Ucrânia: O que são os "drones kamikaze" e de onde vêm?
19 de outubro de 2022As Forças Armadas ucranianas dizem ter identificado e abatido o primeiro "drone kamikaze" a 13 de setembro. Desde então, já terão destruído 223 "drones" semelhantes.
Kiev afirma que a maioria destes aparelhos não tripulados são Shahed-136, de fabrico iraniano, e têm sido lançados principalmente do sul da Ucrânia. Mas também houve casos de lançamentos a partir da região russa de Kursk e da Bielorrússia.
Mais de 85% dos "drones" lançados foram destruídos, de acordo com o Exército ucraniano. Mas outros mataram civis e atingiram infraestruturas elétricas, provocando apagões em diversas zonas.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz estar preocupado com a nova tática de guerra russa: "O mundo pode e deve parar esse terror. Quando falamos sobre a necessidade de sistemas de defesa aérea e antimísseis da Ucrânia, falamos sobre vidas reais tiradas por terroristas", disse Zelensky.
O que são os "drones kamikaze"?
Os "drones" são aeronaves não tripuladas, controladas remotamente, a que os ucranianos já deram o nome de "motorizadas" por causa do zumbido peculiar que fazem quando cruzam os céus. São chamados de "kamikaze" devido à tática de guerra que o Japão utilizou durante a segunda Guerra Mundial, em que pilotos suicida, em aviões carregados de explosivos, atentavam contra um alvo de modo a causar a sua total destruição.
O Shahed-136 é uma das versões iranianas do aparelho. Alcança uma velocidade máxima de 185 quilómetros por hora e chega a atingir um alvo a cerca de mil quilómetros de distância.
"Podem voar em bandos. No radar, aparece apenas uma marca, embora sejam cinco 'drones'. Infelizmente, não é possível acertar neles a 100% porque é um alvo difícil, muito pequeno", explica o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuriy Ihnat.
Os aparelhos carregam explosivos que detonam no impacto, destruindo-se a si mesmos e a alvos de grande dimensão como prédios e infraestruturas.
De onde vêm os "drones"?
As autoridades ucranianas acusam, desde agosto, o Irão de fornecer ao Exército russo "drones kamikaze", mas Teerão nega estar envolvido nessa transação, tal como Moscovo.
Inicialmente, a Rússia utilizou "drones" para destruir equipamento militar ucraniano na linha da frente, mas, a partir de meados de setembro, mudou de estratégia, atacando com "drones" infraestruturas nas regiões de Odessa, Mykolaiv e Kharkiv, de acordo com dados do Exército.
Os Estados Unidos de América também acusam o Irão de ser o principal fornecedor dos "drones".
Vedant Patel, porta-voz adjunto do Departamento de Estado norte-americano, prometeu esta semana que Washington irá tomar medidas "agressivas" para dificultar a venda de "drones" e mísseis iranianos à Rússia: "Qualquer pessoa que faça negócios com o Irão com ligações ao desenvolvimento de 'drones' ou mísseis balísticos, ou do fluxo de armas do Irão para a Rússia deve ficar em alerta. Os EUA não hesitarão em recorrer a sanções ou tomar medidas contra os responsáveis", ameaçou.
A União Europeia admite igualmente implementar sanções. Bruxelas anunciou esta quinta-feira que tem "provas suficientes" de que os "drones" usados pela Rússia na Ucrânia foram fornecidos pelo Irão e promete "reagir rapidamente".
Qual o impacto na guerra?
As Forças Armadas russas não controlam o espaço aéreo ucraniano. Desde o final de agosto, o Exército ucraniano reconquistou vastos territórios controlados por Moscovo, mas os últimos ataques russos têm destruído infraestruturas vitais.
30% das centrais elétricas ucranianas foram destruídas, alertou na terça-feira o Presidente ucraniano.
Volodymyr Zelensky disse que, para intercetar os "drones kamikaze", a Ucrânia precisa de armas de longo alcance, mas "da NATO, só recebemos armas de curto alcance".
Para reforçar a sua defesa aérea, o país pediu ajuda a Israel, que dispõe da chamada "Iron Dome" ("cúpula de ferro"), um sistema usado para intercetar mísseis disparados por militantes palestinianos que, segundo o Exército israelita, tem uma eficácia superior a 90%.
Mas Israel tem-se mostrado relutante em fornecer apoio militar, embora condene a invasão russa da Ucrânia. O antigo primeiro-ministro Benjamin Netanyu afirmou em entrevista à emissora norte-americana MSNBC que, se Israel ajudar a Ucrânia, armas israelitas poderão acabar nas mãos do regime iraniano caso sejam intercetadas pela Rússia.