estado", a tranquilidade transmitida de que a situação estava sob controlo [...] evidenciam que o senhor primeiro-ministro estava efetivamente no comando das operações", referem.

São Tomé und Príncipe Premier Patrice Trovoada
Pratice Trovoada nega qualquer envolvimento no ataque Foto: Ramusel Graça/DW

Mortes de civis

Os partidos questionam as quatro mortes, de "testemunhas ímpares", anunciada poucas horas depois das declarações do primeiro-ministro e o facto de "não haver danos resultantes do tiroteio encetado por mais de cinco horas entre as partes", bem como "as contradições existentes entre as falas do primeiro-ministro, do brigadeiro e do vice-brigadeiro" sobre o assunto.

"Ou o primeiro-ministro foi incorretamente informado e, se assim foi, é de condenar a sua leviandade ao tratar de um assunto tão sério e ao mentir a população garantindo que tinha controlo de tudo. Ou seja, tratando-se de "um golpe de Estado", estava de facto por dentro de tudo e tinha que assumir as responsabilidades do seu controlo e comando", indicou o porta-voz dos partidos, Danilo Santos.

Uma semana depois do ataque ao quartel das Forças Armadas, o primeiro-ministro fez uma visita de menos de 24 horas à Ndjamena, capital do Chade, e depois a Portugal e Estados Unidos, onde se encontra atualmente, para participar na cimeira EUA/África.

Na quarta-feira passada, o Presidente da República também se deslocou à Guiné Equatorial, onde permaneceu durante três dias, após ter participado na cerimónia de posse do chefe de Estado daquele país, Teodoro Obiang Nguema.

São Tomé und Príncipe Staatspräsident Carlos Vila Nova
Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, pediu uma investigação às mortes após o ataqueFoto: Ramusel Graça/DW

"Como haver uma tentativa de golpe de Estado e o primeiro-ministro e o Presidente da República se ausentarem em simultâneo do país? Só pode tratar-se de uma brincadeira de muito mau gosto", consideram os partidos da oposição.

"Inventona para matar os adversários”

Para estes partidos, "tudo indica que tal não passa de uma inventona para matar os adversários mais incómodos, silenciar as forças políticas, instaurar o clima de medo, desacreditar e descredibilizar as Forças Armadas, decapitando-as em seguida, criar condições constitucionais e legais para voltar a instalar tropas estrangeiras no país e perpetuar-se assim no poder com base no totalitarismo e ditadura".

Referem ainda que além das ações isoladas de cada partido, a partir de agora desencadearão, em uníssimo, "ações que contribuam para o cabal esclarecimento da situação e para que a justiça possa julgar todos realmente implicados".

"As forças políticas em referência, que não pactuam e jamais pactuarão, em circunstância alguma, com qualquer tentativa de subversão da ordem constitucional, condenam igualmente toda e qualquer montagem de intentonas ou inventonas tendentes a tal objetivo, perpetrada com requintes de crueldade, tortura e selvático desumaníssimo, aspetos que nunca fizeram parte do modo de ser e de estar do são-tomenses".

Amtseinführung Generalstabschef der Streitkräfte von São Tome und Principe
João Cravid, novo chefe das Forças Armadas são-tomenses, defendeu reformas no setorFoto: R. Graça/DW

Os partidos consideram como "deploráveis, condenáveis e levados até as últimas consequências os horrendos acontecimentos de tortura e terror perpetrados no passado 25 de novembro, os quais deixam bem claro que, ao haver crimes executados no interior das Forças Armadas, é porque existem criminosos no seu seio", pelo que "tais criminosos" devem ser, "de imediato banidos, separando-se assim o trigo do joio".

De igual modo, "deve ser expulso e expurgado do sistema do poder ou do contra-poder e entregue à justiça qualquer cidadão civil comprovadamente implicado no alegado 'golpe' de modo a ser justa e exemplarmente punido".

Na semana passada, o primeiro-ministro são-tomense negou, em entrevista à Lusa, qualquer envolvimento no assalto ao quartel-general das Forças Armadas, acusando os opositores de criarem "uma cortina de fumo", e disse aguardar "tranquilamente" o resultado das investigações.

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