Sissoco: "Tentativa de golpe de Estado terá consequências"
3 de dezembro de 2023O chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, considerou osconfrontos de sexta-feirauma "tentativa de golpe de Estado" contra o Presidente da República e anunciou uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades.
"Esta tentativa de golpe de Estado terá consequências pesadas", afirmou, este sábado (03.12), à chegada ao aeroporto de Bissau, depois de uma semana ausente do país em visitas oficiais a Roma, Timor Leste e Dubai, para participar na COP28.
Em declarações aos jornalistas, o Presidente guineense disse que "o teatro acabou" e frisou que "toda a gente que está implicada nesta tentativa vai pagar caro".
Sissoco Embaló reagia assim às tensões dos últimos dias no país, desde a prisão preventiva do ministro das Finanças, Suleimane Seide, e do Secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro, decretada na quinta-feira à noite, aos confrontos entre a Guarda Presidencial e a Guarda Nacional, na madrugada e manhã de sexta-feira.
O presidente da República anunciou que "segunda-feira, haverá uma comissão de inquérito" e reiterou que "a Guiné-Bissau não pode viver mais em teatro".
"Golpe preparado", diz Sissoco
Sissoco Embaló disse ainda que "há indícios", incluindo escutas telefónicas, de que "esse golpe" não é de agora, que "foi preparado antes de 16 de novembro", o dia da comemoração oficial dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau, organizada pela Presidência da República.
O Presidente considera que o comandante da Guarda Nacional, Vítor Tchongo, que foi preso na sexta-feira, agiu "a mando de alguém" quando foi às celas da Polícia Judiciária retirar os dois governantes para os levar para o quartel.
"Tchongo não é maluco até ao ponto de ir rebentar as instalações da Polícia Judiciária", afirmou.
O chefe de Estado guineense insistiu que "não se faz golpe ao presidente da Assembleia, nem ao primeiro-ministro, só se faz ao chefe de Estado, que é comandante supremo das Forças Armadas".
O Presidente lembrou a tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022 para vincar que já tinha dito àqueles que consideraram que "fizeram teatro" nessa ocasião e "disseram que era inventona", que não voltaria a repetir-se.
Sissoco evocou a frase do antigo Presidente guineense Kumba Yalá, "vivemos em paz ou morremos todos", e disse "é dessa vez".
O Presidente da República defendeu que "o império da lei tem que funcionar na Guiné-Bissau" e disse que se a Procuradoria-Geral da República deixar de ser o advogado do Estado, ele próprio está "disponível para fazer isso" e evitar que o país caia "num colapso".
Sissoco Embaló afirmou que "todos sabem quem são" os autores do "golpe", referindo a seguir que "não há casa de ninguém atacada", numa alusão à denúncia do presidente da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, de que a residência tinha sido cercada e alvejada, com o próprio em casa.
O Presidente convidou os jornalistas a irem "a casa das pessoas ver se foram atacadas, se uma única casa" foi atacada.
À pergunta sobre o alegado envolvimento do Presidente da República nos acontecimentos de sexta-feira, respondeu: "envolvimento como? Será que vou dar golpe a mim próprio?".
Sobre o envolvimento das tropas da Presidência nos confrontos defendeu que "um dos papéis do batalhão da Presidência da República é manter e coadjuvar o Estado-Maior General, é assim que funciona".
"Desobediência à hierarquia", diz Governo
Também em declarações, este sábado, o Governo da Guiné-Bissau considerou uma "desobediência e afronta à ordem hierárquica" a atuação da Guarda Nacional ao retirar da prisão dois membros do executivo detidos pelo Ministério Público que os investiga por suspeitas de prevaricação.
Em comunicado, produzido no final de uma reunião de emergência, o Governo condena a atuação da Guarda Nacional, mas também lamenta o uso de força pelo Estado-Maior das Forças Armadas contra as instalações daquela corporação "ao invés de meios que, seguramente, poupariam vidas humanas".
O Governo diz não ter dado nenhuma ordem nesse sentido.
"Os atos perpetrados pela Brigada de Intervenção Rápida (BIR) da Guarda Nacional (foram) praticados em desobediência e afronta à ordem hierárquica estabelecida", refere o comunicado assinado pelo ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Domingos Quadé.
O Governo também lamentou a atuação do Ministério Público pela decisão de deter os dois governantes, num processo que considera "flagrante violação de regras processuais" durante a sua audição na quinta-feira.
O Governo convocou para a próxima segunda-feira uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros para adotar medidas face aos últimos acontecimentos.