Vítimas mortais em novos confrontos em Moçambique
17 de junho de 2013Tudo começou quando os homens armados assaltaram o paiol do Governo. "Estava no Hospital Central da Beira, vi 5 mortos, mas, pelas últimas informações, um sexto elemento morreu, há um desaparecido e um ferido", relata Jorge Batalhão, jornalista da televisão Miramar.
A população, em pânico, foge em debandada agora do posto administrativo de Savane, no distrito do Dondo, a cerca de 80 km da Beira, a segunda maior cidade do país. Ainda de acordo com o relato de Jorge Batalhão, os confrontos começaram na última noite, quando cerca de 100 homens tentaram tomar de assalto o paiol das Forças Armadas de Moçambique. Os homens armados terão conseguido levar parte do material bélico do paiol.
Relativamente a uma informação oficial, o comandante da polícia na província de Sofala, Joaquim Nido, disse que estão "a trabalhar no caso" e que "as informações serão dadas pelo comando policial de Maputo".
"Desfecho natural", diz analista político
Embora a RENAMO, o maior partido da oposição, não tenha assumido a autoria do ataque, no terreno alguns atribuem-lhe a responsabilidade. O confronto acontece numa altura em que o Governo e a RENAMO estão estagnados nas suas sucessivas negociações.
O maior partido da oposição exige, entre outras coisas, o cumprimento na íntegra do Acordo geral de paz de 1992, que pôs fim a uma guerra civil de 16 anos, e paridade na composição da Comissão Nacional de Eleições. Mas o Governo rejeita as exigências da RENAMO.
Que significado tem o último confronto no contexto do impasse das negociações? O analista político Silvério Ronguane responde, afirmando que este "é um desfecho natural, a RENAMO tem tentado por via negocial alcançar o seus objetivos, mas há uma prepotência do lado do Governo".
"Não havendo abertura, o que é que os grupos sociais podem fazer?", questiona o analista, afirmando que "a situação esperada numa situação dessas é naturalmente um conflito".
Conflito já tem consequências económicas
O historial de confrontos entre as duas partes recomeçou em abril último, quando a polícia deteve membros da RENAMO e os seus bens. Como resposta, o maior partido da oposição atacou o quartel para os libertar. Na altura, 5 pessoas morreram e outras 13 ficaram feridas. E de lá até hoje estas situações repetem-se com frequência.
Em resultado dos confrontos desta segunda-feira, a linha de Sena, vital para o escoamento de carvão mineral das empresas mineiras Vale e Rio Tinto que operam na província de Tete, foi fechada. Se estas empresas já se queixam devido à falta de infraestruturas para o escoamento do carvão, agora são afectadas por factores políticos. Silvério Ronguane classifica a questão como "trágica e lamentável", afirmando, no entanto, que "se entrarmos numa lógica da confrontação, isso significa que haverá a sabotagem da atividade económica".
"O que deve acontecer rapidamente é as partes perceberem que é urgente resolver a situação, a paralisação do país."