Um mês depois da fuga de Dhlakama
2 de dezembro de 2013O centro de Moçambique continua a viver a pior tensão desde a assinatura do acordo de paz entre o Governo e a RENAMO, em 1992. O clima de tensão político-militar persiste, com o registo de ataques quase diariamente no troço entre o rio Save e Muxungué, no centro de Moçambique, na estrada nacional que liga o sul e o norte do país.
No mais recente incidente, homens armados, alegadamente da RENAMO, realizaram este fim-de-semana dois ataques na região de Muxungué, que se saldaram em três mortos e vários feridos.
Um ponto sem retorno ou uma solução à vista?
Para António Muchanga, membro do Conselho de Estado designado pela RENAMO, a situação piorou desde a tomada da base de Satunjira e a consequente fuga do seu líder, Afonso Dhlakama, para local incerto.
"O desaparecimento do presidente da RENAMO veio complicar ainda mais este processo político sinuoso", afirma. "Foi um erro estratégico do Governo, se isto continuar, não sei o que vai ser deste país. A maior parte das pessoas que estão a ser perseguidas do lado da RENAMO atacam para não serem atacadas, como forma de se defenderem", considera.
Já para o analista político Lázaro Bamo houve uma alteração para melhor na vida das pessoas, já que, quer acreditar, se "abriu um novo caminho para a pacificação do país" e terminou "o mito de Satunjira", onde, de acordo com o analista, "sempre que Dhlakama proferia ameaças, as pessoas recordavam a guerra".
Desde a tomada da base da RENAMO em Satunjira, nos finais de outubro, muito se especulou em torno de Afonso Dhlakama. Admitiu-se a hipótese de que o líder da oposição pudesse estar morto.
Dhlakama e o diálogo
O Secretário-Geral da Renamo, Manuel Bissopo, que tinha fugido com Dhlakama de Satunjira, desmentiu tais especulações na sua primeira aparição em público, na última semana, em Maputo. "Ele está bem", garantiu, explicando que "dentro em breve voltará a falar para o seu precisoso povo". "Está dentro do país e acompanha atentamente o desenrolar dos acontecimentos".
O analista Baltazar Faiel considera positiva a notícia segundo a qual Dhlakama está vivo e disposto a dialogar, porque, segundo frisou, o líder da RENAMO é um interlocutor válido.
A opinião geral aponta para o diálogo como via para o Governo e a RENAMO alcançarem um acordo que ponha fim ao clima de tensão político-militar. No entanto, na sequência da escalada de ataques no centro do país, o Governo defende a desmilitarização imediata da RENAMO.
"Posições vão aproximar-se", diz analista
Raul Domingos, atualmente presidente do Partido Democrático de Moçambique e que foi chefe da delegação da RENAMO nas negociações que culminaram com o fim do conflito armado em 1992, contrapõe, afirmando que "não só a RENAMO não deve ter homens armados. A FRELIMO também não deve ter homens armados". Para o dirigente político, sem "a despartidarização do Estado, da Administração Pública e Forças de Defesa e Segurança, é muito difícil chegarmos a um entendimento sobre o desarmamento da RENAMO".
A RENAMO abandonou o diálogo com o Governo depois de 20 rondas de negociação, sem consenso, e exige a presença de mediadores e observadores para voltar à mesa negocial. Baltazar Faiel considera um passo positivo o facto de o Governo ter aceite finalmente a presença de observadores nacionais nas negociações.
"Já se deu aqui um passo importante. Penso que o mais fácil é refereir os termos de referência da participação destes observadores. Mas as posições vão-se aproximar", conclui.