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UNITA: "A quem interessa atacar deputados?"

Guilherme Correia da Silva27 de maio de 2016

Três pessoas morreram, na quarta-feira, em ataques a uma comitiva em que seguiam deputados da UNITA, na província de Benguela. Adalberto da Costa Júnior, do maior partido da oposição em Angola, pede inquérito "rigoroso".

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Cidade de Benguela (foto de arquivo)Foto: DW

"Foi um ataque para matar", diz Adalberto da Costa Júnior. O chefe da bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) era um dos três deputados do partido que integravam a comitiva, de visita à comuna de Capupa, no município do Cubal. Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas, segundo as autoridades. De acordo com o maior partido da oposição, os atacantes seriam apoiantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder.

Em entrevista à DW África, Adalberto da Costa Júnior diz não ter dúvidas de que o ataque foi "preparado". No passado, segundo o deputado, já ocorreram incidentes do género no local. A UNITA pede, por isso, um inquérito urgente e "rigoroso" para apurar responsabilidades e perceber qual o motivo do ataque.

DW África: O que esteve na origem dos confrontos?

[No title]

Adalberto da Costa Júnior (ACJ): É uma pergunta que me coloco permanentemente, o que leva pessoas a atacarem uma coluna com deputados e com a própria polícia, que também foi alvo dos ataques. Dado o facto de termos encontrado um ataque muito violento, com várias emboscadas, não tenho dúvidas de que foi algo preparado. Tive esta sexta-feira de manhã (27.05) um encontro com o comandante da polícia da província de Benguela e com o governador, e o que mais solicitei foi um inquérito muito rigoroso para apurar responsabilidades. E espero que não se fique por um habitual "lavar de mãos", que faz com que os autores de muitos crimes não sejam punidos neste país.

DW África: Mas houve por parte dos membros da UNITA alguma provocação?

ACJ: Nós não estivemos em nenhum sítio onde houve atos político-partidários. Nós, grupo parlamentar da UNITA, estamos a fazer aquilo que o regimento da Assembleia permite ao deputado – na última semana de cada mês, os deputados fazem visitas de constatação aos eleitores e às instituições.

DW África: Convosco estavam também as forças de segurança.

ACJ: Não só estavam as forças de segurança como o município do Cubal fez deslocar quadros para acompanhar a delegação. Mas a minha pergunta é: por que é que o Ministério do Interior tem necessidade de mentir à população? Na quinta-feira, vimos o Ministério do Interior em Benguela a fazer sair um comunicado desastroso. No comunicado fala-se em "atividades partidárias", mas não houve nenhuma atividade partidária. Diz-se ainda uma grosseiríssima mentira: que não houve conhecimento dos sítios visitados. Mas isso é inacreditável. Antes de vir para cá, reunimos com o governo provincial e com as administrações. Fomos acompanhados pela polícia… Francamente. Isto é um indicador de que há aqui qualquer coisa mal explicada.

Karte Angola mit den 18 Provinzen Portugiesisch
Ataques ocorreram no município do Cubal, na província de Benguela

DW África: A UNITA já avançou que os atacantes seriam apoiantes do MPLA. Que provas tem disso?

ACJ: Os atacantes foram seguramente levados a agir por questões partidárias. É possível dizê-lo, porque, antes, estes atacantes tinham retirado bandeiras da UNITA e colocado bandeiras do MPLA na área em que o ataque acorreu. Sabendo esse pormenor pode-se fazer facilmente esta lógica. Mas eu não tenho nenhuma dúvida em ir mais longe e dizer que estes indivíduos foram usados – mas não deixam de ter responsabilidade. A quem interessa fazer ataques a deputados? A quem interessa criar um clima de tensão de âmbito nacional? Não será que isto tem a ver com intenções de atrasar a realização das eleições em Angola? São perguntas que eu coloco.

DW África: Sabe quando será criada uma comissão de inquérito?

ACJ: Unilateralmente, ao nível do Ministério do Interior, foi criada uma comissão. Mas deu para ver que não é essa a comissão que vai trazer respostas, porque está em circunstância de absoluta parcialidade. Deve ser criada uma comissão, institucional, que faça um levantamento e permita tirar leituras que impeçam a ocorrência deste tipo de atos. Porque os atos este ano são demasiados – houve atentados no Cuando Cubango ainda no mês passado, houve este atentado aqui e há atentados a deputados, individualmente. O Estado deve pôr um ponto final a estas coisas e fazer algo para encontrar, definitivamente, a explicação sobre o que está a ocorrer e quem está envolvido nisto.

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