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Termina missão da ONU na Costa do Marfim

Philipp Sandner | cvt
30 de junho de 2017

Numa Costa do Marfim dividida, as tropas das Nações Unidas tinham como missão proteger a população e conter a violência. Agora a missão deixa o país, mas o conflito continua.

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Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou

É um capítulo que chega ao fim. Esta sexta-feira (30.06), os últimos funcionários da missão das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) deixam o país.

Aichatou Mindaoudou, representante especial da ONU no país, enumera as conquistas após 13 anos de missão: 67 mil combatentes foram desarmados e reintegrados na população. Além disso, a ONUCI acompanhou várias eleições, incluindo a de 2016, a primeira eleição geral com a participação da oposição. E não é tudo: "Apoiámos o país a promover os direitos humanos. Transferimos a estação de rádio ONUCI-FM para a Fundação Félix Houphouët-Boigny para a Paz, que segue os mesmos princípios rigorosos e padrões profissionais, para continuar o nosso trabalho".

O fim de uma missão da ONU em África é algo que foge à regra. A maioria das missões militares no continente costuma ser prolongada ou transformada em novas missões, com mandatos diferentes. Contudo, segundo o chefe do escritório da Fundação alemã Friedrich Ebert no país, Thilo Schöne, a transição não foi pacífica. "Aqui no país, acredita-se que a retirada das tropas da ONU é apressada. Mesmo os capacetes azuis ficaram, em parte, surpresos", afirma. "Na verdade, fica no país algum equipamento e dinheiro da missão da ONU, porque a retirada não pode ser feita tão rapidamente."

Termina missão das Nações Unidas na Costa do Marfim

De crise em crise

As primeiras forças de paz chegaram ao país em 2004, numa altura em que a Costa do Marfim estava dividida após um motim. As tropas da ONU, em conjunto com as tropas francesas, criaram uma zona tampão e conseguiram manter as partes em conflito separadas. Mas, depois das presidenciais de 2010, houve confrontos violentos e lutas territoriais entre apoiantes do Presidente Laurent Gbagbo, no sul, e do seu adversário Alassane Ouattara, no norte. Cerca de três mil pessoas morreram. Ouattara era tido como o candidato preferido das forças internacionais no país e muitos especulam que tropas das Nações Unidas o tenham apoiado com armas.

Considerações à parte, a verdade é que a situação pouco mudou de lá para cá, diz Thilo Schöne. "Os atores são os mesmos, este ano houve inúmeros motins e a população tem medo das eleições previstas para 2020." A coesão social - um dos objetivos da missão das Nações Unidas no país - está longe de ser alcançada.

A linha de conflito está dentro do próprio Governo de Ouattara. Um dos seus adversários no partido é o presidente do Parlamento, Guillaume Soro. Observadores sugerem que Soro tenha estado por trás dos motins dos últimos meses. "Ainda estão em curso as investigações sobre as armas encontradas entre os apoiantes do presidente do Parlamento", refere o politólogo marfinense Pierre Dagbo Gode. "É difícil saber qual o papel que a ONUCI terá desempenhado. A missão não ajudou os marfinenses a reconciliarem-se; ela não fez da Costa do Marfim um país unido."

Elfenbeinküste UN Einsatz
Missão das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) esteve durante 13 anos no país, mas desafios internos persistemFoto: picture alliance/dpa/Photoshot

Mudança de imagem pretendida

Questionada pela DW, a representante especial da ONU na Costa do Marfim não acredita que os problemas atuais sejam excecionais. "A saída de uma crise nunca acontece de forma linear. Há avanços e retrocessos. Mas podemos estar certos de que a população e os líderes não perdem de vista o objetivo de ter um Estado estável." Pelo menos, criar essa imagem é, segundo os críticos, a mudança pretendida com esta saída prematura da missão.

O próprio Presidente Ouattara terá solicitado o fim da missão das Nações Unidas junto do seu parceiro económico e militar, a França: "O Governo tem um grande interesse em mostrar que o país está no caminho certo e em atrair investidores; em mostrar que o conflito está resolvido, que houve uma comissão de reconciliação e que tudo está novamente em ordem", diz o especialista da Fundação Friedrich Ebert, Thilo Schöne.

É importante abrir um novo capítulo na história do país, considera Ousmane Zina. O cientista político da Universidade de Bouaké sublinha, no entanto, que a retirada das tropas da ONU tem gerado um grande sentimento de receio no seio na população: "As pessoas perguntam: Quem vai assumir agora o papel de mediador imparcial entre os marfinenses que não se entendem?"

Com Julien Adayé, Fiacre Ndayiragiye