Sudão: Militares alertam oposição sobre protestos
29 de junho de 2019O Conselho Militar de Transição no poder no Sudão advertiu este sábado (29.06) que grupos opositores serão responsabilizados por qualquer morte ou danos materiais causados pelos protestos em massa convocados para este domingo (30.06).
A coalizão Forças para a Liberdade e Mudança (FFC) convocou um milhão de pessoas a ir às ruas da capital Cartum para pressionar os militares a entregarem o poder aos civis. "Nós alertamos sobre a gravidade da crise em que o nosso país se encontra", disse o Conselho Militar num comunicado divulgado pela agência de notícias governamental SUNA.
"A FFC será totalmente responsável por qualquer espírito perdido nesta marcha ou quaisquer danos causados aos cidadãos ou às instituições do Estado", acrescenta o documento.
O vice-chefe do Conselho Militar, o general Mohamed Hamdan Dagalo, alertou sobre alegados "vândalos" com uma "agenda oculta" que podem tentar tirar vantagem dos protestos. "Nós não queremos problemas, nós não precisamos de um conflito", afirmou.
Esta sexta-feira (28.06), a União Europeia (UE) disse que o direito do povo sudanês de protestar e expressar suas opiniões é "fundamental" e é amparado pela União Africana (UA).
O Departamento de Estado norte-americano pediu este sábado ao Conselho Militar que permita os protestos pacíficos e evite usar "qualquer tipo de violência" contra os sudaneses, que devem ter direito à liberdade de expressão.
Na passada quinta-feira, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas decidiu estender por mais quatro meses a sua missão de manutenção de paz na região de Darfur (UNAMID). A ONU justificou a continuação dos capacetes azuis na região devido aos últimos desenvolvimentos em Cartum.
Impasse
Depois de vários meses de manifestações, iniciados em dezembro de 2018, o exército sudanês liderou um golpe de Estado contra o antigo Presidente Omar al-Bashir em abril deste ano. Desde então, o Sudão é palco de um impasse entre o Conselho Militar e os líderes da oposição, que exigem a transferência de poder para os civis.
As negociações entre a contestação e os militares foram suspensas a 20 de maio por falta de acordo. A 3 de junho, protestos foram duramente reprimidos pelos militares, deixando mais de uma centena de mortos.
Mediadores liderados pela UA e o Presidente da Etiópia, Abiy Ahmed, estão a tentar promover o diálogo entre as partes. Na sexta-feira, o Conselho Militar disse que a proposta submetida pelos mediadores a 27 de junho era adequada para a retomada das negociações com os líderes dos protestos.
Este sábado, a Associação de Profissionais Sudaneses (SPA) informou que o chefe do comité de professores e um líder da FFC foram detidos. Os militares não comentaram a denúncia. "Apelamos à comunidade internacional para que exija a imediata soltura dos detidos. Essa ação do Conselho Militar de Transição é altamente prejudicial para o estabelecimento de confiança neste momento crucial", diz a SPA em comunicado.