Violência na RDC: Críticas ao Governo na gestão do conflito
15 de novembro de 2022Há três dias consecutivos que se ouvem combates violentos à volta de Kibumba, uma cidade localizada a 23 quilómetros a norte de Goma, no leste da República Democrática do Congo (RDC). Constantin Werabe, um membro da sociedade civil, acredita que o Governo congolês ainda não ativou todas as tropas para acabar com o avanço dos rebeldes do M23.
"Hoje, vemos que Kibumba está sob ameaça, mas temos aviões de guerra, munições e até soldados. É hora do nosso Governo colocar todos os seus recursos e salvar a cidade de Goma. Ainda não entendemos como é que podemos ser independentes e o Estado soberano, mas dependemos de forças estrangeiras", questiona.
Goma, capital da província de Kivu do Norte, parece cada vez mais ameaçada pela rebelião do M23 que se dirige em direção a esta cidade no leste da RDC.
Nova ronda de negociações
Líderes africanos anunciaram no domingo uma nova ronda de negociações para estabilizar a situação na República Democrática do Congo (RDC). A Comunidade dos Estados da África Oriental, composta por sete nações, afirmou que vai promover um "diálogo de paz" a 21 de novembro, na capital do Quénia, Nairobi. O Quénia já enviou tropas para Goma como parte da força regional da Comunidade dos Estados da África Oriental.
Segundo Daddy Saleh, professor e analista político, as tropas quenianas correm o risco de andar em círculos, como acontece há décadas com a MONUSCO – a Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo.
"Devemos contar com os nossos soldados congoleses. Temos muitos filhos nossos que são capazes disso. Contar com tropas estrangeiras já é uma fraqueza, porque já temos mais de 50 países que têm tropas na RDC e o Quénia já lá esteve. Isso não mudou nada até agora. Portanto, não acredito nisso, mas esperemos que produza algum resultado. Portanto, devíamos ser capazes de organizar o nosso exército", defende.
Envolvimento do Ruanda no conflito
O ressurgimento do M23 prejudicou as relações entre a RDC e o seu vizinho Ruanda, que Kinshasa acusa de apoiar a milícia. Apesar de Kigali negar as acusações, um relatório confidencial das Nações Unidas que veio a público no verão aponta para um envolvimento de Ruanda nas ações do M23.
As iniciativas diplomáticas multiplicam-se na tentativa de resolver o conflito.
O Presidente de Angola, João Lourenço, que preside à Conferência Internacional das Regiões dos Grandes Lagos, encontrou-se na sexta-feira passada (11.11) com o homólogo ruandês, Paul Kagamé, e, no sábado, com o chefe de Estado congolês, Félix Tshisekedi.
Segundo a ONU, os recentes combates provocaram cerca de 188.000 deslocados.
Há exatamente 10 anos, em novembro-dezembro de 2012, os rebeldes do M23 ocuparam Goma durante 10 dias, antes de serem derrotados no ano seguinte pelo exército congolês e pelas forças da paz.