UE: Ataque à Ucrânia custará "um futuro próspero" à Rússia
19 de fevereiro de 2022A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou esta sábado (19.02) o Kremlin de que um ataque à Ucrânia custará à Rússia "um futuro próspero" e acusou Moscovo de tentar "minar" a arquitetura de segurança europeia.
"O perigoso pensamento do Kremlin, procedente de um obscuro passado, pode custar à Rússia um futuro próspero", avisou a dirigente europeia, na sua intervenção na Conferência de Segurança de Munique, na qual anunciou os preparativos de um "robusto" pacote de sanções contra a Rússia se concretizar a invasão da Ucrânia.
Sem entrar em pormenores, referiu um "robusto pacote de sanções económicas e tecnologia de última geração" cuja aplicação poderá representar "um custo alto e graves consequências para os interesses económicos de Moscovo".
"Tentativa de reescrever a ordem internacional"
A presidente da Comissão Europeia acusou ainda a Rússia e a China de "uma tentativa flagrante de reescrever as regras da ordem internacional". "Não podemos deixar isso acontecer, estamos perante uma tentativa flagrante de reescrever as regras da ordem internacional", disse.
A Rússia e a China "procuram uma 'nova era' quando o que querem, na realidade, é substituir o Estado de direito pelo estado dos mais fortes; a autodeterminação pela intimidação e a cooperação pela coerção", disse a responsável, numa referência ao comunicado conjunto publicado por ambos os países no início do mês.
A presidente da Comissão Europeia garantiu ainda a segurança energética da União Europeia em caso de a Rússia cortar o fornecimento de gás como represália. "Diversificaremos fornecedores e fontes para que a UE seja mais independente no terreno energético" afirmou.
Diplomacia
Garantindo que a UE e a aliança atlântica estão "completamente alinhadas e unidas", Von der Leyen manifestou o desejo de que "a diplomacia acabe por prevalecer" e a crise se resolva sem derramamento de sangue.
No entanto, lembrou que as manobras da Rússia na fronteira com a Ucrânia representam "a maior acumulação de tropas em solo europeu desde os dias mais negros da Guerra Fria".
Por seu turno, o secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg, avisou hoje a Rússia de que, se quiser ter "menos NATO" nas suas fronteiras, só conseguirá ter "mais NATO", sublinhando o compromisso "inabalável" dos Estados-membros da organização.
"Moscovo tenta reverter a história e recriar a sua esfera de influência", acusou Stoltenberg num discurso na Conferência de Segurança de Munique. "Somos todos aliados da NATO, somos apenas um e faremos sempre o que for necessário para nos protegermos e defendermos mutuamente", garantiu.
"Solução pacífica"
Stoltenberg instou Moscovo a retirar as suas tropas da fronteira com a Ucrânia como "primeiro passo" para uma "solução pacífica" das tensões dos últimos meses.
"Apesar do que diz Moscovo, não vemos sinais de desescalada", afirmou, sublinhando, no entanto, que ainda "não é tarde" para "mudar de rumo e dar um passo atrás perante o abismo".
O secretário-geral da NATO, que recebeu o galardão Ewald von Kleist, atribuído pela organização da Conferência de Segurança de Munique, reiterou que a aliança está "disposta ao diálogo".
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países do G7 exigiram hoje o fim das atividades militares russas na fronteira com a Ucrânia, considerando que são um risco para a segurança mundial.
"Não vimos até agora provas de uma redução", afirmaram os chefes das diplomacias dos países com as economias mais ricas num comunicado divulgado após uma reunião à margem da Conferência de Segurança de Munique.
Alemanha distancia-se de declarações dos EUA
Por seu turno, a Alemanha, que exerce atualmente a presidência do G7, distanciou-se da convicção dos Estados Unidos de que um ataque russo à Ucrânia está decidido e iminente, apelando a que "não se presumam" as decisões russas.
"Em situações de crise, o pior é presumir ou tentar adivinhar" o que vai acontecer, disse a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, durante a reunião dos chefes da diplomacia do grupo.
Afirmando ser "importante olhar mais de perto" a situação no terreno, a ministra mostrou-se menos convencida do que Washington sobre a iminência de um ataque.
Na sexta-feira, o Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou-se "convencido" de o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, já decidiu invadir a Ucrânia "nos próximos dias", opinião hoje secundada pelo secretário da Defesa, Lloyd Austin, segundo o qual as tropas russas "estão em vias de se mobilizar e preparam-se para atacar".
"Não sabemos se já está decidido um ataque, mas a ameaça sobre a Ucrânia é bem real", afirmou por seu lado Baerbock, admitindo que existem "diferentes cenários". "Estamos prontos a fazer face a qualquer situação. Ao mesmo tempo, faremos tudo para que essa situação não aconteça", disse.
Alerta máximo
As autoridades norte-americanas e europeias estão em alerta máximo para quaisquer tentativas da Rússia para criar um pretexto para uma invasão da Ucrânia.
Nas últimas horas ocorreram graves violações do cessar-fogo estabelecido em 2015, ao abrigo dos Acordos de Minsk, na região ucraniana do Donbass, linha da frente que opõe o exército ucraniano às forças separatistas pró-russas.
O exército ucraniano e os separatistas acusaram-se mutuamente de novos ataques no leste do país, tendo as autoridades ucranianas relatado 20 violações do cessar-fogo por separatistas durante a noite, enquanto os rebeldes pró-Rússia referiram ter contabilizado 27 ataques pelo exército ucraniano.
Um soldado ucraniano foi hoje morto em confrontos com os separatistas apoiados por Moscovo no leste do país, anunciou o exército da Ucrânia, elevando os temores de uma invasão russa.
Mas as forças armadas ucranianas afirmam, em comunicado, que "controlam a situação" e "continuam a sua missão de repelir a agressão armada russa".
O Ocidente e a Rússia vivem atualmente um momento de forte tensão, com o regime de Moscovo a ser acusado de concentrar pelo menos 150.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia, numa aparente preparação para uma potencial invasão do país vizinho.
Moscovo desmente qualquer intenção bélica e afirma ter retirado parte do contingente da zona.
Artigo atualizado às 18h25 do Tempo Universal Coordenado (UTC) com informações da ruenião do G7