Sul de Angola continua a sofrer com a seca e a fome
13 de novembro de 2018A fome, a seca e a desnutrição assolam as comunidades rurais do sul de Angola desde 2011. E a história repete-se este ano: a época chuvosa começou oficialmente em maio, mas ainda não há chuva no sul.
"A realidade nestas comunidades é extremamente preocupante", diz Domingos Fingo, diretor da Associação Construindo Comunidade (ACC), sediada na província da Huíla.
"As chuvas ainda não começaram a cair, não se consegue vislumbrar a curto prazo melhorias substanciais para a vida das comunidades da região sul de Angola. A tendência é piorar a vida das comunidades", alerta.
E falta quase tudo entre as comunidades rurais de Benguela, Huíla, Cunene e Cuando Cubango, diz o ativista: "Não há água, não há postos médicos, os serviços do registo civil são precários. Há uma série de situações".
Desnutrição mata dezenas de crianças
A seca, a estiagem e a falta de políticas públicas têm provocado danos humanos e animais, dizem as organizações. Na província do Cunene, as autoridades dão conta da morte de mais de 50 crianças vítimas de desnutrição nos últimos nove meses.
Domingos Fingo, diretor da Construindo Comunidade, diz que a terra de Mandume não é a única onde menores morrem por desnutrição. Ela também mata na Huíla. "Tudo isso advém da falta de uma agricultura familiar", sublinha.
Recentemente, o vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, visitou o Curoca, no Cunene, uma das comunidades assoladas pela seca e fome. José Patrocínio, coordenador da OMUNGA, ONG com sede em Benguela, louva a iniciativa, mas diz que é preciso tomar medidas urgentes: "Uma delas, penso que deve ser uma prioridade do Estado, é a demarcação imediata das áreas comunitárias e das terras comunitárias, bem como o seu respeito e a sua legalização".
Depois de desenvolver atividades nas províncias do Cunene e Cuando Cubango, a OMUNGA constata uma situação cada vez mais preocupante.
O coordenador da ONG diz que, apesar do problema da seca e estiagem resultar do aquecimento global, devia merecer uma especial atenção por parte do Governo no sentido de tomar medidas urgentes que possam acautelar o dilema da fome que assola as populações.
O ativista sublinha que, para além da ação natural, há também determinados projetos agrícolas desenvolvidos por empresários na região que não beneficiam as comunidades locais.
"No Kuroco, algumas comunidades deixaram de ter acesso aos rio por causa do projeto agro industrial. No Cuando Cubango, as populações deixaram de ter os seus meios de sobrevivência: a pesca, a caça, a recolha de frutos", exemplifica.
A Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente de Angola (ADRA), juntou recentemente em Luanda várias organizações e personalidades para debater as carências destas populações no "XIX Encontro Nacional das Comunidades”. O evento contou com apoio União Europeia, da Ajuda das Igrejas da Noruega (NCA, na sigla em inglês), Pão Para o Mundo (PPM), Grupo África da Suécia (GAS) e do Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola.