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Vacina contra a poliomielite serve para Covid-19?

19 de junho de 2020

Investigadores americanos e dinamarqueses pretendem testar nos guineenses o uso de vacinas contra a poliomielite para combater a Covid-19. Será o Conselho de Ministros da Guiné-Bissau a decidir se isso avança ou não.

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Kongo Ebola Ausbruch
Foto simbólicaFoto: Reuters/J. Akena

Na Guiné-Bissau, continua a polémica em torno de um estudo de uma equipa de investigadores americanos e dinamarqueses que pretende testar nos guineenses o uso de vacinas contra a poliomielite para combater o novo coronavírus.

Reunido o Conselho de Ministros nesta quinta-feira (18.06), o Governo confirma que está a decorrer o estudo, visando apurar a validade, ou a pertinência científica, do uso de vacinas até aqui aplicadas no combate à poliomielite para o combate da nova pandemia de Covid-19.

Em consequência, ficou decidido que cabe ao Conselho de Ministros analisar e pronunciar-se sobre qualquer decisão relacionada com a aplicação de vacinas em toda a extensão do território da Guiné-Bissau, segundo um comunicado do Governo guineense divulgado na noite desta quinta-feira (18.06), a que tivemos acesso.

Ninguém foi testado

Guinea-Bissau MSF Unterstützung Coronakrise
ONG Médicos Sem Fronteiras ensaiando medidas de proteção contra a Covid-19Foto: MSF/E. Costigan

O assunto suscitou a reação da sociedade guineense que questiona a razão da realização do teste na Guiné-Bissau e não nos países mais afetados pela pandemia da Covid-19 no mundo. Aos jornalistas em Bissau, a Alta Comissária para a Covid-19, Magda Robalo esclarece:

"Ninguém está a ser testado. Há um protocolo para se fazer um estudo num futuro breve, onde um determinado número de pessoas deveria fazer parte de um estudo, onde se iria dar a um grupo a vacina contra a poliomielite para ver se desenvolvem imunidade contra o vírus que causa a Covid-19. Isto ainda não está a acontecer.”

A meta é testar o uso da vacina oral anti pólio num grupo de 3.400 guineenses acima dos 50 anos, pessoas consideradas vulneráveis à Covid-19, mas que ainda não tenham tido contacto com o vírus. O ministro da Saúde Pública, António Deuna também veio ao público para serenar os ânimos dos guineenses:

"Em nenhuma parte do mundo se está a aplicar essa vacina do pólio para combater a Covid-19, que se fará aqui na Guiné-Bissau. As pessoas não entendem o que se passa e estão a fazer propaganda de que estamos a testar vacinas nos guineenses para curar a doença da Covid-19, isso não é verdade. Apenas estamos a fazer um estudo”, clarifica o ministro da Saúde Pública.

"O que talvez gere polémica é que devíamos informar a população antes de iniciarmos esse estudo”, admite.

VPO tem bons antecedentes

Guinea-Bissau Coronavirus Tee aus Madagaskar
A Guiné-Bissau recebeu de Madagáscar o chá que supostamente combate o coronavírusFoto: DW/B. Darame

Na denúncia feita pelo ativista Miguel de Barros, revela-se que o estudo deve começar brevemente e vai decorrer durante seis meses. O projeto Saúde Bandim diz que a Vacina de Pólio Oral (VPO) é usada há 40 anos na Guiné-Bissau. No entanto, as evidências coletadas nos últimos 20 anos na Guiné-Bissau indicam que a vacina pode ter efeitos colaterais benéficos e fortalecer a capacidade do organismo no combate a outras infeções. Esses efeitos são chamados de "efeitos não específicos".

O Projeto Saúde Bandim, uma colaboração entre o Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau e a Universidade do Sul da Dinamarca, fundada em 1978, tem sido o grupo principal a estabelecer que as vacinas têm efeitos não específicos.

A hipótese de que a VPO fortalece a capacidade do sistema imunológico de adultos e crianças é suportada por vários ensaios, segundo consta numa nota do projeto enviada à DW África:

Queniana na linha da frente contra a Covid-19

"Nas décadas de 1960 e 1970, os trabalhadores de fábricas russas que receberam VPO tiveram menor risco de gripe [influenza]. Mais recentemente, em ensaios comparando a vacina viva VPO versus a vacina inativada contra a poliomielite, os bebés Finlandeses que receberam VPO tiveram menor risco de otite média.

E os bebés do Bangladesh que receberam VPO tiveram menos risco de diarreia bacteriana. E mais importante: os recém-nascidos na Guiné-Bissau que receberam VPO ao nascer tiveram uma mortalidade neonatal 32% menor.”

Na referida nota, conclui-se que não se sabe se VPO pode prevenir ou melhorar a doença por coronavírus. Contudo, "tendo em conta o efeito benéfico contra outras infeções, essa hipótese é plausível e a melhor maneira de responder a essa pergunta é realizar um estudo.”

"Há também esperança de que outras vacinas conhecidas e antigas possam fornecer proteção não específica contra a Covid-19. Estão a ser realizados ensaios de vacinação contra BCG na Austrália, Grécia, Holanda, EUA, França, Espanha e Dinamarca”, completa o projeto Saúde de Bandim, que está debaixo de fortes críticas na Guiné-Bissau.

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