Tráfico de crianças no Benin
7 de novembro de 2012O tráfico de crianças e o trabalho infantil têm chamado muito a atenção nos últimos tempos. Não se trata, porém, de um assunto simples, porque, na realidade, muitas vezes não se sabe bem quem é a vítima e quem é o agressor. Foi o que se descobriu numa visita uma organização no norte do Benin que luta pelos direitos das crianças.
A PIED é uma organização não governamental no norte do Benin que se dedica a crianças carentes. Ali vivem sobretudo crianças oriundas do Burkina Faso e do Togo. A jovem togolesa Alima Manzanbe que chegou recentemente àquela ONG, foi levada para ali pela polícia, juntamente com as suas duas irmãs mais novas. Parece sentir-se intimidada e insegura. Diz que nem ela nem as irmãs dormiram bem na primeira noite que passaram na organização. Pensou muito nos pais, que a mandaram para o Benin, país vizinho do Togo e contou à DW África que "eu devia ir para Cotonou ajudar a minha tia a vender T-Shirts e sumos.”
Embora só tenha 14 anos, do ponto de vista jurídico Alima tem idade suficiente para trabalhar ou para começar uma formação. É o que permite a lei no Benin. Mas também as suas duas irmãs mais novas, com apenas 10 e 12 anos, foram enviadas para o país para trabalhar.
ONG dedica-se a crianças carentes e está preocupada com o tráfico
Em Cotonou, a maior cidade do Benin, no sul do país, as três irmãs deveriam ajudar a tia no mercado e, desta forma, ajudarem a ganhar dinheiro para o material escolar para o ano lectivo seguinte. Este é um dos motivos que Boukaré Salamath, que trabalha como educadora na PIED, ouve com frequência:
“A maioria das meninas parte à aventura, como se diz por aqui. Precisam de ganhar dinheiro para tecidos e para o seu dote. Outras crianças têm férias escolares e trabalham para ganhar o dinheiro para o próximo ano lectivo, para comprar equipamento, uniformes e mochilas.”
O principal objetivo do seu colega Moussa Amadou é que as crianças voltem o mais rápido possível para as suas famílias. É muito importante convencer os pais a assumirem as suas responsabilidades, em vez de enviarem os filhos para junto de outras pessoas.
É importante convencer os pais a assumirem as responsabilidades
Segundo Moussa Amadou “se os traficantes de crianças não são apanhados em flagrante, os pais muitas vezes dizem que não sabem quando os filhos partiram. Eles mentem! E nós dizemos: A culpa é vossa! Vocês têm responsabilidades enquanto pais. Vocês não se preocupam com os vossos filhos. No Benim, os pais ainda não são punidos. Isso é um problema!”
O problema foi reconhecido já há 12 anos pelo governo beninense. Foi até assinado um protocolo adicional das Nações Unidas, que proíbe o tráfico de crianças e a sua exploração de forma explícita. Na verdade, trata-se de algo positivo. Mas a distinção, porém, não é fácil.
Que definição para tráfico de crianças?
O que é ou não tráfico de crianças? O que é ou não trabalho infantil? A professora de antropologia social Erdmute Alber, da Universidade de Bayreuth, na Alemanha, já viajou várias vezes para o Benin. E considera que o acordo não teve apenas efeitos positivos:
Para Erdmute Alber, o que lhe incomoda no protocolo adicional, e que também é um problema frequente nos meios de comunicação social, "é que as crianças são vistas como vítimas. E os pais são muitas vezes vistos como criminosos, mas também como vítimas dos traficantes de crianças. E com a minha investigação quero mostrar que nem os pais nem as crianças são, por si só, vítimas, mas que eles próprios têm uma história para contar. Histórias que muitas vezes também os afectam”conclui.
Autora: Madelaine Meier, /Madalena Sampaio
Edição: António Rocha