Vingança desencadeia onda de ataques terroristas à Nigéria
27 de junho de 2011Há apenas duas semanas, a central de polícia na capital nigeriana Abuja foi vítima de um atentado a bomba. No domingo (26/06), o grupo terrorista Boko Haram voltou a atacar, matando mais de 25 pessoas. Desta vez, o alvo foi uma cervejaria em Maiduguri.
O grupo extremista conhecido atualmente por Boko Haram foi criado em 2002, no noroeste da Nigéria. O nome, no idioma haussa, significa, numa tradução livre, "educação moderna é pecado".
O fundador foi Mohammed Yusuf que sempre foi contra qualquer influência do ocidente na sociedade onde predomina o islamismo.
Os principais seguidores de Yusuf são homens jovens e desiludidos por não terem trabalho, mesmo com graduação superior. O jurista e comentador Solomom Dalung explicou que para participar no Boko Haram era necessário abrir mão dos certificados de ensino superior, o que demonstra – na opinião do jurista – que o grupo não é, de forma alguma, formado por ignorantes.
Com a ideologia que nega tudo que venha do ocidente ou que não seja islâmico, o Boko Haram pode ser comparado ao antigo grupo Maitatsine, criado no final dos anos 70 e início de 1980. Também eles enfrentaram conflitos com policiais e militares.
A primeira grande batalha do Boko Haram contra as forças nigerianas foi em 2009, na cidade de Maiduguri, perto da fronteira com os Camarões e o Chade.
Organizações de defesa dos direitos humanos estimam que 800 pessoas morreram neste conflito. Também o líder Yusuf perdeu a vida depois dos militares terem entregado o chefe da rede aos policiais.
Ao que tudo indica, o massacre e a aparente "execução legal" do capitão é o principal motivo para o ódio e sede de vingança.
Um ano difícil
O Boko Haram vem assumindo a responsabilidade por atentados a delegacias de polícia e igrejas há um ano.
Em Maiduguri rege o medo e a insegurança, como conta uma mulher que luta pela formação educacional de jovens meninas: "Até mesmo quando estamos no escritório não conseguimos parar de pensar no que acontece lá fora. Em qualquer lugar explode uma bomba, logo nos perguntamos se foi em nosso bairro".
Ao contar que todos vivem com medo nesta região, a mulher complementa: "e os meus filhos na escola? Os acidentes acontecem no momento em que todos correm para suas casas".
Também a minoria cristã vive com medo. A catedral foi bombardeada duas vezes no mês de junho.
Um problema político
Da mesma maneira que o presidente Goodluck Jonatha tenta o diálogo, também o recém eleito governador do estado de Borno Kashim Shettima já ofereceu negociação com estes islamistas radicais, na intenção de resolver as desavenças.
"Boko Haram é um problema político e um problema político precisa de uma solução política. Se apostarmos apenas numa estratégia militar, a conseqüência será uma luta sem fim, sem realmente um resultado", coloca Shettima.
Ele ressalta que somente é possível negociar se o regime estiver numa posição de força e não de fraqueza, de vulnerabilidade.
Autor: Thomas Mösch / Bettina Riffel
Edição: António Rocha