Zimbabué sob o controlo do Exército?
15 de novembro de 2017O Exército do Zimbabué desmentiu na madrugada desta quarta-feira (15.11) que esteja em curso um golpe de Estado militar, garantindo que o Presidente, Robert Mugabe, se encontra em segurança, depois de uma noite de agitação na capital, com soldados armados e veículos militares nas ruas da capital e o registo de pelo menos três explosões.
Embora os generais neguem estar a levar a cabo um golpe de Estado, tomaram o controlo da televisão estatal para se dirigirem à nação. Na mensagem, um porta-voz do Exército afirmou que os alvos são os "criminosos” em torno de Mugabe, numa altura em que os militares procuram garantir que a ordem seja restabelecida no país.
Soldados do Exército do Zimbabué bloqueiam o acesso a edifícios do Governo na capital, Harare, como o Mwenemutapa, onde se situa o gabinete do Presidente Robert Mugabe, o Parlamento e o Supremo Tribunal, afirmou nesta quarta-feira a emissora de televisão sul-africana "News24". Além disso, as informações apontam para uma forte presença militar na estrada que leva à residência rural de Mugabe, no distrito de Zvimba.
O canal também mostra vídeos onde aparecem soldados controlando o acesso ao aeroporto internacional da capital, recentemente renomeado como Robert Mugabe, onde os voos seguem operando com relativa normalidade. Esta manhã, o mesmo comunicado lido televisão pública durante a noite era repetido a cada 20 minutos nas emissoras de rádio nacional, que também reproduzem canções datadas da guerra da independência, afirmou a "News24". As movimentações militares levantam suspeitas de um golpe de Estado, mas os apoiantes do Exército saúdam os últimos desenvolvimentos como "uma correção sem sangue”.
Oposição "segura” do controlo do Exército
O secretário-geral do partido da oposição no Zimbabué, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC-T), Douglas Mwonzora, afirmou hoje que perante a tensão vivida no país estão "seguros de que o exército está em processo de tomar o comando".
Numa entrevista telefónica a partir do Zimbabué com o canal sul-africano ANN7, Mwonzora reiterou: "Esta é a definição padrão de um golpe de Estado. Se isto não é um golpe, o que será?". Mwonzora acrescentou que o partido governante, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF) "estão em fase de negação, mas que já não têm o controlo".
A propósito da mensagem que o porta-voz do exército leu na televisão nacional esta noite, em que descartou que estivesse a ocorrer um "golpe militar", Mwonzora considerou que "é um comunicado normal quando os militares intervêm".
"Há muito ressentimento contra (o Presidente) Robert Mugabe e a sua esposa (Grace)", sublinhou o político da oposição, que pediu aos cidadãos que "tenham cuidado", já que a "situação é anormal". Embora o secretário-geral do MDC-T tenha dito que "é a hora de salvar o país", também afirmou que "não será permitido um derramamento de sangue".
O mesmo canal de televisão contactou um porta-voz do ZANU-PF, Kennedy Mandaza, que se encontrava na África do Sul, e que apenas disse que "está a seguir de perto o desenvolvimento da situação no Zimbabué".
A conversa telefónica com Mandaza caiu após ser questionado pelo paradeiro do Presidente Mugabe, que segundo o canal sul-africano SABC, poderá encontrar-se sob prisão domiciliária.
Na rede social Twitter, o ZANU-PF reiterou a posição oficial do Exército, de que não se trata de um golpe. A conta do Twitter também alega que o vice-Presidente Emmerson Mnangagwa, demitido na semana passada, foi nomeado o líder interino do partido. Ainda não é claro quem é que está a usar a conta do Twitter para divulgar estas informações.
"O silêncio do Governo sobre as movimentações militares parece confirmar que o Presidente Mugabe perdeu o controlo da situação”, considera Robert Besseling, da consultora de risco EXX Africa, em Londres. "O maior indicador de violência generalizada seria a reação da Guarda Presidencial, que se mantém leal ao Presidente Mugabe”, acrescenta.
Troca de acusações
A tensão no Zimbabué começou a aumentar na tarde de terça-feira, depois de vários tanques terem sido vistos em direção a Harare, um dia depois de o chefe das forças armadas do país, o general Constantino Chiwenga, ter condenado a demissão do vice-Presidente do país, e advertido de que seriam tomadas "medidas corretivas" se se mantivesse a purga de veteranos no partido de Mugabe (de 93 anos e no poder desde a independência do Zimbabué, em 1980).
O ZANU-PF disse que as palavras de Chiwenga sugeriam uma "conduta de traição" destinada a "incitar à insurreição e ao desafio violento da ordem constitucional".
A atual crise no Zimbabué surge após a destituição, na semana passada, do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, que era apontado como sucessor de Mugabe, tal como a primeira-dama Grace Mugabe.
Mnangagwa há muito considerado o delfim do Presidente, foi humilhado e demitido das suas funções e fugiu do país após um braço-de-ferro com a primeira-dama, Grace Mugabe.
Figura controversa conhecida pelos seus ataques de cólera e dirigente do braço feminino do partido do marido, Grace Mugabe, de 52 anos, tem muitos opositores tanto no partido como no Governo.
Com este afastamento, fica na posição ideal para suceder ao marido, que, apesar da idade avançada e da saúde frágil, foi nomeado pela Zanu-PF como candidato às eleições presidenciais de 2018.