Zimbabueanos divididos no primeiro dia de luto por Mugabe
7 de setembro de 2019Zimbabueanos iniciaram o primeiro dia de luto nacional ao seu ex-líder, Robert Mugabe, neste sábado (07.09) divididos sobre o legado do herói da guerrilha que se tornou o déspota que governou o país por 37 anos. Bandeiras podiam ser vistas erguidas apenas a meio mastro na capital, Harare, enquanto no comércio as lojas permaneceram abertas e as pessoas continuavam suas tarefas diárias normalmente.
O Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, declarou o seu antecessor, Robert Mugabe, que morreu nesta sexta-feira (06.09), como "herói nacional" - o maior reconhecimento a título póstumo no país da África Austral. Num anúncio feito ao país, Mnangagwa referiu que o Zimbabué irá cumprir um período de luto até ao funeral de Mugabe, sem especificar quando decorrerá.
Em Harare, poucos apoiadores de Mugabe podiam ser vistos nas ruas, mas vestiam roupas com o emblema do ex-líder, em homenagem a sua morte. "É claro que ele falhou em alguns aspetos, mas no lado da educação ele se saiu muito bem. Nunca conseguiremos outro Presidente como Mugabe", disse Vivian Jena, uma apoiante.
Se alguns zimbabueanos saudaram Mugabe como um "ícone revolucionário", para outros o seu nome evocou apenas "destruição" e "sofrimento". "Ele destruiu este país. Agora ele se foi e não temos mais nada no país por causa dele ", disse Ozias Mupeti, de 55 anos.
"Não estamos de luto, por que deveríamos estar de luto se já estamos a sofrer?", acrescentou Mupeti. "Veja a minha situação, a vender pedaços de gengibre nas ruas. Com a minha idade, eu deveria ser um empregador", desabafou.
Líder controverso
Sua liderança considerada cada vez mais tirânica e a má administração económica levaram milhões a deixar o Zimbabué. Ao longo de 37 anos no poder, Mugabe liderou uma "repressão brutal dos opositores políticos e estabeleceu uma cultura de impunidade de si e dos seus apoiantes, enquanto o seu Governo implementava uma série de políticas com consequências desastrosas", notou a organização Amnistia Internacional (AI).
"Ao mesmo tempo que se intitulava salvador do Zimbabué, Robert Mugabe infligiu danos profundos ao seu povo e à sua reputação", afirmou Muleya Mwananyanda, vice-diretor regional da AI para o Sul de África.
A ONG de defesa dos direitos humanos apela ao julgamento dos suspeitos do vasto número de crimes cometidos pelos apoiantes de Mugabe e pelos serviços de segurança do seu regime ao longo do seu exercício e até agora impunes.
Robert Mugabe morreu aos 95 anos, rodeado pela sua família e pela sua mulher, Grace, em Singapura, onde recebia cuidados médicos, sendo que o seu corpo continua no país asiático. O ex-Presidente do Zimbabué estava a receber tratamento médico na cidade asiática há cinco meses.
O atual chefe de Estado zimbabueano agradeceu a Singapura pela "sua hospitalidade e pelos cuidados médicos ímpares" que Mugabe recebeu. Emmerson Mnangagwa, antigo número dois de Mugabe, considerou que o antigo chefe de Estado zimbabueano foi "um grande professor e mentor" e "um estadista assinalável".
Condolências desde Moçambique
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também dirigiu nesta sexta-feira ao homólogo do Zimbabué uma mensagem de condolências pela morte de Robert Mugabe, ex-Presidente daquele país.
"Fiquei profundamente entristecido com a notícia", lê-se na nota enviada por Nyusi a Emmerson Mnangagwa.
A mensagem divulgada pela Presidência da República moçambicana termina com "sentidas condolências" em nome do povo e Governo de Moçambique, país lusófono cuja capital guarda na toponímia um lugar especial para o antigo chefe de Estado.
A Praça Robert Mugabe fica situada no extremo nascente da avenida 25 de setembro, eixo principal da baixa de Maputo.
O ex-Presidente do Zimbabué esteve em Moçambique em 2015, por ocasião da celebração dos 40 anos da independência face a Portugal.
Na altura, Mugabe referiu que "a independência de Moçambique edificou um caminho com que se escreveu a história revolucionária de outros países da África Austral".
"Passámos a ter uma plataforma de lançamento da luta pela liberdade do Zimbabué, Namíbia e África do Sul", acrescentou.
Robert Mugabe será enterrado em um santuário no topo da colina reservado exclusivamente para a elite dominante do Zimbabué, disse uma autoridade neste sábado (07.09). Nenhuma data para o funeral foi marcada e não está claro quando acontecerá.