Sudão do Sul rejeita relatório da ONU sobre violência sexual
17 de fevereiro de 2019A presidente do comité governamental que investiga o caso, Awut Deng Acuil, disse à agência de notícias EFE que o organismo não conseguiu qualquer prova que corrobore as alegações de que houve violações no estado de Unity, no norte do país, como refere a ONU.
"As mulheres e crianças com quem falámos em Bentiu, capital do estado, afirmaram que esses relatórios não são verídicos", afirmou Deng Acuil, que é também ministra do Género e Bem-Estar Social.
A missão das Nações Unidas no Sudão do Sul recebeu denúncias de pelo menos 134 violações a mulheres e crianças entre setembro e dezembro do ano passado na região de Unity, em zonas controladas por tropas governamentais, segundo um relatório divulgado na sexta-feira.
A Missão dos Direitos Humanos das Nações Unidas no Sudão do Sul denunciou que persiste na região norte do país a violência sexual, cometida com "impunidade generalizada" e "premeditada".
As denúncias foram igualmente feitas pela organização não governamental Médicos Sem Fronteiras.
A ministra do Sudão do Sul acusou a Médicos Sem Fronteiras de "não colaborar" com o comité governamental e de não dar detalhes sobre o relatório em que surgiu a denúncia de que um grupo armado violou um grupo de mulheres na localidade de Koch.
Violência sexual endémica
De acordo com a ONU, pelo menos 134 mulheres foram violadas, incluindo algumas com apenas oito anos, entre setembro e dezembro do ano passado. Outras 41 mulheres sofreram diferentes formas de violência sexual e física, indica o relatório da ONU, realizado após uma investigação dos Médicos Sem Fronteiras ter detetado que 125 mulheres, entre as quais meninas, foram violadas e espancadas num período de 10 dias, na região de Unity, no final de novembro.
Embora o Sudão do Sul tenha assinado um frágil acordo de paz, em 12 de setembro, para pôr fim à guerra civil de cinco anos, que matou quase 400 mil pessoas, a ONU advertiu que a violência sexual é endémica no norte do país.
Quase 90% das mulheres, entre as quais mulheres grávidas - uma de nove meses de gestação - e raparigas, foram vítimas de violação por mais de um perpetrador e muitas vezes por várias horas no Sudão do Sul.
"A volatilidade da situação no Sudão do Sul, combinada com a falta de responsabilidade por violações e abusos cometidos em Unity, provavelmente leva os atores armados a acreditarem que podem escapar da violação e de outras formas horríveis de violência sexual", disse Michelle Bachelet, Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
A maioria dos ataques foi realizada por grupos milicianos leais ao primeiro vice-Presidente Taban Deng Gai, bem como ao exército do Governo do Sudão do Sul, sublinhou o relatório.
Documentos internos a que a agência de notícias Associated Press teve acesso detalham os locais, a escala das violações e as datas dos ataques, além de mostrarem que as áreas onde ocorreram estão sob controlo de forças aliadas a Gai, segundo um especialista em segurança do Sudão do Sul que falou sob condição de anonimato.
O aumento da violência sexual é parcialmente atribuído a um grande número de combatentes em espera, aguardando a implementação de medidas de segurança sob o novo acordo de paz, referiu o relatório.