Zambézia: Material distribuído a vítimas do Idai não chega
28 de abril de 2019Na província moçambicana da Zambézia, a falta de material para a construção de casas próprias para as vítimas do ciclone Idai está a gerar tumultos. Tem havido problemas nos centros de acomodação em Nicoadala e em Namacurra, onde estão a ser distribuídos terrenos para habitação das famílias deslocadas. As autoridades dizem que fazem os possíveis, mas não conseguem satisfazer a todos.
"O material de abrigo é constituído por duas lonas, um 'kit' que contém cordas, enxadas, catanas, arames recozidos e outras ferramentas que possam ajudar os afetados a iniciar o processo de construção. Neste momento, estamos a precisar de muito apoio em lonas", afirmou Milton Barbosa, chefe da logística do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) na província.
A Zambézia, na região centro de Moçambique, é uma das quatro províncias afetadas pela passagem do ciclone Idai a 14 de março.
Falta quase tudo
De acordo com o responsável do INGC, no mínimo, são necessárias com urgência 5.000 lonas para as famílias afetadas que estão sem abrigo. Segundo as autoridades, já foram atribuídos perto de mil terrenos a 2.500 famílias que se encontram nos centros de acomodação nos distritos de Nicoadala, Namacurra e Maganja da Costa, na província de Zambézia.
O problema é que não há material suficiente para os desalojados construírem as suas casas nos lugares estabelecidos pelo Governo. E não é só o material de construção que não chega para todos. Também há relatos de falta de comida e de utensílios domésticos.
"Estamos a sofrer, as pessoas que não sofrem são as que estão a engordar. Veio uma brigada que estava a distribuir material. Estamos a perder muitas coisas. Pessoalmente, não recebi manta, enxada, panelas também não temos. Isso é um problema para nós que viemos para aqui pelo sofrimento e não por vontade," descreve uma das vítimas.
10 pessoas dormem numa tenda
Entretanto, alguns realojados já pensam em abandonar os centros de acomodação e voltar às zonas de origem, devido à disparidade na distribuição de donativos.
"Estamos a dormir 10 pessoas numa tenda, com crianças e maridos no mesmo sítio. Temos crianças e estamos a sofrer aqui. Recebemos milho só ontem, pessoas dormem sem comer, estamos a chorar. Se quiser, que nos digam para continuarmos nas nossas zonas. Temos que sair daqui porque não há meios para sobrevivemos," relata uma mãe, que se encontra no centro de acomodação com a família.
"A vida é assim aos empurrões. Estamos aqui há dois meses e ainda não temos nada. Estamos desamparados. Sobre alimentação, mais ou menos o que eles conseguem dão-nos, não há maldade," conta outra vítima.
Milton Barbosa, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as reivindicações são normais.
"Nós, como INGC, temos estado a envolver todos. É claro que, na comunidade, os produtos, da forma como vão sendo geridos, não chegam a ser da mesma maneira. Há uns que consomem mais e outros consomem menos num determinado tempo," diz Barbosa.