Agnelo Regala: "Vamos continuar a denunciar"
9 de maio de 2022"Foram sete ou oito disparos... E recolhemos as cápsulas. Verificou-se que o único tiro que eu apanhei não foi muito profundo, a bala entrou e saiu. Perdi muito sangue, mas [o mais grave] era a vida de uma criança de dois anos ao colo e da esposa que estava sentada um pouco mais distante", disse Agnelo Regala à DW África.
O deputado e líder do partido da oposição União para Mudança (UM) foi alvo de disparos na noite do último sábado (07.05), junto à sua residência, em Bissau. O deputado foi atingido por uma bala na coxa. Desconhecem-se, para já, os autores do ataque.
O ataque acontece depois de Regala ter criticado, na passada quarta-feira (04.05), juntamente com o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e mais quatro formações políticas, o regresso à Guiné-Bissau da força militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que considera uma invasão ao país
"Fim da tolerância pacífica"?
Em comunicado, a UM, formação política dirigida por Agnelo Regala, considera o ato "uma tentativa de assassinato" do seu líder e chamou a atenção da comunidade internacional para o "fim da tolerância pacífica" e da "generalização da violência", em autodefesa dos cidadãos e das famílias guineenses.
O partido declara a sua "firmeza e determinação em continuar a lutar pelos nobres ideais que defende, nomeadamente, o Estado de Direito Democrático, a soberania do Estado da Guiné-Bissau, as liberdades e direitos fundamentais dos cidadãos, a justiça social, o bem-estar e progresso do povo, assim como a defesa intransigente da Constituição e das Leis da República da Guiné-Bissau".
A União para a Mudança denuncia igualmente o "uso abominável e sistemático da violência moral e física como forma de intimidar e silenciar a oposição política e democrática e as vozes críticas da sociedade guineense na tentativa da instalação de um regime autocrático, sanguinário e intolerante".
Apesar do ocorrido, Agnelo Regala sublinha que não vai baixar os braços. "Nós não temos medo de dizer a verdade e vamos continuar a denunciar o que não serve aos interesses da Guiné-Bissau”, assevera.
“Se isso é crime, se é pecado, nós não sabemos. Só sabemos que vamos continuar na nossa linha para defender as nossas convicções e lutar para que a democracia esteja presente na Guiné-Bissau", frisou.
PR e PM devem ‘assumir responsabilidades’
O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário da Silva, que visitou Agnelo Regala na sua residência, lançou um repto ao Presidente da República (PR) e ao primeiro-ministro ()PM guineenses.
"Eu desafio o primeiro-ministro [Nuno Nabiam] e o Presidente da República [Umaro Sissoco Embaló] a assumirem as suas responsabilidades. Particularmente o primeiro-ministro, enquanto chefe do Governo, a quem cabe a responsabilidade de conduzir a política interna e externa do país, que garanta a segurança dos cidadãos. A assunção dessa responsabilidade passa necessariamente pela identificação dos autores desta e de outras práticas que já aconteceram aqui, e a sua tradução à justiça e consequente responsabilização”, disse.
O líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, que também visitou Agnelo Regala, criticou o regime guineense. "[Este ato] é padrão comportamental de um regime que pretende silenciar todas as vozes que sejam contrárias à intenção de impor-se a ditadura na Guiné-Bissau”, comentou.
A LGDH promete mobilizar várias organizações da sociedade civil para uma vigília contra a violência e perseguição, em frente à sede do partido, nesta segunda-feira (09.05), na capital guineense, para protestar e denunciar a violência na Guiné-Bissau.