1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Sudão do Sul: regresso de Machar acende esperança de paz

Chrispin Mwakideu /António Cascais27 de abril de 2016

O líder rebelde sul-sudanês Riek Machar chegou a Juba, terça-feira (26.04), para ocupar o cargo de vice-presidente, em cumprimento do acordo de paz assinado entre o Governo e os rebeldes em agosto de 2015.

https://p.dw.com/p/1IdZb
Vice-presidente do Sudão do Sul, Riek Machar, (esq.) ao lado do Presidente Salva Kiir (dir.)Foto: Getty Images/AFP/S. Bol

O regresso de Riek Machar estava previsto para o passado dia 18 de abril, mas foi atrasado, devido a desavenças entre o antigo líder rebelde e as autoridades.

Na tarde de terça-feira (26.04), o avião que transportava Machar aterrou no aeroporto de Juba. Partiu de Gambella, na Etiópdia, junto à fronteira sul-sudanesa, nas proximidades da base rebelde. “Estou feliz por voltar”, disse Riek Machar aos jornalistas, à chegada.

Dirigiu-se imediatamente ao palácio presidencial para assumir o cargo de vice-presidente do mais jovem país do mundo, junto do seu rival, o Presidente Salva Kiir, que o tinha nomeado no passado dia 11 de fevereiro, como tinha sido estabelecido no acordo de paz.

"Estou plenamente empenhado em aplicar este acordo para que o processo de reconciliação e de cura comece o mais rapidamente possível, para que as pessoas possam ter fé no país pelo qual se bateram durante tanto tempo", declarou Machar no palácio presidencial. “Penso que esta é a única forma para o Sudão do Sul voltar ao caminho da paz, estabilidade e prosperidade”, acrescentou Kiir.

Regresso ao passado

Riek Machar já tinha ocupado o cargo de vice-presidente entre julho de 2011, data da independência do Sudão do Sul, e julho de 2013, quando foi demitido pelo Presidente Salva Kiir.

Em dezembro de 2013, começaram os combates no seio das forças armadas, minadas por conflitos políticos e étnicos alimentados pela rivalidade entre os dois homens.
“Regressamos precisamente ao mesmo ponto em que estávamos há dois anos, antes de eclodir a onda violênca: Riek Machar regressou ao país e vai reocupar o cargo de vice-presidente. Salvar Kiir continua a ocupar o cargo de presidente. O problema é que conflito de fundo, entre estes dois protagonistas não foi resolvido”, comenta Henrik Maihack, representante da fundação social-democrata alemã Friedrich-Ebert na região.

Südsudan Juba Inaugurierung Rebellenführer Riek Machar
Tomada de posse de Machar como vice-presidente no palácio presidencialFoto: Getty Images/AFP/C. Lomodong

O início do conflito está relacionado com “suspeitas em torno das verdadeiras ambições de Riek Machar, ambições consideradas desmesuradas por parte dos seus opositores. Houve confrontos militares e mortes desnecessárias. E agora regressamos praticamente à mesma constelação. E agora provavelmente haverá ainda menos confiança mútua entre os dois rivais. Ambas as partes ambicionam governar o país no futuro, ou seja, para além de 2018, depois do governo de transição”, recorda Henrik Maihack.

Por isso, o representante da fundação alemã não vê “razão para muito otimismo, mas apenas para um otimismo por assim dizer cauteloso.”

Haverá finalmente paz?

O regresso de Riek Machar é visto pela comunidade internacional como um passo fundamental para o cumprimento do acordo de paz, assinado em agosto de 2015, para pôr termo à guerra civil que começou em dezembro de 2013.
Contudo, Jok Madut Jok, investigador sul-sudanês no instituto Sudd, em Juba, tem muitas reservas, porque "as partes em conflito poderão discordar em vários aspetos, durante o processo de implementação [do acordo de paz], o que poderá fazer o país voltar de novo a uma situação muito confusa, em que ainda hoje se encontra."

Recorde-se que o regresso do ex-dirigente rebelde a Juba tinha sido adiado várias vezes devido a conflitos em torno da quantidade de armas que Machar deveria ou poderia trazer, juntamente com os soldados que o acompanham.

“O próximo passo é a formação de um governo de unidade nacional, segundo ficou estabelecido no acordo de paz”, aponta o representante da fundação Friedrich-Ebert. Este mês ainda devera proceder-se à integração dos combatentes rebeldes, cerca de 1370 homens, nas fileiras da guarda republicana e da polícia do Sudão do Sul.

Um país vergado pela guerra

Iniciado em dezembro de 2013, a guerra civil aprofundou as diviões étnicas no país, nomeadamente entre os povos Nuer e Dinka. O Presidente Kiir, de etnia Dinka, na altura do início do conflito, denunciou internacionalmente o que considerava ser uma tentativa de golpe de Estado encabeçada por Machar, que pertence à etnia Nuer.
A guerra foi marcada por massacres, violações e torturas de ambas as partes. Calcula-se que tenham perdido a vida centenas de milhares de pessoas. Mais de dois milhões de sul-sudaneses tiveram que abandonar as suas casas, refugiando-se em regiões mais seguras ou mesmo em países vizinhos.

Quanto ao futuro, “tudo depende da confiança no seio do partido no Governo, e também da vontade dos dois protagonistas de colaborar. Mas outros atores políticos fora e dentro do Sudão do Sul também terão que desempenhar o seu papel, no sentido de pressionar Machar e Kiir a cooperaram para o bem da paz no país: o Sudão do Sul”, considera Henrik Maihack, representante da fundação alemã Friedrich-Ebert em Juba.

[No title]

Südsudan Flüchtlingscamp Flüchtlinge in Yida
A guerra civil já causou cerca de 2,3 milhões de deslocadosFoto: Getty Images/AFP/A. G. Farran