Ucrânia: Queixas de discriminação racial nas fronteiras
28 de fevereiro de 2022Ana Luís – estudante angolana do curso de Tecnologia de Transportes - é disso exemplo. Ela já se encontra na Polónia, onde se refugiou depois do drama que viveu para sair da capital ucraniana, Kiev.
"Foi horrível. Levarei trauma deste episódio”, revela a estudante, acrescentando que para chegar à linha da fronteira com a Polónia teve de caminhar cerca de 40 km à pé, debaixo de um frio intenso.
"Começamos a caminhar por volta das 11horas e só chegamos à fronteira cerca das 20 horas locais. E consegui passar a fronteira era por volta das 4 horas da madrugada”, conta Ana.
A estudante descreve que o ambiente na fronteira do lado ucraniano como o de "salve-se quem puder", "porque há muita gente a empurrar-se. É muita gente a tentar sair daí”.
E é nessa azafama, diz a estudante, que "há muita descriminação racial”.
"Passamos por isso no lado da Ucrânia. Isto tem mesmo a ver com o racismo. Todos nós estamos a fugir da guerra, mas eles acham-se melhores e os mais favorecidos do que nós os outros”, revela Ana Luís.
Para eles, observa Ana, "em primeiro lugar está o ucraniano, segundo ucraniano, etc”.
Justificação
Mas o estudante angolano na Ucrânia Manuel Assunção tem uma justificação para o sucedido.
"Assistimos os tanques de guerra a passar e as bombas a caírem é normal que as pessoas fiquem tensas. E o ucraniano é patriota. Permitiram os ucranianos passarem e porque os africanos também queriam passar ao mesmo tempo houve confusão”, descreve Assunção.
As autoridades angolanas reportam que cerca de 160 angolanos que viviam na Ucrânia já se encontram na Polónia.
Mas mesmo assim, ainda há alguns que continuam sob fogo cruzado em Ucrânia, conta Manuel Assunção, um dos voluntários que está apoiar na retirada dos seus concidadãos.
"Eu só vou sair da Ucrânia depois da retirada do último angolano. Enquanto isso não acontecer não saio daqui”, garante Assunção.
Manuel Assunção acrescenta que neste momento, há três angolanos que desde última sexta-feira (25.02) estão na fronteira do lado ucraniano à procura de entrar na Polónia.
"Pedi a eles para voltarem às suas casas para juntos pensarmos alguma forma de sair em segurança”, disse.
Enquanto continuam os ataques, o moçambicano Álvaro Simão Cossa que vive na Ucrânia há mais de três décadas lamenta a invasão russa.
"É muito doloroso para mim. Isso não devia acontecer. Estou com a minha família e com toda gente aqui. É triste o que está acontecer. Gostaria que isso não acontecesse com nenhum país do mundo”, diz.
E Cossa apela para uma resolução diplomática do conflito.
Quantos moçambicanos estão afetados por esta crise?
As autoridades moçambicanas ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o número de cidadãos nacionais afetados pela tensão na Ucrânia.
Em curta conversa telefónica com à DW África, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, disse que brevemente a ministra de tutela, Verónica Macamo, poderá pronunciar-se sobre o assunto.
De acordo com a Nações Unidades, mais de 370 mil pessoas cruzaram a fronteira ocidental da Ucrânia para os países vizinhos como a Polónia, Hungria, Roménia, Moldávia e Eslováquia.