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Síria marca visita do primeiro-ministro tunisino à Alemanha

15 de março de 2012

Na sua primeira visita oficial à Alemanha, Hamadi Jebali rejeitou dar asilo político ao contestado presidente sírio. Após o encontro com Angela Merkel, o chefe de governo da Tunísia seguiu para Roma.

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A chenceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro tunisino, Hamadi Jebali, em conferência de imprensa em BerlimFoto: Reuters

Foi exatamente há 14 meses que os tunisinos expulsaram o então presidente Zine El Abidine Ben Ali do país. Desde dezembro de 2011, a Tunísia tem um novo governo. O seu chefe, o primeiro-ministro Hamadi Jebali, realizou esta quarta-feira (14.03) a sua primeira visita oficial à Alemanha. No encontro que manteve com a chanceler alemã, Angela Merkel, foi abordada a atual situação no mundo árabe, especialmente no que diz respeito ao conflito na Síria.

O sorriso do primeiro-ministro tunisino Hamadi Jebali é aberto, mas as suas palavras contradizem o que o rosto transmite e são muito claras. Na sua opinião, está absolutamente fora de questão o asilo político oferecido pelo chefe de Estado da Tunísia, Moncef Marzouki, ao presidente sírio, Bashar al-Assad: “É possível imaginar que muito pode acontecer a Bashar al-Assad. No entanto – e com todo o meu respeito perante o nosso presidente – uma possibilidade que não imagino é que Bashar al-Assad receba asilo em solo tunisino”, disse o chefe de governo tunisino.

Hamadi Jebali, de 62 anos, é primeiro-ministro da Tunísia desde o final de dezembro do ano passado, quando o partido islâmico moderado Ennahda foi o claro vencedor das primeiras eleições livres após a revolução que levou ao derrube do antigo presidente Zine El Abidine Ben Ali.

Ausschnitt aus: epa03134044 A handout photo made available by the official Syrian Arab News Agency (SANA) shows Syrian President Bashar al-Assad (L) meeting with Alla Alexandrovsaya, chairwoman of the Syrian-Ukrainian Friendship Committee in the Ukrainian Parliament, in Damascus, Syria, 06 March 2012. According to SANA, the meeting took up the recent developments in Syria. EPA/SANA/HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES +++(c) dpa - Bildfunk+++
Hamadi Jebali, primeiro ministro tunisino, rejeita dar asilo ao presidente sírio Bashar al-AssadFoto: picture-alliance/dpa

Jebali opôs-se, durante muitos anos, ao regime e esteve dezasseis na prisão, a maior parte dos quais em isolamento. Apesar disso, ou talvez por causa dessa experiência, considera o regime de Assad e as atrocidades contra o povo sírio muito piores do que a ditadura de Ben Ali na Tunísia.

No entanto, o primeiro-ministro tunisino adverte para uma intervenção militar do exterior, que, segundo acredita, agravaria a situação na Síria. Uma solução que para Jebali parece muito viável são os chamados capacetes verdes: unidades compostas unicamente por soldados árabes que teriam como missão estabelecer a paz na Síria.

Segundo Hamedi Jebali, “os capacetes verdes seriam uma solução possível, mas apenas com uma condição: as regras teriam de ser claramente definidas, isto é, as condições e o objetivo exato”, explicou.

Jebali aponta críticas às instituições internacionais

A propósito ainda da crise que se vive na Síria, o chefe de governo tunisino, Hamadi Jebali, apelou, esta quarta-feira (14.03) à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas após o bloqueio da Rússia e China a duas resoluções contra o regime de Bashar al-Assad. Recorde-se que reforma daquele órgão é posição defendida também pela Alemanha.

O primeiro-ministro do país pioneiro no movimento da chamada Primavera Árabe lançou ainda uma crítica à Organização do Tratado Atlêntico Norte (NATO) e à sua ação na Líbia, onde só com muita sorte, acredita, se conseguiu acabar com a ditadura e tirar do poder o coronel Kadhafi.

Angela Merkel und dem tunesischen Ministerpräsidenten Mustafa Jebali
O chefe de governo da Tunísia defende a reforma do Conselho de Segurança da ONUFoto: Reuters

Tal cenário não deve ser repetido na Síria, diz Jebali. E não se deve dar Assad a possibilidade de se apresentar como uma vítima da intervenção estrangeira.

O desemprego é um dos principais problemas na Tunísia

O primeiro-ministro da Tunísia admite que também há muito a fazer no seu próprio país. A batalha contra o desemprego é uma das suas prioridades. E pede aos tunisinos, que nos últimos dias e semanas voltaram a protestar nas ruas, que sejam pacientes.

Segundo Jebali, “os oitocentos mil desempregados são o resultado de uma ditadura de meio século. É um problema que não pode ser resolvido em um ou dois anos e nem mesmo em dez. O mais importante é começar! Com programas de formação, criação de empresas ou micro-crédito podemos fazer com que, pelo menos, algumas destas pessoas voltem a trabalhar.”

Quanto ao receio de uma islamização crescente da sociedade tunisina, Hamadi Jebali parece ser muito menos crítico do que os parceiros ocidentais da Tunísia, incluindo a Alemanha. O atual primeiro-ministro tunisino foi secretário-geral do partido islâmico moderado Ennahda e considera exagerados os temores do Ocidente.

Jebali acha que não é necessário perseguir, mandar para a prisão ou até mesmo matar os salafistas e outros extremistas. Em vez disso, argumenta, o que é preciso é liberdade e democracia nas quantidades certas. A coerção contra pessoas que têm opiniões diferentes é para ele um tabu.

Depois de Berlim, Jebali seguiu para Roma

A viagem à Alemanha do primeiro-ministro tunisino ocorreu cerca de três meses depois da visita do ministro dos negócios estrangeiros alemão, à Tunísia. Guido Westerwelle efetuou um périplo no norte de África, em janeiro, tendo estado na Tunísia, na Líbia e na Argélia.

Tunesien Deutschland Aussenminister Westerwelle bei Hamadi Jebali in Tunis
O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, encontrou-se em Tunes com Hamadi Jebali, em janeiro de 2011Foto: dapd

Na altura, as duas partes, alemã e tunisina, assinaram um acordo que prevê uma ajuda de Berlim de 32 milhões de euros nos próximos em 2012 e 2013, montante que será consagrado a projetos de educação e de formação na Tunísia.

Após a visita à Alemanha, o primeiro-ministro da Tunísia, Hamadi Jebali, seguiu viagem para Itália, tendo-se encontrado esta quinta-feira (15.03) com o seu homólogo, Mario Monti.

O chefe de governo italiano assegurou que o seu país apoia o caminho de democratização da Tunísia, com o qual Roma pretende pretende reforçar a cooperação em diversas áreas, como a luta contra a imigração.

Autores: Dirke Köpp/Madalena Sampaio
Edição: Glória Sousa/Renate Krieger