1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

UNITA preocupada com declarações "intimidatórias" do MPLA

Lusa
3 de agosto de 2022

A UNITA, o maior partido da oposição em Angola, criticou hoje as declarações de um dirigente do MPLA, o partido no poder, "com conteúdos intimidatórios e de insinuação belicosa".

https://p.dw.com/p/4F47O
Foto: Daniel Vasconcelos/DW

"O Secretariado da Comunicação e Marketing da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola] acompanhou com preocupação a conferência de imprensa realizada a 1 de agosto e dirigida pelo Secretário do Bureau Político do partido no poder para os Assuntos Eleitorais, com conteúdos intimidatórios e de insinuação belicosa", refere o partido em comunicado.

O documento sublinha que "depois de décadas de incompreensões e conflito armado, é ponto assente que a Angola de hoje e a do futuro pressupõem diálogo e concertação permanentes entre os seus filhos".

Em causa estão as declarações do secretário do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) para os Assuntos Eleitorais, João "Jú" Martins, que rejeitou qualquer negociação com a UNITA para a alternância de poder no país, que realiza as suas quintas eleições gerais no dia 24 deste mês.

"Neste âmbito, o encontro informal entre dirigentes da UNITA e do MPLA, realizado dentro do espírito de abertura que é característico ao presidente da UNITA, Eng.º Adalberto Costa Júnior, visava estabelecer pontes de forma a garantir um ambiente eleitoral tranquilo e a estabilidade nacional, o que nas sociedades democráticas é recomendável", sublinha o comunicado.

Violência verbal

O maior partido da oposição angolana alerta que "toda e qualquer manifestação de violência verbal a indiciar uma provável instabilidade política é totalmente alheia ao interesse da UNITA e dos angolanos".

"A plataforma eleitoral suportada pela UNITA liderada por Adalberto Costa Júnior representa, hoje, a vontade da grande maioria dos angolanos que, de forma democrática, clamam pela alternância do poder", refere o documento.

Nesse sentido, salienta a UNITA, "nada justifica todo este alarmismo manifestado pelo senhor João Martins, que, na verdade, apenas esconde as reais intenções do seu partido".

Angola, que futuro? "O meu voto significa desenvolvimento"

"O Secretariado da Comunicação e Marketing da UNITA lamenta o facto do aludido dirigente, devidamente mandatado pela cúpula do seu partido, confunda, de forma reiterada, este partido com o Estado, pois estes são dois entes absolutamente distintos", frisa o comunicado.

O conjunto de reivindicações apresentadas, documentalmente, pela UNITA junto das instâncias do Estado, nomeadamente, o Tribunal Constitucional e a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), com conhecimento da opinião pública, "são legítimas como também podem ser provadas material e juridicamente", realça a nota.

"Este secretariado desafia a direção do partido no poder a apresentar provas que desqualifiquem e desacreditem as sondagens que exprimem, claramente, a vantagem da UNITA, e a vontade dos cidadãos por uma alternância pacífica, ordeira, segura e inclusiva que encontra a sua expressão na plataforma eleitoral, Frente Patriótica Unida", destaca o partido.

"Pelo contrário, os resultados encomendados pelo regime e publicados por empresas, de facto e de jure, inexistentes são surrealistas e fora da realidade que os cidadãos angolanos vivem, em 2022, na véspera das eleições gerais", acrescentam.

Para a UNITA, "o extremar de posições do atual regime contra as forças patrióticas representadas pela UNITA é o reflexo da tomada de consciência e da coragem dos cidadãos em geral e dos eleitores, em particular, que rejeitam o regime e apostam na alternância, porquanto o roubo do erário, organizado e praticado pelo partido no poder, é a causa da pobreza extrema que assola o país".

"Qual transição, qual negócio"

João Martins disse, na segunda-feira, que foi abordado pelo presidente do grupo parlamentar do MPLA, no sentido de se disponibilizar para um encontro com o presidente da UNITA, do qual deu nota ao presidente do partido (João Lourenço, também Presidente da República de Angola e que se recandidata ao cargo) e que se realizou em 27 de maio, num hotel de Luanda.

Ao longo de três horas e meia, falou-se de problemas do momento político atual, nomeadamente as listas dos eleitores e o tratamento da base de dados, bem como visibilidade dada pela imprensa pública à UNITA, mas não se abordaram questões relativas à transição.

"Qual transição, qual negócio", sublinhou Martins, acrescentando que, para tratar de assuntos dessa natureza, teriam de ser mandatados pela direção do partido, e não apenas pelo seu líder, já que "o poder se conquista, não se negoceia".

No encontro, foi também transmitido ao presidente da UNITA que algumas das ações que estava a organizar poderiam ter "um caráter subversivo" e que "a subversão foi vencida a 22 de fevereiro de 2002 [quando o líder e fundador da UNITA, Jonas Savimbi foi morto em combate pelo exército angolano] e foi vencida pelo Estado angolano".

"Por isso, alertámos que não era avisado ele deixar que algum tipo de ações pudesse ter esse cunho, porque aí não era o MPLA que iria contender com a UNITA, e sim o Estado angolano com as suas instituições", frisou.

"Como o fez em fevereiro de 2002, também o faria agora se continuarem a ser realizadas ações que perigam a estabilidade, a ordem pública, fora da matriz da contenda política", vincou o mesmo responsável.

Debate DW: O que os jovens políticos esperam de Angola?