Tunísia quer formar governo apartidário após assassinato de opositor
A Tunísia está em choque com o assassinato do opositor de esquerda, Chokri Belaid. E entretanto a política está em alvoroço.
Belaid era um conhecido crítico do governo tunisino, que é liderado pelos islamitas do Ennadha. Depois do assassinato do político, o primeiro-ministro tunisino, Hamad Jebali, anunciou que vai formar um novo governo, apartidário, formado por tecnocratas. O novo Executivo deverá preparar caminho para novas eleições no país, a serem realizadas tão depressa quanto possível.
Esta quarta-feira (06.02), o assassínio do opositor Chokri Belaid fez com que milhares de pessoas fossem para as ruas protestar. Muitas chegaram a entrar em confronto com a polícia em várias cidades tunisinas.
A correspondente em Tunes, Sarah Mersch, descreveu o cenário em frente ao hospital para onde o corpo de Belaid foi levado na capital do país do norte africano que foi o primeiro a protagonizar o movimento de protestos populares que acabou ficando conhecido como Primavera Árabe, há dois anos atrás.
Cerca de mil pessoas juntaram-se ali. Homens e mulheres, idosos e estudantes choravam a morte do opositor político, que foi morto a tiro à saída de casa. Os autores do assassínio, ainda desconhecidos, dispararam cinco tiros para a cabeça e para o peito do político.
"Somos todos tunisinos. De direita ou de esquerda, é indiferente. A Tunísia não é assim. Não é possível que aconteça uma coisa destas no nosso país", indignou-se uma manifestante.
Ameaças de morte
É a primeira vez que um político é morto a tiro na Tunísia desde os anos 50. Na noite antes do seu assassínio, Belaid tinha alertado para a possibilidade de assassinatos políticos num talk-show na televisão tunisina. Ele próprio recebeu várias ameaças de morte.
Muitos políticos da oposição também se juntaram frente ao hospital. Iyed Dahmani, deputado do partido de centro-esquerda Al Joumhouri responsabiliza indiretamente a coligação governamental pelo assassinato: "Este é um assassinato político, um golpe contra a revolução [de finais de 2010]", constata Dahmani.
"São responsáveis aqueles que durante meses ignoraram a violência política. Cada vez que fazíamos avisos, eles diziam 'eles são os nossos filhos, temos de entrar em diálogo com eles'. Hoje vemos que este diálogo com os fundamentalistas islâmicos e extremistas conduz a assassinatos políticos", acrescenta.
Durante a tarde de quarta-feira (06.02), vários milhares de pessoas reuniram-se frente ao Ministério do Interior em Tunes: "Água e pão, mas Ennahda não" clamaram os manifestantes, lembrando os slogans da Revolução de há dois anos na Tunísia. Os manifestantes pediam a demissão do governo e a convocação de uma greve geral.
"Este governo está a levar-nos para um beco sem saída", disse um dos manifestantes. "Votámos nele, porque pensámos que são justos. Mas em vez disso só estão interessados nos seus cargos. Deus proteja o nosso país."
Alertas contra nova ditadura na Tunísia
Chokri Belaid era um dos mais duros críticos do governo liderado pelo Ennahdha. E alertou vezes sem conta para os perigos de uma nova ditadura. Em cooperação com outros partidos da oposição, o político de 47 anos fundou no ano passado a Frente Popular, a terceira maior forca política na Tunísia, segundo sondagens.
O professor universitário Mohammed Souissi conhecia Belaid desde os tempos de estudante. E ainda está a tentar perceber o que aconteceu. "Belaid trouxe novas ideias. Era um homem do povo, um político corajoso, que se tornou desconfortável para o Ennahdha e para os salafistas. Era um homem que fazia as pessoas pensar e é isso que a Tunísia precisa. Agora, o país está a acordar", afirma.
Autores: Sarah Mersch/GCS/ap/dpa
Edição: Renate Krieger