Tensão política e protestos continuam em Mogadíscio
27 de abril de 2021Na segunda-feira (26.04), combatentes da oposição somali fortemente armados continuaram a ocupar posições em partes da capital, um dia após os confrontos com as tropas governamentais terem eclodido, na sequência da prorrogação do mandato do Presidente.
O país está no fio da navalha depois de Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido como Farmajo, ter provocado uma crise política, ao prolongar o seu mandato na semana passada. Este já é o pior episódio de violência política do país dos últimos anos.
"Farmajo é um ditador, se as pessoas querem um ditador, deveriam ter deixado que o ex-Presidente Mohamed Siad Barre governasse. Presidentes têm vindo e ido com eleições, mas o Presidente Farmajo quer continuar a usar o poder e a força. Somos contra isso e continuaremos a lutar até ele partir", promete o comandante militar Abdulkadkir Mohamed Warsame.
Em Mogadíscio, o repórter da DW Mohamed Odowa relatou esta segunda-feira os confrontos pareciam iminentes: "Os combatentes estão muito próximos uns dos outros, especialmente nas zonas norte da cidade. O Governo quer usar os anciãos dos clãs para dialogar com os grupos da oposição de modo a evitar mais confrontos".
Confrontos já causaram mortes
Testemunhas disseram que homens armados e veículos com metralhadoras estiveram estacionados nos bastiões da oposição, enquanto as principais estradas em Mogadíscio foram bloqueadas.
"Agora assumimos o controlo do distrito de Howlwadag e queremos assumir a presidência, não o vamos deixar sozinho, não vamos parar os nossos combates, só podemos parar quando morrermos", disse o comandante Abdulkadkir Mohamed Warsame
Já os residentes de Mogadíscio instaram ambos os lados a parar de lutar e queixam-se da escassez de eletricidade e água.
No domingo (25.04), grupos de homens armados que se opõem ao Presidente trocaram tiros com as forças de segurança. A polícia local afirmou que pelo menos cinco pessoas foram mortas nos confrontos.
Na noite desta segunda-feira (26.04), manifestantes saíram às ruas de Mogadíscio para se manifestarem contra o prolongamento do mandato de quatro anos do Presidente Mohamed Abdullahi Mohamed.
"Não queremos a prorrogação do mandato. O país deve ir a eleições. O Presidente deve demitir-se e nós não o queremos mais no poder.", disse o manifestante Hussein Mohamud.
Pressão crescente dentro e fora do país
As forças militares que apoiam o antigo Presidente Hassan Sheikh Mohamud juraram retirar à força Farmajo, se ele não regressar às negociações sobre aseleições adiadas ou se não se demitir.
Os partidos da oposição acusam o chefe de Estado de ter agido inconstitucionalmente para se manter no poder ao assinar a lei que prolonga seu mandato por dois anos. Mohamed Abdullahi Mohamed tem enfrentado uma pressão crescente no seu país e no estrangeiro.
O Presidente e os líderes dos cinco estados federais semiautónomos da Somália tinham acordado, em setembro, eleições parlamentares e presidenciais indiretas em finais de 2020 e princípios de 2021.
Mas estas eleições não se realizaram após conversações sobre a forma de conduzir o voto terem caído por terra. Tanto os EUA como a União Europeia ameaçaram sancionar a Somália pelas eleições adiadas.
O Conselho de Segurança da ONU adoptou uma declaração apelando aos partidos na Somália "a rejeitarem a violência e a retomarem o diálogo com urgência e sem condições prévias".