Síria marca visita do primeiro-ministro tunisino à Alemanha
15 de março de 2012Foi exatamente há 14 meses que os tunisinos expulsaram o então presidente Zine El Abidine Ben Ali do país. Desde dezembro de 2011, a Tunísia tem um novo governo. O seu chefe, o primeiro-ministro Hamadi Jebali, realizou esta quarta-feira (14.03) a sua primeira visita oficial à Alemanha. No encontro que manteve com a chanceler alemã, Angela Merkel, foi abordada a atual situação no mundo árabe, especialmente no que diz respeito ao conflito na Síria.
O sorriso do primeiro-ministro tunisino Hamadi Jebali é aberto, mas as suas palavras contradizem o que o rosto transmite e são muito claras. Na sua opinião, está absolutamente fora de questão o asilo político oferecido pelo chefe de Estado da Tunísia, Moncef Marzouki, ao presidente sírio, Bashar al-Assad: “É possível imaginar que muito pode acontecer a Bashar al-Assad. No entanto – e com todo o meu respeito perante o nosso presidente – uma possibilidade que não imagino é que Bashar al-Assad receba asilo em solo tunisino”, disse o chefe de governo tunisino.
Hamadi Jebali, de 62 anos, é primeiro-ministro da Tunísia desde o final de dezembro do ano passado, quando o partido islâmico moderado Ennahda foi o claro vencedor das primeiras eleições livres após a revolução que levou ao derrube do antigo presidente Zine El Abidine Ben Ali.
Jebali opôs-se, durante muitos anos, ao regime e esteve dezasseis na prisão, a maior parte dos quais em isolamento. Apesar disso, ou talvez por causa dessa experiência, considera o regime de Assad e as atrocidades contra o povo sírio muito piores do que a ditadura de Ben Ali na Tunísia.
No entanto, o primeiro-ministro tunisino adverte para uma intervenção militar do exterior, que, segundo acredita, agravaria a situação na Síria. Uma solução que para Jebali parece muito viável são os chamados capacetes verdes: unidades compostas unicamente por soldados árabes que teriam como missão estabelecer a paz na Síria.
Segundo Hamedi Jebali, “os capacetes verdes seriam uma solução possível, mas apenas com uma condição: as regras teriam de ser claramente definidas, isto é, as condições e o objetivo exato”, explicou.
Jebali aponta críticas às instituições internacionais
A propósito ainda da crise que se vive na Síria, o chefe de governo tunisino, Hamadi Jebali, apelou, esta quarta-feira (14.03) à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas após o bloqueio da Rússia e China a duas resoluções contra o regime de Bashar al-Assad. Recorde-se que reforma daquele órgão é posição defendida também pela Alemanha.
O primeiro-ministro do país pioneiro no movimento da chamada Primavera Árabe lançou ainda uma crítica à Organização do Tratado Atlêntico Norte (NATO) e à sua ação na Líbia, onde só com muita sorte, acredita, se conseguiu acabar com a ditadura e tirar do poder o coronel Kadhafi.
Tal cenário não deve ser repetido na Síria, diz Jebali. E não se deve dar Assad a possibilidade de se apresentar como uma vítima da intervenção estrangeira.
O desemprego é um dos principais problemas na Tunísia
O primeiro-ministro da Tunísia admite que também há muito a fazer no seu próprio país. A batalha contra o desemprego é uma das suas prioridades. E pede aos tunisinos, que nos últimos dias e semanas voltaram a protestar nas ruas, que sejam pacientes.
Segundo Jebali, “os oitocentos mil desempregados são o resultado de uma ditadura de meio século. É um problema que não pode ser resolvido em um ou dois anos e nem mesmo em dez. O mais importante é começar! Com programas de formação, criação de empresas ou micro-crédito podemos fazer com que, pelo menos, algumas destas pessoas voltem a trabalhar.”
Quanto ao receio de uma islamização crescente da sociedade tunisina, Hamadi Jebali parece ser muito menos crítico do que os parceiros ocidentais da Tunísia, incluindo a Alemanha. O atual primeiro-ministro tunisino foi secretário-geral do partido islâmico moderado Ennahda e considera exagerados os temores do Ocidente.
Jebali acha que não é necessário perseguir, mandar para a prisão ou até mesmo matar os salafistas e outros extremistas. Em vez disso, argumenta, o que é preciso é liberdade e democracia nas quantidades certas. A coerção contra pessoas que têm opiniões diferentes é para ele um tabu.
Depois de Berlim, Jebali seguiu para Roma
A viagem à Alemanha do primeiro-ministro tunisino ocorreu cerca de três meses depois da visita do ministro dos negócios estrangeiros alemão, à Tunísia. Guido Westerwelle efetuou um périplo no norte de África, em janeiro, tendo estado na Tunísia, na Líbia e na Argélia.
Na altura, as duas partes, alemã e tunisina, assinaram um acordo que prevê uma ajuda de Berlim de 32 milhões de euros nos próximos em 2012 e 2013, montante que será consagrado a projetos de educação e de formação na Tunísia.
Após a visita à Alemanha, o primeiro-ministro da Tunísia, Hamadi Jebali, seguiu viagem para Itália, tendo-se encontrado esta quinta-feira (15.03) com o seu homólogo, Mario Monti.
O chefe de governo italiano assegurou que o seu país apoia o caminho de democratização da Tunísia, com o qual Roma pretende pretende reforçar a cooperação em diversas áreas, como a luta contra a imigração.
Autores: Dirke Köpp/Madalena Sampaio
Edição: Glória Sousa/Renate Krieger